Quando começou a investigar os gastos do Sindicato dos Rodoviários, Paulo Colombiano dos Santos, 53 anos, tesoureiro da entidade, desconfiou dos valores pagos à empresa de plano de saúde Mastermed e de irregularidades administrativas do sindicato.
Foto: Evandro Veiga
Operação reuniu policiais de várias delegacias
Anderson Sotero, Bruno Wendel e Rafael Rodrigues
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Quando começou a investigar os gastos do Sindicato dos Rodoviários, Paulo Colombiano dos Santos, 53 anos, tesoureiro da entidade, desconfiou dos valores pagos à empresa de plano de saúde Mastermed e de irregularidades administrativas do sindicato. Mas o que o sindicalista não previu era que a intenção de reduzir os gastos ou até cancelar o contrato fosse custar a vida dele e de sua companheira, Catarina Galindo, 53, no dia 29 de junho de 2010.
Um ano, 10 meses e 18 dias depois do casal ter sido executado em frente ao condomínio onde moravam, em Brotas, a Secretaria da Segurança Pública anunciou que o empresário Claudomiro César Ferreira Santana, oficial da reserva da Polícia Militar e proprietário da Mastermed, e seu irmão, Cássio Antônio Ferreira Santana, foram os “mandantes do crime”. Durante as investigações, muros da cidade foram pichados e chegou a ser oferecido R$ 10 mil para quem tivesse informações para chegar aos autores.
Os empresários foram presos, na manhã desta quinta (17), no condomínio Mansão Victory Tower, no Corredor da Vitória, em operação que contou com 120 policiais da Coordenação de Operações Especiais da Polícia Civil (COE) e do Batalhão de Choque da PM. O objetivo era cumprir 14 mandados de busca e apreensão e cinco mandados de prisão.
Além dos “autores intelectuais do crime”, foram presos também o ex-funcionário da Mastermed e atual chefe de segurança do Atacadão Centro Sul, Edilson Duarte de Araújo, e os ex-seguranças do Centro Sul, Wagner Luís Lopes de Souza e Adaílton Araújo de Jesus, apontado como braço-direito de Claudomiro. De acordo com a polícia, o Atacadão Centro Sul também é de propriedade dos irmãos. O trio é apontado como seguranças pessoais de Claudomiro.
Cassio, Claudomiro, Wagner, Edilson, e Adailton foram presos nesta quinta-feira
Contrato
“Colombiano procurou os proprietários da Mastermed para fazer os reajustes necessários ou até a extinção do contrato. Ele procurou Claudomiro que, apesar de não constar como proprietário, era quem administrava as empresas. Logo após essa busca para rever o contrato, ele e a esposa foram assassinados”, destacou o secretário Maurício Barbosa, durante a apresentação do resultado da operação, na tarde de ontem, na sede da Secretaria da Segurança Pública, no Centro Administrativo (CAB).
Na casa do empresário foram encontradas duas pistolas ponto 40, uma delas pode ter sido a utilizada para matar o casal por causa do calibre e será periciada, um revólver calibre 38 e uma espingarda.
Foram apreendidos ainda computadores e documentos, também encaminhados para perícia no Departamento de Polícia Técnica.
Para o secretário, apesar de Colombiano ter encontrado várias irregularidades na administração do sindicato, não resta dúvida que a descoberta dos gastos com o plano de saúde tenha motivado a execução do casal. “Acreditamos que o motivo principal tenha sido o contrato da Mastermed, mas ele também tinha descoberto outras irregularidades do sindicato”.
Porém, a polícia ainda vai investigar a relação entre as descobertas de irregularidades administrativas do sindicato com a morte de Colombiano. “Não podemos citar nomes, mas toda a atual administração do sindicato será investigada”, disse Barbosa.
Colombiano descobriu irregularidades no pagamento ao plano de saúde, segundo a polícia (Foto: Divulgação)
Taxa milionária
Segundo as investigações, foi verificado que de 2005 até 2010 o sindicato tinha pago à Mastermed R$ 106 milhões. A taxa de administração paga pelo sindicato, cujo repasse mensal era de cerca de R$ 700 mil, foi considerada alta. Nesse montante, estavam ainda inclusos R$ 35 milhões destinados para “taxas administrativas”, um valor considerado muito elevado por Colombiano. Além dos valores pagos, a polícia descobriu também, através de quebra de sigilo bancário, o crescimento do patrimônio dos donos da Mastermed.
“Pouco antes de morrer, Paulo disse que o plano de saúde era uma extorsão, que chegavam faturas de gráficas e de postos de gasolina que ele não sabia a procedência. Eu cheguei a conversar com ele para sair do sindicato, porque ele estava com medo”, disse Geraldo Galindo, presidente municipal do PCdoB e irmão de Catarina Galindo.
Execução
O trio de seguranças de Claudomiro, segundo a polícia, chegou a acompanhar a rotina de Colombiannos dois dias que antecederam ao crime. Através do depoimento de Edilson, a polícia descobriu também que o trio repassou as informações para dois motoqueiros executarem o casal. Eles ainda não foram identificados.
“Já temos suspeitos de terem efetuado os disparos. Dentro de pouco tempo vamos prender os dois. Mas podemos afirmar que os três (que foram presos) estavam presentes na cena do crime. Eles participaram diretamente da execução. Fizemos escutas telefônicas e chegamos até eles”, diz o secretário que não descarta, entretanto, que o trio possa estar mentindo.
A polícia investiga se foram os próprios ex-seguranças que efetuaram os disparos. Eles foram ouvidos no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa, mas não delataram quem os tinha contratado e nem quanto teriam recebido pelo serviço. Todos os acusados estão presos na carceragem da Polinter, nos Barris.
Diretores de sindicato são investigados
No decorrer de quase dois anos de investigação, a polícia descobriu também que as irregularidades se estendiam para diretores do Sindicato dos Rodoviários. Diante dos novos fatos, foi instaurado um segundo inquérito para apurar os desvios de recurso do sindicato, lavagem de dinheiro e peculato por parte de alguns diretores.
Houve quebra de sigilos bancário e fiscal dos suspeitos. Com a quebra de sigilo bancário, foram detectadas movimentações suspeitas por parte de alguns dos diretores. Descobriu-se, por exemplo, que foram feitos empréstimos para eles no valor de R$ 1 ,4 milhão, nos últimos quatro anos. Os empréstimos ocorreram sem o devido pagamento até o momento. Há suspeitas de irregularidades no pagamento de serviços ao sindicato relativos à gráfica e a postos de combustíveis.
“Identificamos que o dinheiro desviado no sindicato foi aplicado em imóveis, gados e estabelecimentos comerciais. Não temos nomes ainda. Essa é a nova fase da investigação”, ressaltou o secretário Maurício Barbosa. Na operação de ontem, foram apreendidos computadores do sindicato. “Nunca desconfiei e com certeza não há irregularidade (no contrato com o Mastermed)”, ratificou Manoel Machado, atual presidente do sindicato, mesmo após a operação da Polícia Civil. (correio)
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