No topo da lista, os Bombeiros. No final, os políticos. Esse foi o resultado da pesquisa do Instituto Futura realizada em Salvador/Ba, em parceiria com o CORREIO, que mediu a confiança do morador soteropolitano em 14 profissões.
Entre as pessoas entrevistadas, 70,4% disseram confiar ou confiar muito nos bombeiros. Em segundo lugar ficaram os professores, com 65,9% da confiança, e em terceiro os carteiros, com 60,9%. Apenas 7,7% das pessoas ouvidas disseram confiar nos políticos. Empresários (23,8%) e líderes religiosos, como padres e pastores (27,3%), também não gozam de uma credibilidade muito boa com a maioria dos soteropolitanos.
Entre os dias 02 e 06 de Agosto, o Futura ouviu 601 pessoas com mais de 18 anos, de ambos os sexos, todas as classes sociais, diferentes graus de escolaridade e moradoras de diversos bairros.
“ Isso não chega a ser uma surpresa. Quando a gente chega nas ocorrências, sentimos a confiança que as pessoas têm na gente ”, diz, sem falsa modéstia, o sargento Anatálio, bombeiro há 27 anos trabalhando no batalhão do Iguatemi.
Em todo esse tempo de corporação, algumas situações ficaram na memória, como um desabamento em Arraial do Retiro, em 1997. “Foi uma época de muita chuva. Teve um deslizamento de terra e cerca de 15 a 20 imóveis desabaram de vez. Todo o nosso efetivo teve que ser deslocado pra lá, uns 220 homens, muitos estavam de folga ou de férias, mas não reclamaram de ter que ir trabalhar”, lembra. O saldo do desabamento foi de três mortos e muitos feridos, mas, não fossem os bombeiros, seria bem pior. “ Todas as casas que caíram tinham gente dentro. Conseguimos retirar todo mundo e ainda salvar a maioria de seus pertences. Quando acabou, muitos bombeiros não queriam ir embora, queriam continuar ali, ajudando aquelas pessoas ”, recorda, emocionado.
Sabe o que jornalistas, advogados e engenheiros têm em comum? “ Todos eles precisaram de professores para se formar ”, diz, em causa própria, o professor de Química e coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui Oliveira. A esse fato que ele atribui a vice-liderança da profissão no ranking de confiabilidade da pesquisa. Dos entrevistados, 65,9% disseram confiar ou confiar muito nos professores.
“ Todo mundo lembra de algum professor que teve na vida. E é muito gratificante quando você encontra um ex-aluno na rua e ele te reconhece ”, conta Oliveira. Por essas e outras, o docente com 25 anos de profissão diz que, apesar dos baixos salários e condições de trabalhos muitas vezes difíceis, não se arrepende da escolha que fez. “ Apesar de todo o sofrimento, se eu morrer e tiver que voltar um dia, serei professor novamente ”, planeja.
De acordo com a pesquisa, os mais velhos confiam mais nesses profissionais: 74,1% do maiores de 60 anos atribuem a eles um alto grau de credibilidade. Os homens (72,4%) confiam mais que as mulheres (60,5) e a classe C (73,3%) mais que as classes A/B (68,2%) e D/E (63,3%).
Enquanto isso, dos 601 entrevistados, só três (isso mesmo: 3) disseram confiar muito nos políticos (0,5%). “ É óbvio ”, você deve estar pensando. Afinal, todo político é ladrão, não é mesmo? Provavelmente você acha que mensalão, dólar na cueca e desvio de verbas é coisa de gente da pior espécie, certo? Então responda sinceramente: você já falsificou carteira de estudante para pagar meia-entrada no cinema? Já furou fila? Já pediu àquele parente médico para te arrumar um atestado só porque você estava com preguiça de ir trabalhar? Já usou o celular corporativo pra fazer ligações pessoais?
A lista é imensa e quem nos convida a essa reflexão é a professora de Ciência Política da Ufba Ana Alice Costa. “A escala é diferente, mas o princípio é o mesmo: se dar bem de forma desonesta. A gente acha que só o político é corrupto, mas não pensa nessas pequenas coisas do cotidiano. A política é uma representação da sociedade”, alerta. Ela lembra ainda que, apesar de não confiarmos em nossos políticos, eles não brotaram do nada no Congresso, na Assembleia, na Câmara de Vereadores.
“ Todos os partidos lançam gente séria, mas as pessoas preferem votar nos outros. Ou porque a pessoa é famosa e passa na televisão, ou porque ganharam camisa, cesta básica... ”, critica ela, que não acha que todos os políticos sejam desonestos. “ Está havendo descrédito com o mundo político hoje. Política não deveria nem ser vista como profissão, mas como representação dos interesses da sociedade ”, finaliza.
Não foi divulgado a percentagem da opinião dos entrevistados com relação as polícias.
Fonte: Fato Concreto
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