Condenados à obsolescência após a popularização dos smartphones e a queda no preço dos serviços de telefonia móvel, os orelhões procuram um novo papel a desempenhar. Proposta em análise na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) pretende transformá-los em transmissores de wi-fi para desafogar a rede 3G ou em pontos de acesso à internet com visor, para consultar dados como mapas, endereços e telefones.
Já existem orelhões com sinal de wi-fi em testes no Rio de Janeiro. A vantagem, destaca a conselheira Emília Ribeiro, da Anatel, é que a faixa de uso do serviço não está congestionada – ao contrário do 3G. Caberia às concessionárias estabelecer uma forma de cobrança pelo uso desse serviço de telecomunicações. Também está em discussão elevar a quantidade de meios para pagamento da ligação, com o uso de cartão de crédito e moedas.
Outra proposta prevê a instalação de telas e visores nos orelhões, para que usuários possam, por exemplo, acessar catálogos de telefones e endereços ou procurar a localização de um restaurante. “Seria uma forma de aumentar a inclusão digital no país e facilitar a vida de turistas brasileiros e estrangeiros”, destacou Emília Ribeiro. O desafio, ela reconhece, é o combate ao vandalismo, que danifica boa parte dos orelhões em todo o país.
“Os orelhões estão perdendo, rapidamente, a utilidade do passado. Mas eles estão lá, nas ruas, e devem servir para novas prioridades. Trata-se de um patrimônio público que não precisa ser construído, apenas modificado”, disse o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Foi por essa razão que a Anatel decidiu ouvir a população e elaborar um estudo para tentar revitalizar o telefone público. A proposta recebeu mais de 200 contribuições, muito mais do que o órgão regulador costuma obter em audiências públicas sobre outros temas, sinal de que o assunto desperta a atenção dos usuários.
A intenção é aumentar o uso do orelhão das grandes cidades, onde existem 225 mil aparelhos, e tornar o negócio rentável às concessionárias, contou a conselheira do órgão regulador e relatora da proposta, Emília Ribeiro.
Os orelhões, porém, só lutam contra o desprestígio nos grandes centros. No interior, há locais que contam apenas com eles para que a população possa se comunicar. Nessas áreas se concentram 760 mil terminais de telefone público.
“Existem muitas áreas nas regiões Norte e Nordeste que não possuem nenhum tipo de acesso à telefonia celular”, afirmou a conselheira. Nas contas da Anatel, são 22.157 localidades em todo o país onde há aglomerados de habitantes, com conjuntos de casas e estabelecimentos comerciais permanentes.
“Nesses locais, as pessoas cuidam muito dos orelhões e, em alguns casos, até constroem cabines em volta deles para preservá-los, pois é a única forma de comunicação”, afirmou.
A conselheira lembra ainda que em 25 mil localidades com menos de 100 habitantes – onde nem sequer há orelhões, pois as concessionárias não são obrigadas a instalá-los – os recursos arrecadados com o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) deveriam ser direcionados para esse fim.
Extraído do CN // Fotos: Arquivo Ichu Notícias
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