sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Toque de recolher em Portão: medo se instala depois de chacina no bairro:

Ruas do bairro ficaram desertas e o comércio fechou as portas; escolas mandaram mães buscar filhos

As ruas estavam desertas, as lojas fechadas e as escolas e creches mandaram as crianças para casa mais cedo. Essa foi a rotina ontem dos moradores de Portão, em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. 
Segundo moradores, também no final da noite de ontem, bandidos armados dispararam vários tiros em direção à 34ª Delegacia. Houve corre corre, mas ninguém ficou ferido.
A população está assustada com um toque de recolher instalado na região, após a chacina que deixou quatro pessoas mortas no último domingo. “A diretora da escola me ligou às 13h para que eu fosse buscar minha filha, por causa do toque de recolher”, disse uma moradora que não quis se identificar.
Além das escolas e creches, o comércio também começou a ser fechado depois do meio-dia. As ruas ficaram quase desertas  à tarde e os moradores evitaram até sentar na porta de casa. “Minha irmã ligou pra mim por volta das 14h pra que eu voltasse pra casa por causa do toque de recolher.
Eu trabalho em Vilas (do Atlântico) e tive que pedir à patroa que me liberasse mais cedo por causa disso”, afirmou uma empregada doméstica, que também não quis se identificar.
Entre os moradores correm duas versões do toque de recolher. Uma de que a ordem teria sido dada pelos bandidos, e outra de que o alerta teria partido de policiais.
Porém, o coronel Everaldo Mendes, comandante da PM na Região Metropolitana, nega o toque de recolher.
“De jeito nenhum há toque de recolher em Portão. A população está assustada, com medo. É a mesma situação que tivemos em Abrantes, quando, por causa do medo, a população também afirmou que havia toque de recolher”, assegurou.
Casas e comércios fechados, escolas vazias; rotina em Portão mudou após chacina
Ele afirmou que seis carros da PM estão fazendo a ronda no bairro, que conta com reforço de policiais da Rondesp. “Estamos fazendo tudo para dar tranquilidade e segurança para a população”, completa.
A empregada doméstica que não quis ser identificada afirma que desde domingo os moradores estão apreensivos e se trancando em casa, com medo de que outra chacina volte a acontecer. “Você sabe, não é? Parede não protege ninguém. Só Deus”, reflete.
Chacina
A chacina de domingo passado deixou quatro mortos: a estudante de 14 anos, Tainara Conceição Santos, a autônoma e vizinha da estudante Jandira dos Santos, 43, o jovem Natan Lima da Silva, 20 anos, e Abraão Felipe Ramos Marques, 15.

Todos morreram depois que cerca de 30 homens chegaram atirando a esmo na praça do Pé Preto, segundo moradores. Dos quatro mortos, o corpo do jovem Abraão só foi encontrado três dias após o crime, no quintal de uma casa do bairro.
Ontem, uma operação das polícias Civil e Militar foi realizada em Portão. Mas, segundo o coronel Evandro Mendes, ninguém foi preso e nada foi apreendido. Na terça-feira, o delegado Cláudio Meirelles, titular da 34ª Delegacia, disse que os autores do crime já foram identificados, mas tiveram os nomes preservados.
Segundo moradores, os homens que chegaram atirando são traficantes da rua Queira Deus. Ricardo Silva dos Santos, o Babão, é apontado como líder do grupo.

Corpo de jovem é  sepultado - O corpo de Abraão Felipe Ramos Marques, 15 anos, foi sepultado, ontem à tarde, no Cemitério Municipal de Brotas. Inconsolável, a mãe do rapaz não falou com a imprensa e precisou ser amparada por parentes e amigos. “Era um menino muito bom, não merecia isso”, afirmou uma amiga da família que não se identificou.
Depois da matança de domingo na praça do Pé Preto, ela procurou pelo filho durante três dias em vários hospitais e no IML, antes de encontrá-lo morto em pleno Dia das Crianças no quintal de uma casa. Ele foi atingido por disparos na chacina.
A polícia acredita que o adolescente tentou pular um muro para escapar dos tiros, mas acabou baleado e caiu  no quintal de uma casa. O jovem e a  família haviam  se mudado para Portão há cerca de um mês, para fugir da violência na Fazenda Grande do Retiro.  (correio)

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