segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Salvador - Mesmo preso, traficante Besouro chefia tráfico em Fazenda Coutos:

/ Crédito: Arquivo Correio

Preso na UED, Besouro tem força no bairro, mesmo após base da PM

Foto: Reprodução

Besouro passa ordens para a namorada, diz polícia
Implacável, Edison da Silva Pereira, o Besouro, comanda o tráfico em Fazenda Coutos com mãos de ferro, mesmo estando preso na Especial Disciplinar (UED), no Complexo Penitenciário da Mata Escura.
Há cerca de cinco anos, o traficante virou um dos homens mais temidos do Subúrbio Ferroviário de Salvador. Mas, desde o dia 16, quando foi inaugurada uma Base Comunitária de Segurança (BCS) no bairro, o poder de Besouro vem dimuindo.
A fama que o criminoso adquiriu se deu pela frieza na execução dos rivais. Os inimigos eram emboscados, assassinados com tiros na cabeça e, em seguida, tinham alguma parte do corpo mutilada e exposta em locais públicos. 


Na comunidade, Besouro adotou inicialmente uma postura assistencialista, mas depois passou a ser impiedoso com bandidos que o contrariassem.
Trajetória 

De ‘soldado’ a chefe do tráfico. De acordo com a polícia, Besouro fez carreira na criminalidade após a morte de Carlos Oliveira Batista, o Passarinho, que comandava a venda de drogas em Fazenda Coutos e na comunidade do Bate Coração, em Paripe, bairro vizinho.

Passarinho foi assassinado por Peco, que tentou se impor nas duas áreas que, cheias de ruas estreitas, dificultavam o acesso da polícia.
Mas Peco foi morto pela polícia e, com os dois principais pontos do tráfico do Subúrbio sem um cabeça, os confrontos entre bandidos eram muito sangrentos. Em Fazenda Coutos, Besouro foi aos poucos convencendo os demais a adotarem suas estratégias, que dificilmente falhavam.
Articulador, conquistou o prestígio da maioria. Mas o fator determinante para sua ascensão no bando foi a facilidade de administrar a contabilidade dos negócios que, segundo a polícia, aumentou o lucro do bando com a venda de drogas. Enquanto isso, quem assumiu a liderança no Bate Coração foi Pingo, um jovem parente de Passarinho. Daí aos dois se tornarem rivais não demorou.
Moradores contam que, no início, Besouro emprestava ou dava dinheiro a quem o requisitasse, distribuía remédios e cestas básicas. Mas, aos poucos, foi deixando de lado a postura assistencialista e passou a ser mais violento e autoritário, até coagindo a população.

Mesmo preso, traficante Besouro chefia tráfico em Fazenda Coutos

Rivalidade

Ele determinou a execução e o esquartejamento de vários inimigos, a maioria deles do bando de Pingo. A briga entre os dois chefes do tráfico gerou muitas mortes, de acordo com a polícia.

Os confrontos resultavam em emboscadas, algumas delas realizadas fora dos perímetros das comunidades. Há casos de famílias que perderam muitos membros devido ao conflito entre os bandos de Besouro e Pingo.
“Temos conhecimento que Besouro e seu grupo são responsáveis por grande parte dos homicídios registrados em Fazenda Coutos e adjacências”, declara o delegado Antônio Carlos Magalhães Santos, titular da 5ª Delegacia (Periperi).      

Ao contrário de muitos líderes do tráfico, Besouro assumia o comando do grupo em algumas ocasiões em que pretendia atacar bandos rivais. Quando não ia para o confronto, colocava à frente do grupo Robson Santos de Jesus, o Castiga, que também está preso.

Depois de matar os oponentes, Besouro costumava mutilar as vítimas. Orelhas e órgãos sexuais viravam exemplos de sua crueldade para outros bandidos. Os órgãos eram sempre deixados em um matagal próximo a um campo de futebol. 

Com baixas também em seu bando, Besouro resolveu se aliar a bandidos de pequenas localidades e com poder, como Bam Bam, da Teotônio Vilela, e Bruno Índio, da comunidade do Lava Pés.

