Irmã Velzi natural de Santa Catarina disse espantada que nunca viu nada igual do que viu em Pintadas, quando chegou para sua missão. Ela se referiu a sofrimento do povo.
A freira Velzi disse que nunca tinha visto nada igual a Pintadas quando chegou para sua missão, sobretudo o sofrimento do povo.
Para entender os resultados positivos das urnas nas últimas cinco eleições para Prefeitura de Pintadas favoráveis ao PT, credenciando ao município o titulo de único a obter esta marca entre todos os que elegeram e reelegeram gestores petistas, o CN esteve na cidade e conversou com algumas pessoas que acompanharam esta história, a exemplo do aposentado Belarmino Lima, 74 anos, pai de 12 filhos, residente na Fazenda Lameiro, área de assentamento da reforma agrária. Ele destacou a importância na Igreja Católica nesta história e lembrou como tudo começou no início da década de 80 quando chegou a Pintadas, vindas de Santa Catarina, a Freira Velzi Stof e a missionária Neuza Cadore, dentre outros evangelistas da Igreja Católica.
“Elas vieram com a missão de pregar o evangelho e foi logo extrapolada para as questões sociais, políticas e de combate à injustiça e se juntaram com as Comunidades Eclesiais de Base e apoiaram nós posseiros da fazenda Lameiro, que naquela época lutávamos por nossas terras griladas por um fazendeiro conhecido por Nequinha. A luta foi intensa, mas vitoriosa”, lembrou “Seu” Belarmino.
Esta luta pela terra teve inicio em 1985, quando dezesseis famílias foram expulsas de suas terras na Comunidade do Lameiro por um grileiro teve o apoio da Igreja Católica e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, sendo credenciado pelo Sr. Belarmino como o começo movimentos sociais em Pintadas.
A freira da Congregação Irmãzinhas da Imaculada da Conceição, ordem religiosa fundada pela Santa Paulina, Velzi Stof, 72 anos, a 32 em Pintadas, contou que veio a Bahia atendendo a chamado dos bispos do estado, pois faltavam religiosos para fazer o trabalho de evangelização e ao chegar foi encaminhada ao Distrito de Pintadas, se deparando com a situação de dificuldade que a região vivia em consequência da seca de 1982/83. “Escrevi para os religiosos que ficaram no sul e contei que não havia visto nada igual”, falou Velzi.
Feliz pelos avanços obtidos através das lutas, pois ao longo do tempo evangelizando na doutrina “Fé e Vida”, ela disse que a seca que vem assolando o município não está causando mais dificuldades por causa das ações realizadas, a exemplo da construção de cisternas, sendo Pintada pioneira e referencia nesta área. “As primeiras ações foram realizadas com recursos que buscamos no exterior e não contamos com dinheiro do governo brasileiro”, lembrou.
A igreja teve um papel importante na história de Pintadas por meio das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), grupos criados pela Igreja Católica para trabalhar outras questões ligadas não somente à espiritualidade e à religiosidade dos fiéis, mas à realidade cotidiana das pessoas.
Segundo entendimento da freira, a Igreja em Pintadas encontrou um terreno fértil para fortalecer a prática da solidariedade, gratuidade e partilha por parte dos trabalhadores rurais, fundamentos do espírito cristão, segundo a Teologia da Libertação. Foram criados conselhos pastorais e um grupo mais amplo de jovens denominado Juventude Procurando a Libertação (JPL) assumiram um papel importante e simbólico, pois demonstraram concretamente que o futuro estava sendo construído em uma espécie de celeiro de lideranças. O prefeito e vice-eleitos em 07 de outubro participaram deste movimento.
O candidato a vice-prefeito eleito Carlos Alberto Silva Almeida (PSC), contou ao CN que no final da década de 80, foi fundado o Centro Comunitário de Serviços de Pintadas (CCSP), primeira instituição social que começaria a buscar recursos dentro e fora do país para apoiar os produtores rurais. Logo em seguida, no início da década de 90, veio a EFAP – Associação da Escola Família Agrícola de Pintadas. “Nesse mesmo período Neusa e Velzi conseguiram canalizar recursos estrangeiros para comprar e distribuir leite e cestas básicas para famílias de baixa renda do nosso município e esse trabalho aliado a outras iniciativas sociais e de apoio às comunidades foi fortalecendo o Partido dos Trabalhadores, que em 1996 aliou-se ao PMDB, liderado por Dr. Gilvan Mendes Aragão. Dr. Gilvan deixou o grupo político o qual fazia parte, fez chapa com Neusa Cadore na condição de vice prefeito e juntos com o apoio das comunidades pintadenses ganharam as eleições daquele ano, iniciando assim, sob a liderança da então prefeita Neusa, uma história de desenvolvimento e sucesso do município de Pintadas”, lembrou Carlos Alberto.
Outro exemplo da força do movimento social em Pintadas, segundo o social cristão, foi fechamento do único estabelecimento bancário, do então Banco do Estado da Bahia, o extinto BANEB, antes do início do governo petista em 1997 e para resolver esta situação à comunidade, com ajuda da Prefeitura ao longo desse ano, fundou em 1998 a CrediPintadas, hoje SICOOB Sertão, que além de exercer funções bancárias atua na área de microcrédito.
Na conversa que reuniu o candidato a prefeito eleito Edenivaldo Ferreira Mendes (PT), conhecido por Curujão, o vice Carlos Alberto, o aposentado Berlarmino Lima, cuja memoria ajudou no relato desta matéria e a irmã Velzi, foi explicado detalhes sobre a Rede Pintadas, uma organização informal instituída em 1999 que reúne 13 entidades do Município reuni organizações sociais, produtivas, culturais, religiosas, elabora e executa projetos de autogestão.
De forma representativa, tem como funções principais avaliar, propor, planejar e implementar políticas públicas, além de empreender esforços e iniciativas de geração de emprego e renda. A Prefeitura, no inicio fazia parte da rede e depois, por entendimento das pessoas envolvidas no projeto, foi retirada.
A deputada Neusa Cadore, natural de Gaspar (SC), uma voluntária social pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), eleita prefeita de Pintadas pelo Partido dos Trabalhadores para exercer o primeiro mandato entre, 1997-2000, sendo reeleita para o exercício 2001-2004, atualmente no segundo mandato de deputada estadual chegou ao município acompanhada da Irmã Velzi e a missionária Edite, com objetivo de ficar por dois anos, resultando na concretização deste trabalho que melhorou a vida das pessoas e projetou o município pela consciência política do seu povo. Todo este foi avalizado pelo então bispo da Diocese de Rui Barbosa, Dom Matias, que acreditava que criação de um partido na linha do PT era o melhor para o povo.
Por: Valdemí de Assis/ fotos: Raimundo Mascarenhas / CN
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