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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Salvador - Moradores dizem que jovens mortos em ação policial não eram ligados ao tráfico:

Alexandre da Silva, 14 anos, um dos jovens mortos na Saramandaia, era estudante da 4ª série no Colégio Estadual Marinha Tavares, em Pernambués. Já Rafael Muniz, 19, filho único, ajudava a mãe quando podia.
Foto: Evandro Veiga
Mulheres e crianças tomaram a pista e avisaram: “Ninguém passa”. As tábuas em chamas reforçaram a sentença. protesto realizado na manhã desta terça (1) na avenida ACM foi despertado pela morte de dois jovens da Saramandaia, num suposto tiroteio com policiais militares na noite anterior.
Durante a operação policial foram mortos o estudante Alexandre Oliveira da Silva, 14 anos, e o servente Rafael Muniz Barreto, 19. Segundo os manifestantes, outras duas pessoas, não identificadas, estão desaparecidas. Defendendo a inocência das vítimas, em torno de 60 pessoas bloquearam as pistas da avenida às 8h, em frente ao Detran, no sentido Rótula do Abacaxi.
Alexandre da Silva, um dos jovens mortos na Saramandaia, era estudante da 4ª série no Colégio Estadual Marinha Tavares, em Pernambués. Rafael Barreto, a outra vítima, trabalhava como auxiliar de serviços gerais em um hotel. De acordo com testemunhas, os dois estavam perto do Campo da Horta quando foram baleados. “Ele era brincalhão. Sonhava em ser jogador de futebol. Meu primo vivia da escola para casa”, disse a prima de Alexandre Emile Oliveira.
“Meio-dia dei o almoço ao meu filho. Antes, ele tava fazendo o dever. De noite, saiu para comprar pão e não voltou mais”, contou a mãe do adolescente, a dona de casa Jaciene Oliveira. A avó do garoto, dona Edelzuita Maria da Conceição, 75, estava desesperada no meio da manifestação. “O amor que eu tenho por ele me fez vir aqui. Ele era muito carinhoso, amável”.
Já Rafael, filho único, ajudava a mãe quando podia. “Quando não estava no trabalho, ele ajudava a mãe a vender amendoim na passarela do Iguatemi. Era evangélico. Não se envolvia com coisa errada”, contou a tia Cristina Barreto. “Minha irmã está passando por um sofrimento enorme”, emendou. Os corpos dos rapazes serão enterrados nesta quarta-feira (1º) no Cemitério Quinta dos Lázaros.
Ação policial - No meio do protesto, testemunhas contaram que, por volta das 21h de segunda-feira, aproximadamente 30 pessoas estavam reunidas no Campo da Horta, participando de um baba ou apenas assistindo ao jogo.

“A gente estava no campo e um cara que estava sendo perseguido entrou correndo. A polícia foi atrás atirando pra tudo que era lado. Por sorte, muita gente não foi atingida”, relatou um rapaz, pedindo anonimato.
“O que correu conseguiu se safar. Dos que morreram, um estava ao lado do campo. Os policiais mataram e saíram arrastando. Foi uma chuva de tiros, mais de 30 disparos. Depois, mandaram todo mundo que estava no campo encostar no alambrado”, descreveu o mesmo jovem.
Outro morador da Saramandaia que afirma ter visto a cena contou que os refletores do campo foram desligados e que pelo menos 40 PMs participaram da ação. “Eles entraram na comunidade a pé. Perto do campo tem uma boca de fumo e os policiais foram direto no ponto. Um deles estava encapuzado”, disse. Após a ação, restaram marcas de tiros nas paredes, cápsulas de bala e manchas de sangue no chão.
A mãe de Alexandre, a dona de casa Jaciene Conceição, 42, afirma que seu filho havia saído para comprar pão. “Ele encontrou um amigo no caminho e foi ver o jogo. Apagaram as luzes e mandaram todo mundo sair. Executaram meu filho com um tiro na barriga e outro no peito. Ele não era vagabundo, meu Deus!”, bradou.
Prima de Rafael, a estudante Tatiana Barreto, 17, afirma que o jovem também estava perto do campo. “Ele ficou na esquina. Os homens chegaram atirando e meu primo não teve nem tempo de se defender. Tinha um encapuzado no meio dos policiais. Não respeitaram criança, mãe de família, ninguém. Fizeram miséria”, disse.
Em meio à confusão na avenida, sobraram agressões verbais aos PMs. “Assassinos” e “É pago pra defender e vem matar” foram algumas das frases mais repetidas durante o protesto.
O clima ficou tão tenso que pelo menos 30 policiais militares, entre Rondesp, Esquadrão Águia, 1ª CIPM e bombeiros foram deslocados para tentar conter os manifestantes e desfazer o bloqueio da via, que só foi totalmente liberada por volta das 11h.
Defesa - Através de nota, o Departamento de Comunicação da Polícia Militar afirmou que homens da Rondesp Central e da 1ª Companhia Independente (CIPM) foram até Saramandaia na noite de segunda-feira averiguar uma denúncia de que 15 homens armados teriam imposto toque de recolher e estavam realizando uma festa com consumo de drogas.

