“Tradição” de fazer xixi na rua custa caro. Por mês são gastos cerca R$ 350 mil na limpeza dos pontos que são considerados sanitários a céu aberto
Angeluci Figueiredo/Arquivo CORREIO |
Houve um tempo em que a prefeitura de Salvador anunciava que, quem fosse pego fazendo xixi na rua, iria ter que bater um papo na delegacia.
Passados dois anos dos burburinhos, a única explicação que alguns dos “mijões de rua” terão que dar aos conhecidos é o que fazem nas imagens do Google Street View, regando a cidade para o mundo ver.
Sem fiscalização, mijões se aliviam sem problema em qualquer canto
Sorte que o cheiro não faz parte do avançado sistema da empresa americana Google, que disponibilizou, na terça-feira, imagens panorâmicas que servirão, entre outras possibilidades, como cartão- postal de Salvador, e flagram pessoas que aliviam as necessidades em locais públicos.
O problema é que essa “tradição” de fazer xixi na rua custa caro. Segundo a superintendente da Empresa de Limpeza Urbana do Salvador (Limpurb), Angela Maria, por mês são gastos cerca R$ 350 mil na limpeza dos pontos que são considerados sanitários a céu aberto.
Capas do CORREIO de outubro de 2010 e de ontem: nada mudou
O valor é gasto na contratação de sete caminhões-pipas, abastecidos com cerca de 10 mil litros de água e detergentes aromatizantes - que, sozinho custa R$ 10 mil ao mês ao órgão para reduzir os odores -, além da manutenção dos sanitários químicos da cidade.
“É um valor muito alto, que poderia estar sendo usado em campanhas de conscientização, nos multirões de limpeza que a Limpurb realiza nos bairros, ou na compra de papeleiras (lixeiras), que é uma necessidade fruto de um outro problema que temos: o vandalismo”, diz ela.
Entre os locais preferidos dos “mijões”, os mesmos que a prefeitura atende com o carro-pipa, estão a Praça da Sé, o Comércio, as avenidas Sete de Setembro, Carlos Gomes e trechos da Av. Joana Angélica, o Largo das Baianas e a Igreja de Santana, no Rio Vermelho, São Tomé de Paripe e a área externa da Estação da Lapa.
Promessa - O projeto de lei proposto pelo Executivo municipal que puniria quem mijasse em vias públicas, que seria enviado à Câmara de Vereadores após o Carnaval de 2010, segundo divulgou o site do Legislativo, nem chegou a atravessar a Praça Municipal.
“A ideia é essa (prender quem fizer xixi na rua). É fazer o que está sendo feito no Rio de Janeiro. Mas eu preciso de apoio do Estado e da União, porque a autoridade municipal aqui nunca foi levada muito a sério. Aqui só se respeita quem tem arma na cintura”, explicou o prefeito João Henrique, em agosto de 2010, em entrevista ao CORREIO.
Além da Limpurb, outros órgãos como a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) têm gastos com reformas em espaços e equipamentos públicos devido à acidez da urina, que chega a provocar corrosão em construções e calçamentos. A prefeitura diz já ter gasto mais de R$ 1 milhão em um ano (em 2009) para essas recuperações.
Prejuízos - No turismo, porém, as perdas são incalculáveis. “Eu não diria que a divulgação de imagens como a do Google Street View tem impacto, mas prejudica certamente. O turismo é um setor muito sensível, qualquer coisa que mostre aspectos como a falta de educação vai prejudicar”, avalia Pedro Galvão, presidente da Associação de Agentes de Viagens da Bahia (Abav-BA).
Segundo a Secom, a Guarda Municipal, durante suas rondas nas praças e vias, orienta os cidadãos a não urinarem em locais públicos.
Já a assessoria de imprensa da Guarda diz que esse procedimento não tem sido adotado pelo efetivo da GM, exceto em ações pontuais da Secretária de Serviços Públicos (Sesp). “Estou nas ruas e posso dizer, não fazemos nada em caso de ver alguém fazendo xixi na rua”, diz um guarda que prefere não ser identificado.
Rio prendeu quase 900 no Carnaval - A cidade do Rio de Janeiro utiliza o crime de ato obsceno, previsto no Art. 233 do Código Penal, para sustentar a condução às delegacias de pessoas urinando na rua. Lá, a fiscalização é feita por agentes da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop), com o apoio da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Apesar de a aplicação da lei dividir autoridades policiais e o meio jurídico - que têm diferentes interpretações em relação ao que configura o ato obsceno - quase 900 pessoas foram presas no último Carnaval.
No Rio, 360 câmeras serão instaladas no novo Maracanã para fiscalizar os mijões. A construtora responsável pela reforma do estádio garante que o concreto utilizado é à prova de xixi, que corroeu mais de 100 pilares do estádio antigo. A cidade mineira de Diamantina tem ações semelhantes. Já a cidade de Cabo Frio (RJ) tenta criar uma lei municipal para punir os mijões.
Por Alexandro Mota
alexandro.mota@redebahia.com.br
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