Segundo a polícia, contra Besouro pesam diversas acusações de homicídio. Ele foi preso em 2010, durante uma operação dos agentes da 5ª DP,  mas ficou pouco tempo na cadeia da unidade policial.
Como existia a possibilidade de que seus comparsas planejassem uma fuga, a ficha dele foi encaminhada à Justiça que, diante das acusações, decidiu encaminhá-lo à UED, onde deveria estar isolado da quadrilha.
Namorada

As denúncias da Superintendência de Inteligência da Secretaria da Segurança Pública (SSP)  sobre as ações do bando de Besouro são várias, inclusive de como ele se articula dentro da UED.

Uma fonte do órgão informou que Besouro passa todas as orientações sobre quem deve “subir” – morrer na linguagem do tráfico - e sobre compra e venda de drogas para a namorada, que habitualmente vai visitá-lo.
A partir da movimentação dela, foi feito  o mapeamento da quadrilha.   

As ordens de Besouro eram repassadas pela jovem a Castiga quando esse ainda estava solto. Com a prisão dele, a namorada do traficante assumiu o comando do bando. “A gente sempre ouviu falar no nome dela, mas nunca conseguimos prendê-la”, relata um agente da 5ª DP. 

O bando conta com bandidos identificados como Papo, Barão, Santo, Mão, Ricardo, Binho Calabresa, Leandro e Dando. No início de 2011, os oitos foram presos por policiais da 5ª DP, mas a maioria já está solta por força de uma decisão judicial.
Entre os pontos usados pelo bando de Besouro para vender drogas no Subúrbio, a polícia aponta o da Rua 28, em Fazenda Coutos, como o que tinha mais movimento antes da instalação da Base Comunitária. Ainda segundo a polícia, homens com escopetas e pistolas circulavam tranquilamente pela via a qualquer hora até o dia 16. Agora, com a presença policial, o cenário está diferente.
Maior ponto de tráfico está dominado pela polícia

Manhã, tarde, noite. Não havia horário para o tráfico na Rua 28. Sob o comando de Besouro, seus “soldados” transformavam o local num centro comercial de entorpecentes. Maconha, cocaína e crack, principalmente, eram encontrados aos montes. O tráfico funcionava na maioria das vezes em via pública. Para evitar a ação da polícia, os traficantes quebraram os postes de iluminação pública. A única fonte de luz constante na rua era a dos isqueiros de usuários de crack. Aos moradores, restava fingir que nada estavam vendo. Um deles, pedindo anonimato, afirma que meninas entre 12 e 15 começaram a se envolver em relacionamentos com traficantes.

A Rua 28 era a “boca” mais rentável para Besouro. Ela é uma transversal da Rua 29, local onde está a Escola Estadual Santo Antônio das Malvinas. Muitos estudantes eram consumidores ou “aviões” do esquema de venda de drogas. Outro fator que fazia da Rua 28 um ponto estratégico é a proximidade com o Bate Coração, em Paripe. “Era a rota de fuga da bandidagem quando a polícia chegava, mesmo sendo uma área da quadrilha rival”, contou um comerciante.
Segundo a polícia, é na Rua 28 que as armas do bando estão escondidas. O arsenal é distribuído nas residências de parentes dos bandidos ou de pessoas que recebem dinheiro para estocar o armamento. Algumas pessoas eram ameaçadas de morte diante da recusa.
Nesta segunda (30), no lugar de traficantes armados intimidando a população, policiais militares circulam diariamente pela rua. Em vez de jovens vendendo e comprando drogas, crianças podem brincar na porta de suas casas. Os olhos do tráfico cederam espaço para câmeras de vigilância. Dias antes da instalação da Base Comunitária em Fazenda Coutos, o que se viu na Rua 28 foi a saída de muitos traficantes. “O que a gente sabe é que a maioria dos bandidos não está mais aqui. A gente vê um ou outro, mas muito raramente e assim mesmo na dele”, completa o comerciante.
Bruno Wendel

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