A seca que assola a região nordestina, em especial o semiárido baiano, provoca estragos, mas traz também o componente da arte e da criatividade do sertanejo, como mostra o repente abaixo:
A seca vai ser grande aqui em nosso sertão
Do Sul ao Nordeste da Bahia e por toda região
O que agente ouve falar, faz pena se ver contar o clamor da população
de janeiro a fevereiro ninguém ouviu um trovão
as chuvas que aparecem não dá pra criar nem feijão
açudes e lagoas secaram só se ver lama e rachão
os sapos entrando nas locas pra ver se resiste ao verão
cobra verde tão entocadas com medo do jegue meter o dentão
pensando que é capim pra encher o barrigão.
O milho isolou a palha arroz não soltou pendão
mandioca secou a batata e apodreceu nesse verão
facheiro e mandacaru não dá mais pra fezer ração
a palma e a macambira que ainda era a solução
isolou e virou pra baixa acabou-se a proteção
gado e cavalo morrerendo com sede e fome sem alimentação
só tem urubu com o papo cheio voando no espaço sem reclamação
tão enjeitando a carniça que vê espalhado no chão
criança não tem mais leite adulto não tem mais pão
a cesta básica dos próprios governos não dá nem alimentar pavão
se os políticos não se manifestarem o que vai ser de nossos irmãos
só resta agora esperar por Deus só é quem pode ter compaixão
e tem poder pra mudar o tempo e de uma hora pra outra acabar a seca no sertão.
O nordestino planta o milho, mas não sabe se vai colher
Porque quando vem a seca, não tem água nem prá beber
Constrói açudes e barragens, e não vem chuva prá encher,
Fura poço artesiano, mas só começa a minar lá prá dia amanhecer.
O que acorda primeiro ainda consegue encher,
Um balde de água minada que só dá prá as crianças beber,
Quem for mais adulto vai ter que esperar,
Um carro pipa de água suja que nem os porcos querem ver.
Se viesse um tempo pra todo comando padecer,
Ganhar esse sofrimento, será que iam viver?
A esperança são os políticos, mas nada querem fazer,
Só enxergam corrupção esse é o modo de viver,
E os pobres aí sofrendo, muitos passando fome, sem ter nada prá comer.
O mundo está contaminado de gente sem compaixão,
Que só quer tudo prá si, e nada pra os seus irmãos,
Mas quando chegar a vez de ir pra eternidade,
Você perdeu a passagem e vai ficar na contra mão,
Se todos pensassem melhor e chegasse a entender
Que mundo não é só prá você,
Começava a enxergar, mas quem nasce pra apanhar nunca consegue bater.
Autor: ANTONIO JOSE DOS SANTOS (Interior Da Bahia - Foto: ilustração / Pedro Oliveira).
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