LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
A
violência é um problema nacional muito grave. Há anos estamos fazendo a mesma
coisa para combatê-la: mais leis, endurecimento das penas, mais presídios, mais
prisões etc. Puro populismo midiático e político. Pior: o povo, em geral,
continua acreditando nisso! Deveria ser informado que com essa política errada
não conseguiremos nada de positivo tão cedo. Em todo momento o legislador edita
uma nova lei, que significa puro simbolismo (sem eficácia prática). Para
diminuir o homicídio cometido por grupo de extermínio, aumenta-se a pena. Para
evitar a milícia, nova criminalização.
Está
totalmente desacreditada a fé no encarceramento rigoroso como instrumento útil
para a solução do problema da criminalidade e da insegurança. Todos os nossos
índices de violência aumentaram com essa política (em 1980 tínhamos 11,7 mortes
para cada 100 mil pessoas, contra 27,3 em 2010).
Os
países que conseguiram uma sensível redução nas taxas de violência fizeram
muito mais que o demagogicamente recomendado pelo populismo midiático e
político. Quando criticamos o populismo penal nacional sempre se pergunta: o
que fazer? Eis um exemplo: Bogotá (Colômbia).
Em
meados de 90 Colômbia contava com os mais altos níveis de homicídio da América
Latina (80 mortes para cada 100 mil pessoas). Em pouco tempo a situação
melhorou visivelmente (26 mortes para cada 100 mil pessoas, em 2003). O que foi
feito? Um grande trabalho de repressão e de prevenção, levado a cabo, sobretudo,
por Antanas Mockus, que foi prefeito de Bogotá.
Suas
frases: “Creio que primeiro se deve combater diretamente a violência e depois
as condições de ilegalidade.” “O crime é uma enfermidade do organismo social,
por isso que qualquer enfoque que retire responsabilidades comunitárias é
maléfico”. “Uma das lutas iniciais deve
ser contra a insegurança jurídica. (...) É importante dizer não à impunidade
legal, à impunidade moral e à impunidade social”.
Referido político se valeu de
medidas clássicas, sem esquecer as inovadoras e as criativas para levar adiante
as mudanças. Conseguiu reduzir drasticamente as taxas de homicídio, criou
medidas que focaram em gerar confiança e construir cidadania. Deu vida para o
lema “um mínimo de humanidade compartida” com base no “respeito ao direito dos
demais”. Com isso convenceu a sociedade do valor das seguintes medidas:
·
“lei zenahoria”: proibia a venda de
álcool em certos horários;
·
Proibição da circulação de motos com
dois tripulantes (situação típica em assaltos);
·
Criação de um número de telefone para
prestação de assistência psicológica a maridos ciumentos, visando a evitar o
cometimento de violência de gênero;
·
Entrega voluntária de armas:
conscientização social: população com porte de arma diminui de 24% para 11%;
·
Estudos de números e estatísticas (mapas
de delitos) sem entrar em conflito com a sensação/percepção da população sobre
a violência e a insegurança;
·
Unificação e divulgação mensal
transparente dos índices de homicídio;
·
Enfoque na prevenção: criação de
comissões comunitárias, conselhos de segurança e centros de mediação de
conflitos;
·
Criação de ações de inclusão;
·
Atuação sobre fatores que ocasionavam os
homicídios (causas);
·
Bonificação da administração municipal a
taxistas com bom comportamento;
·
Se os índices de criminalidade baixavam,
o governo permitia que o bar ficasse aberto mais duas horas (comprometimento da
população);
·
O coordenador de segurança da prefeitura
permaneceu atuando por 12 anos, mesmo após o término de seu mandato.
Fontes:
http://www.lanacion.com.ar/1502757-bogota-una-receta-contra-la-violencia -
http://www.al.rs.gov.br/com/comissa.asp?id_comissao=196&id_tipocomissao=&id_comitem=not&id_materia=157795
Como
se vê, o que foi feito na Colômbia, especialmente em Bogotá, não tem nada a ver
com nossa política de endurecimento de pena, novas leis, mais rigor na
execução, mais presídios, mais polícia, mais prisões etc. Toda política
puramente repressiva tende a ser puramente simbólica e altamente inefetiva.
*LFG – Jurista e professor.
Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e
coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983),
Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Siga-me: www.professorlfg.com.br.
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