Neste
07 de agosto de 2012, a Lei Maria da
Penha completa seis anos de vigência. Passada mais de meia década da sanção
presidencial ao primeiro instrumento legislativo especificamente direcionado ao
combate à violência doméstica, emerge a evidente questão: as mulheres estão
sendo menos agredidas após a edição da lei?
Apesar se ser evidente a pergunta,
não é tão fácil sua resposta: se de um lado há índices de violência doméstica
contra a mulher bastante desanimadores, a colocação definitiva do tema na arena
do debate público é, sem dúvida, motivo de celebração. Vale então fazer um
breve balanço desta trajetória inicial da Lei Maria da Penha.
A senadora Ana Rita (PT-ES),
relatora da CPMI da Violência contra a Mulher é crítica quanto ao atual estágio
de implementação da lei: “O balanço que nós fazemos no geral é de que nós
avançamos pouco. É preciso avançar muito por parte de todos os poderes
constituídos. Celebramos os seis anos da Lei Maria da Penha sabendo que demos
passos importantes, mas temos muito a avançar.[1]”
A opinião da senadora é justificável: segundo ela, ainda não há no interior dos
estados qualquer tipo de atendimento específico para mulheres em situação de
violência, além do problema da concentração das delegacias especializadas nas
capitais e regiões metropolitanas.
Além dos obstáculos
políticos e administrativos enfrentados na implementação da infraestrutura
prevista, os números das vítimas da violência doméstica contra mulheres permanecem
preocupantes: o Mapa da Violência elaborado pelo Instituto Sangari[2]
indica que quase 70% das mulheres
vítimas de agressão sofreram o crime na própria residência, sendo que 65% das
agressões tiveram autoria do parceiro ou ex – parceiro das vítimas na faixa dos
20 aos 49 anos.
Outro
problema diz respeito à análise dos dados sobre violência doméstica: os
registros policiais anteriores a 2006 não cadastravam as ocorrências desta
natureza sob rubrica específica, o que dificulta a comparação das informações
colhidas pelas autoridades policiais antes e depois da entrada da lei em vigor.
Mas
não se podem desconsiderar neste balanço avanços importantes em relação ao
combate à violência doméstica contra a mulher no Brasil: após a Lei Maria da
Penha, é marcante a presença do tema nas rodas de conversa e a maior atenção da
mídia ao problema. Excelente exemplo deste avanço foi a retratação de um caso
de violência doméstica na novela Fina
Estampa[3]
, de forma rigorosamente fiel em relação aos procedimentos legais adotados pela
Lei Maria da Penha, o que é de extrema relevância a considerar o grau de
penetração deste formato de dramaturgia, configurando-se verdadeiro formador de
opinião.
Talvez
ainda seja cedo para afirmar categoricamente que a Lei Maria da Penha logrou
reduzir a violência doméstica contra a mulher, tendo em vista as considerações
aqui expostas e as dificuldades práticas que a implementação da lei vem
encontrando. Porém, não resta dúvida sobre a saída deste tema da esfera privada
e familiar para a esfera do debate público, como convém a todos os temas
correlatos com as violações de Direitos Humanos. Que o balanço do próximo
aniversário da lei traga de presente a boa notícia de uma sociedade com
relações menos violentas entre homens e mulheres.
[1]
Declaração feita em reportagem veiculada no Portal Vermelho. Íntegra disponível
em: http://www.vermelho.org.br/pe/noticia.php?id_noticia=190310&id_secao=91.
Acesso em 06/08/2012.
[2]Disponível
em: http://mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_mulher.pdf.
[3]
A esse respeito, ver a série de artigos: http://atualidadesdodireito.com.br/alicebianchini/2012/04/16/fechamento-da-serie-novela-fina-estampa/
[1] A esse
respeito, ver a série de artigos: http://atualidadesdodireito.com.br/alicebianchini/2012/04/16/fechamento-da-serie-novela-fina-estampa/
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