A verdade
é que o mundo ainda não encontrou a resposta para o tratamento de dependentes
de drogas. Menos de 35% dos usuários completam o tratamento. Destes,
60% já voltou a usar após um ano e, em avaliações mais rigorosas,
até 90% .É quase empirismo. A mesma coisa em relação às políticas públicas.
Desde a Holanda que criou uma área livre, e agora está voltando à restrição,
até a liberação total da maconha, como no Uruguai, ou a pesada repressão
americana, não há respostas definitivas e bem sucedidas. Em nenhum dos
extremos.
O fato que indivíduos, isoladamente, consigam se recuperar após tratamento acaba sendo relacionada a condições individuais, perfil, tipo, mas não permitem a universalização de resultados. Não é a toa que vemos tantas recaídas de astros famosos após clínicas de desintoxicação.Deste ponto de vista a tentativa do prefeito Haddad, em São Paulo, de colocar viciados em hotéis e dar dinheiro regularmente, é apenas isso. Uma tentativa, na qual serão observados os efeitos maléficos e benéficos, embora a hospedagem em hotéis pareça uma abordagem mais “humana”, ao nosso sentimentalismo e politicamente mais correta. Em verdade, não há nenhuma garantia de resultado, e o ambiente de hotel, embora melhore as condições de vida, não parece oferecer um ambiente de recuperação terapêutica para uma situação que envolve uma dependência, já, física. É preciso entender que o consumo de drogas a partir de certo momento deixa de ser emocional e torna-se químico.
Além disso, a situação da Cracôlandia é difícil porque do ponto de vista urbano a região tem moradores prejudicados e que são donos legítimos de seus espaços, pagam impostos e devem ser atendidos pela Prefeitura, sendo mais uma vertente de um complexo problema. Evidente que não se pode tratar o usuário apenas como coitado, mas não se pode, também, só torná-lo objeto de repressão ou violência, embora não caiba demonização da Polícia por seu combate, que deve ser firme, ao tráfico. Em alguns casos sou a favor de internação compulsória, sob certas condições, porque nenhum tipo de assistência social, isoladamente, irá retirá-lo do consumo de tóxicos.
A dependência causa uma brutal destruição social. Quem já atendeu drogados e suas famílias em consultório ou hospital é consegue ter noção da tragédia que a droga pode causar na vida do indivíduo e de sua família, levando-a ao mais completo estado de deterioração física e moral. Conheço histórias chocantes. Por isto não podemos aceitar em nossa mídia, a glamourização da droga, publicamente, como fazem artistas e alguns filhinhos de papai, que acham que ser intelectualmente superior, ou descolado, é fazer apologia de seu consumo. Esquecem que nenhum artista tornou-se astro pelas drogas e sim apesar das drogas. Na maioria das vezes, aliás, as drogas os levam a decadência e morte, como bem mostrou a vida de Amy Winehouse. E, evidente, nem falo dos crimes associados a elas e que torna cada consumidor cúmplice.
Não acredito, no entanto, em nenhuma destas soluções, embora sejam legítimas que sejam tentadas até porque resultam em benefícios individuais. Creio que só vai haver uma solução quando os governos contabilizarem o custo da droga- sim, não esqueça que há toda uma indústria legal de interesses que lucra com a droga-, e passarem a investir pesado em pesquisa científica que permita identificar os mecanismos químicos e biológicos do vício e encontrar, então, uma forma de bloqueio destes receptores. Fora disto, será, apenas, para ficar no tema, fumaça.
Quanto ao Haddad, merece sim a torcida por sua tentativa, embora seja cético com o resultado. Ao menos, está dando uns dias de conforto a estas pessoas desprovidas de tudo. É um dinheiro melhor gasto do que com o desvio por seus assessores.
Por: César Oliveira (Tribuna Feirense).
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