Eduardo Martins / AG. A TARDE |
Salvador não está preparada para os mais de 600 mil deficientes físicos que vivem na cidade e representam aproximadamente 20% dos 3 milhões de habitantes da capital baiana. Diariamente, eles enfrentam dificuldades para fazer atividades cotidianas, como ir ao shopping center ou ao trabalho, e levam pelo menos uma hora e meia a mais do que o cidadão sem deficiência para concluir essas tarefas. Cadeirantes e deficientes visuais afirmam que o maior problema enfrentado no dia a dia é a falta de acessibilidade na metrópole.
George Crispiniano, de 34 anos, ficou paraplégico há 18 quando foi atingido por uma bala durante um assalto no centro da cidade. Desde então, a rotina dele ficou mais difícil. As modificações começaram dentro de casa, porém, é da porta para fora, onde as adaptações estão longe do seu alcance, que a situação fica realmente complicada. "Eu quero ir ao shopping e não posso. É problema até para subir os andares, os elevadores nem sempre estão funcionando. Quando chego às lojas, sinto dificuldade de locomoção pois são estreitas demais. Tinham que ser adaptadas", explicou o aposentado, enquanto fazia compras em um shopping center.
Mulher tem dificuldade de acessar coletivo na Estação da Lapa Foto: Raul Spinassé | Ag. A TARDE |
Ainda que a lei 5.296/04, que regulamenta a legislação da acessibilidade (10.098/00), garanta a inclusão de deficientes físicos na sociedade, os portadores se sentem excluídos. A reportagem de A TARDE percorreu vários pontos da cidade como shoppings, praças, avenidas e estações de transbordo e constatou que o direito de ir e vir, garantido pela Constituição, não é cumprido em Salvador para essa parte da população.
Calçadas esburacadas ou com paralelepípedos mal colocados podem ser encontrados em todas as vias do centro, principalmente ao redor da Praça da Piedade que, além disso, ainda possui uma rampa escorregadia. As vias com piso tátil danificados, a exemplo do que acontece na Rua General Labatut, no bairro dos Barris, funcionam como empecilho para o deficiente visual.
Em todas as estações de transbordo (Lapa, Mussurunga, Pirajá e Iguatemi), é possível verificar que ônibus coletivos possuem adaptações insuficientes e alguns veículos não possuem acesso para cadeirantes. Nenhum dos terminais possui rampas de acesso. O terminal da Lapa tem rampas próximas aos pontos de ônibus, mas estão danificadas, assim como acontece com as escadas rolantes quebradas, alvo das maiores reclamações dos portadores de necessidades especiais.
Os shoppings centers, que deveriam ser planejados para atender todo tipo público, também apresentam problemas. A TARDE encontrou um banheiro exclusivo para portadores de necessidades especiais (como indicava placa afixada na porta) trancado no shopping Center Lapa, procurou por um funcionário para abrí-la e não encontrou.
A praça de alimentação considerada apertada por quem usa cadeira de rodas, no shopping Piedade e o elevador de difícil localização no shopping Iguatemi foram alguns dos casos encontrados que comprometem a acessibilidade do pedestre com necessidade especial. O Salvador Shopping foi o único estabelecimento aprovado pelos cadeirantes. Além de rampas rolantes e elevadores de fácil acesso, a praça de alimentação é adaptada para o deficiente físico.
Em nota, a assessoria do shopping Piedade disse que "não existem problemas de acessibilidade para pessoas que apresentam deficiência física", ainda explicou que as lojas de departamento "têm elevador interno" voltado a este público.
A administração do Shopping Center Lapa informou que "Não existe possibilidade de um projeto de acessibilidade no shopping, já que ele não foi planejado para isso". Procurada, a assessoria do Shopping Iguatemi não se manifestou sobre o assunto.
Ruas inacessíveis - O desrespeito das pessoas piora a passagem do cadeirante ― principalmente na Avenida Sete de Setembro. Muitas vezes, quando consegue se locomover, o deficiente precisa andar pelo meio da rua por causa da presença de camelôs, barracas, cadeiras e carros que dominam as calçadas. Mas nenhum desses problemas se compara ao do transporte público.
Para a dona de casa Claudia dos Santos, 43 anos, todos os dias é a mesma coisa: ela enfrenta uma verdadeira maratona para levar o filho de 11 anos, que possui paralisia cerebral, até a clínica onde o menino faz fisioterapia, localizada no bairro de Sete Portas.
Claudia sai de sua residência no bairro de Sussuarana, passa pela Estação Pirajá e diz ser complicado se locomover com o filho pela cidade. "A parte onde eu moro não passa ônibus adaptado, às vezes eu passo do horário. Pego três ou quatro ônibus por dia. É um terror. Aqui (Estação Pirajá) se torna a parte mais difícil por que não tem rampa".
A mulher, assim como outras pessoas que possuem deficiência ou acompanham algum portador e necessitam utilizar a estação de transbordo, reclama que no local não existe rampa de acesso. Além disso, lixeiras e pessoas fora das filas atrapalham a passagem. Margarida Costa, 75 anos, reclama da demora do ônibus na Estação da Lapa. Ela, que foi atropelada ano passado e precisa andar de muletas, diz aguardar quase duas horas para pegar a linha Thomé de Sousa.
"Chego a pegar dois ônibus porque eu não aguento esperar. Eu tenho uma prótese no joelho e dói ficar aqui em pé, não tem nem lugar para sentar, quanto mais", relata a aposentada, que ainda diz ter uma cirurgia marcada por conta do diagnóstico de artrose. Daí precisar frequentar a estação pelo menos três vezes por semana devido às visitas médicas. "Eu só saio para médico meu filho, não dá para andar em Salvador. O que eu vou fazer nos outros lugares?", questiona.
Por Murilo Melo - A Tarde
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