Para tentar evitar uma tragédia com 170 índios de uma aldeia guarani caiová, o Ministério Público Federal, nessa segunda-feira (29), começou uma batalha nas três esferas do Poder para reverter a liminar concedida aos fazendeiros pela Justiça Federal em Naviraí, no Mato Grosso do Sul.
Os índios foram ameaçados de despejo da fazenda que ocupam, por ordem judicial. A aldeia tem um alto índice de suicídio e eles prometem resistir até a morte, e são hostilizados pelos fazendeiros da região. A situação dos caiovás foi relatada nessa segunda em uma reunião no Planalto entre os líderes indígenas e a presidente Dilma Roussef, acompanhada com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.
A presidente se disse solidaria a causa e o ministro da Justiça relatou as providencias da Funai para reverter a decisão da Justiça. Na última semana, a situação na região se agravou com o suicídio de um jovem de 23 anos e o estupro de uma índia de 14 anos, supostamente por um jagunço.
A vice-procuradora da República, Débora Duprat, relatou que os índios vivem confinados em uma pequena área de 2 hectares dentro da fazenda, sem assistência e sob ameaça. Duprat também criticou a omissão da Funai e a insensibilidade do Poder Judiciário, que “tende a ver só um lado da questão.”
O documento entregue a governo é composto por cópias dos boletins de ocorrência do estupro e do suicídio, e também faz uma alerta que, caso a Justiça não lhes reconheça o direito, a etnia recorrerá a organismos internacionais, como o Conselho Continental Guarani do Mercosul. O líder Otoniel Kunomi Guarani salientou, em uma entrevista após a reunião, que em nenhum momento falaram em “suicídio coletivo” e que “a comunidade tem uma decisão de que não vai sair nem por bem, nem por mal”. Porém a história mostra que os caiovás têm tradição antiga em suicídio. Eles costumam se matar, geralmente por enforcamento, diante de grave desilusão ou falta de perspectivas.
A taxa de suicídio é dez vezes maior que a das demais etnias. De acordo com o Ministério Público, a cada seis dias um guarani caiová se mata. Nos últimos 32 anos foram 1,5 mil mortes, segundo o Mapa da Violência do IBGE, publicado em 2011. Desde 2000, foram 555 suicídios, 98% deles por enforcamento. O grupo soma 44 mil índios, espalhados em Mato Grosso do Sul. As Informações são do Estadão.
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