LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
O professor
George Felipe de Lima Dantas, especialista em Segurança Pública, em seu
artigo “Realidade
chocante e não amplamente divulgada”, apontou a carência no Brasil de um
banco de dados que trate deste tipo de vítima.
Segundo ele, é possível fazer apenas
estimativas, uma vez que não existem números consolidados nas 54 polícias
estaduais civis e militares e nas duas polícias federais do país
(Departamento da Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal) sobre esses tipos
de homicídios.
Levantamento feito pela Folha de S.
Paulo em todo país nas secretarias estaduais de Segurança Pública revelou o
seguinte: ao menos 229 policiais (civis e militares) foram mortos no ano de
2012, até o mês de outubro (183 estavam em folga e 46 em serviço). O número
pode ser maior porque (a) Rio de Janeiro e Distrito Federal não discriminam as
causas das mortes de policiais fora de serviço e (b) o Maranhão não enviou
dados (Folha de S. Paulo de 31.12.12, p. C1). Quase metade das ocorrências se
deu no Estado de São Paulo (43% do total de mortes, sendo que as corporações
paulistas representam 31% dos efetivos das duas polícias). Nos EUA, em 2010,
foram assassinados 56 policiais.
Mortes expressivas, mas não
mensuradas (com precisão) pelos órgãos oficiais que divulgam os homicídios do
país (Ministério da Justiça, Secretarias de Segurança Pública e Datasus –
Ministério da Sáude), tendo em vista não existirem categorias que especifiquem assassinatos
de policiais. Suas mortes são contabilizadas como todas as demais.
Não contar com o controle dessa
mortandade tão grave, que vitimiza aqueles que são escalados pelo Estado para
proteger a sociedade, bem como outras formas de categorização dentre as mortes
que ocorrem no país, não só impede a criação de medidas de prevenção e
políticas criminais direcionadas aos tipos de criminalidade mais recorrentes no
país, como dá margem à divulgação de conclusões equivocadas.
Num país como o Brasil, dadas as
suas dimensões continentais, sua diversidade racial, seu tempo de existência e
seus problemas sociais, um banco de dados completo e detalhado de todos os seus
tipos de mortes é essencial para que o controle da violência (e para a não proliferação
do populismo penal midiático). Quem nem sequer tem estatísticas precisas e
minuciosas dos seus mortos revela a intenção de não apurar essas mortes (tudo
isso contribui para o massacre nosso de cada dia, tal como denunciado por
Zaffaroni).
*LFG –
Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do
Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor
de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a
2001). Siga-me:
www.professorlfg.com.br.
**Colaborou: Mariana Cury Bunduky –
Advogada, Pós Graduanda em Direito Penal e Processual Penal e Pesquisadora do
Instituto Avante Brasil.
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