quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Nossa fábrica de cadáveres a todo vapor


LUIZ FLÁVIO GOMES (@professorLFG)*
"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.” (Vladimir Maiakovski).

A carnificina é generalizada. A mídia, com razão, protesta contra as 10 mortes diárias na cidade de São Paulo. Mas não chama atenção para as  outras 137 em todo país (confira nosso delitômetro – www.institutoavantebrasil,com.br). Extermínio epidêmico. Que está ficando mais complexo com a presença de milícias. Milícias matando policiais, membros das facções matando gente das milícias e das polícias, policiais matando gente de todo tipo. Pobres coitados morrem por engano (O Estado de S. Paulo de 11.11.12, p. C3), estudante da USP sendo executado (O Estado de S. Paulo de 10.11.12, p. C1), homem é dominado e executado pela PM (O Estado de S. Paulo de 12.11.12, p. C3) etc.

Na primeira noite eles matam 10 ou 20 e não dizemos nada. Na segunda noite eles matam mais outra dezena e não dizemos nada. No ano eles matam mais de 90 policiais e não dizemos nada. Em Salvador eles matam um advogado que defendia os pobres e não dizemos nada. O governador diz que “quem não reagiu está vivo”. Agora, mesmo quem não está reagindo não está vivo (e não dizemos nada). O governo diz que o PCC não existe (e não dizemos nada). Diz que o PCC é coisa insignificante (e não dizemos nada). Conhecendo bem o nosso medo, a política de extermínio aumenta a cada dia (e não dizemos nada).

Um milhão e duzentas mil pessoas foram assassinadas no Brasil de 1980 até hoje (e não dizemos nada). A cada 9 minutos matam intencionalmente uma pessoa no Brasil (e não dizemos nada). Os mortos não são nunca ouvidos (Zaffaroni). E eles têm muita coisa a dizer (em primeiro, que estão mortos, que houve crueldade, que suas famílias sofreram). E porque nunca dissemos nada, já não podemos dizer nada (Vladimir Maiakovski). Estamos voltando ao estado pré-moderno, onde o homem era o lobo do outro homem. E não dizemos nada!

*LFG – Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil e coeditor do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Estou no www.professorlfg.com.br.

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