Ainda segundo a PM, os policiais foram recebidos a tiros. “Ao revidarem, dois homens sem identificação foram atingidos e socorridos ao Hospital Roberto Santos. Com os mesmos foram encontrados três revólveres calibre 38; três cartuchos e um estojo calibre 12, marca CBC; quatro cartuchos e 16 estojos calibre 38; além de certa quantidade de maconha, crack e cocaína”, informa a nota da corporação, observando que as circunstâncias das mortes serão apuradas. 
Presente no tumulto da manhã de ontem, o major Jailson Damasceno, comandante da 1ª CIPM, também afirmou que os jovens morreram durante uma troca de tiros com policiais. “Houve uma diligência na comunidade por causa de denúncias e quando a viatura chegou foi recebida com represálias. Os dois mortos trocaram tiros com os policiais, que apreenderam armas e drogas”, garantiu.
O material apreendido não foi apresentado pela Polícia Militar, mas a assessoria de comunicação da corporação afirmou que tudo foi encaminhado para a Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes (DTE). Por telefone e sem se identificar, uma agente da unidade da Polícia Civil confirmou que as armas e drogas foram entregues ao delegado plantonista Carlos Lins. Ele não foi localizado pela reportagem. 


"Temos medo da PM" - Os moradores de Saramandaia queixam-se da forma como a polícia atua na comunidade e temem represálias após a manifestação. “Temos medo que os policiais invadam nossas casas. Aqui é favela, mora gente errada, mas também mora muita gente de família. Exigimos respeito”, disse uma moradora, pedindo sigilo de identidade.

Segundo um professor que trabalha e mora na comunidade, ações truculentas por parte da PM são “recorrentes”. “As abordagens são sempre com xingamentos e agressões físicas, quando não chegam atirando”, diz. “Esses policiais da operação no campo precisam ser identificados e apresentados. A corporação não pode camuflar”, desabafou.
De acordo com o major Jailson Damasceno, comandante da 1ª CIPM, a manifestação da manhã de ontem foi “fruto de uma determinação de traficantes”. “Acreditamos que é tudo para criar um clima de instabilidade, mas vamos continuar trabalhando para livrar a comunidade dessas influências”, afirmou. A PM informou que não há registros na Ouvidoria de denúncias relacionadas à conduta de policiais no bairro, mas que vai apurar possíveis abusos.
Protesto travou trânsito - Três horas. O tempo de espera no trânsito provocado pela manifestação de moradores de Saramandaia fez alguns condutores passarem até por cima do canteiro central da Avenida ACM, em frente ao Detran. Muitos não hesitaram em infringir as regras de trânsito para fugir do congestionamento que se estendeu até a Unijorge, na avenida Paralela.

Segundo a Transalvador, o congestionamento provocado pela  manifestação teve reflexos também nas avenidas Tancredo Neves e Juracy Magalhães. O órgão de trânsito contou com 15 agentes, 4 viaturas e 3 motos para coordenar o trânsito, após a Polícia Militar liberar a área. “Todo esse transtorno não resolve nada. Só serve para irritar quem fica preso o dia inteiro no engarrafamento”, reclamou a bancária Patrícia Cordeiro, 31.
A analista de sistemas Priscila Santana, 30, dobrou o tempo de deslocamento até o trabalho por causa do protesto. “Até 13h dava para sentir os efeitos da manifestação na orla, porque os motoristas resolveram fugir pra lá. Levei 1 hora e 15 minutos pra chegar ao trabalho num percurso que levo 35 minutos. Fiquei surpresa quando chegou no final do engarrafamento e não tinha nada. Só soube da manifestação depois”, disse.
O professor de Educação Física Adalberto Mascarenhas, 28, também ficou muito irritado com o prtesto. “Tudo tem hora e lugar certo. Por que não vão para o gabinete do governador, para o Quartel dos Aflitos? A população não pode ser prejudicada”.
 Foto Evandro Veiga // Fonte: Correio24horas // Por Leo Barsan 

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