Munido de infraestrutura que acumula água e dotado de espírito experimentador, o agricultor baiano Abelmanto está cada vez mais apto para enfrentar as estiagens
Na Bahia – estado mais afetado pela seca e onde se encontra metade das 12 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade – um agricultor familiar agroecológico aumentou seu rebanho de ovinos e caprinos e está produzindo mel em plena época das “vacas magras”. Chama-se Abelmanto Carneiro de Oliveira do município de Riachão do Jacuípe.
Na sua propriedade, ele dispõe de três tipos de tecnologias de armazenamento de água. A cisterna de 16 mil litros que acumula água da chuva para beber, cozinhar e escovar os dentes. A cisterna-calçadão de 52 mil litros para produzir alimentos e matar a sede de animais. E a barragem subterrânea, que barra a água que infiltra mantendo o solo úmido por um período mais longo, permitindo o cultivo mesmo quando as chuvas deixaram de molhar a terra há algum tempo.
Na área da barragem subterrânea, Abelmanto ainda está colhendo mandioca, para reforçar a alimentação dos animais, e macaxeira para a dieta familiar. A última vez que caiu água do céu foi há cinco meses e apenas uma garoa que acumulou 25 milímetros de água. No mês anterior, choveu um pouco mais: 35 mm. O volume total de 70 mm foi toda a chuva registrada no ano passado na região em que Abelmanto mora. Em 2010, pelos seus cálculos, choveu 142 mm, quando a média pluviométrica é em torno de 590 mm.
Além da mandioca e da macaxeira, ele plantou também, na área de influência da barragem subterrânea, culturas que servem de forragem para os animais: capim de corte, sorgo forrageiro, girassol, mandioca, etc. Em alguns meses de 2011, o agricultor conseguiu estocar uma tonelada e meia de feno.
Atualmente, restam 472 kg da forragem armazenada que, pela sua projeção, dura mais três ou quatro meses, caso seja oferecida junto à palma forrageira e ao mandacaru. Ele explica que o feno garante a fibra na dieta animal, o que evita problemas de infecção intestinal comum no rebanho que só ingere palma e mandacaru, alimentação bastante oferecidas aos animais em tempos de seca.
Abel tem 54 caprinos e ovinos, destes 14 foram adquiridos após a seca se instalar. E a ração que armazenou desde o último inverno (maio-junho) nutre bem o rebanho, cujas cabras têm produzido sete litros de leite por dia. “Quem vem me visitar se admira com o que vê. O comum é as pessoas se desfazerem dos seus rebanhos porque falta água e alimento”, diz ele. De fato, um importante indicador de impacto da seca é a quantidade de animais abatidos pela inviabilidade de mantê-los com vida.
“A gente se sente mais seguro, mais tranquilo, porque a seca não é um problema, é um desafio. Se a gente vê como um problema, se acomoda. Se é um desafio, nós podemos também desafiá-la”, assegura o agricultor agroecológico, que ainda tem cedido a água acumulada na cisterna-calçadão para cinco famílias vizinhas.
Um dos desafios trazidos pela seca é a manutenção do cultivo de hortaliças. As folhas e legumes são muitos suscetíveis ao calor e exigem uma boa quantidade de água para se desenvolverem. Mesmo assim, Abelmanto conseguiu produzi-las para consumo da família até o mês de março. A produção maior para vender na feira foi suspensa seis meses antes.
A restrição das folhas e legumes na dieta familiar é, sem dúvida, um impacto na qualidade nutricional da alimentação, mas a mesa da família de Abelmanto pode ainda contar com o leite de cabra e derivados, além da proteína da carne vermelha que vem da sua criação.
Sem hortaliças pra vender na feira, o agricultor calcula uma redução na renda mensal de 20 a 25%. Comparada à situação de outras tantas famílias agricultoras sem tecnologias de armazenamento de água, é uma condição bem mais amena. “A situação apertou um pouquinho, mas dá pra viver.
Perguntado qual recado daria à presidente Dilma se tivesse oportunidade, ele respondeu: “Diria a presidente Dilma deve que investisse mais na construção de tecnologias como as cisternas-calçadão e as barragens subterrâneas. Com elas (cheias), produzimos independente de chuva. O caminho que precisa ser adotado com firmeza é o das tecnologias simples que ajudam a armazenar a água da chuva”.
Fonte : Asa
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