Azeredo destacou que, no último trimestre de 2015, houve uma queda expressiva no número de pessoas trabalhando com carteira assinada.
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Tomando por base a média dos três primeiros trimestres deste ano, a
taxa de desemprego prévia do Brasil em 2015 seria de 8,4%, superando as
taxas médias registradas no mesmo período de 2014 (6,9%), 2013 (7,4%) e
2012 (7,5%).
“Porque tem mais pessoas procurando trabalho”, ressaltou, em entrevista à
Agência Brasil, o coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estatístico Cimar Azeredo.
Os dados consideram os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua).
Isso significa, segundo ele, que em termos da taxa de desocupação, o
Brasil fecha o ano com mais pessoas procurando emprego do que havia no
ano passado.
Assim, a taxa se mostra mais alta. “Então, você tem mais pessoas na fila
de desocupação do que em anos anteriores. A desocupação está crescendo
em função de mudanças que ocorrem na estrutura do mercado de trabalho”.
Azeredo destacou que, no último trimestre de 2015, houve uma queda
expressiva no número de pessoas trabalhando com carteira assinada.
Foram 1,273 milhão de pessoas a menos em relação a 2014. Essas pessoas,
que estavam sob uma rede de proteção do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) e do seguro-desemprego, usaram esses recursos e acabaram
aumentando o contingente da população trabalhando por conta própria ou
como pequenos empregadores, que montaram o próprio negócio. “Houve uma queda do emprego, mas a queda da população ocupada não existiu”, assegurou.
Essa mudança no mercado de trabalho traz uma perda de estabilidade
dentro do domicílio e força filhos que estão no ensino médio ou superior
e mesmo pessoas mais idosas a procurar emprego para tentar manter o
nível de vida que foi perdido.
Esse processo fez a taxa de desocupação aumentar, indicou Azeredo. “Não
houve redução do número de ocupados. Houve redução do número de
empregados (formais), que começaram a trabalhar por conta própria. A
mudança na estrutura desse mercado leva a uma quebra na estabilidade no
domicílio e essa perda de estabilidade faz aumentar a fila da
desocupação”, reiterou.
A análise do momento atual mostra que a população ocupada está estável,
mas a fila de desocupação cresceu por conta da mudança na estrutura do
mercado.
Cimar Azeredo salientou, inclusive, que a força de trabalho no Brasil
aumentou em 2015. O país tinha no terceiro trimestre 2 milhões a mais de
pessoas na força de trabalho, que envolve a população ocupada mais a
população desocupada, que está pressionando o mercado para entrar.
Emprego doméstico
O emprego doméstico era uma forma de inserção no mercado de trabalho que
vinha apresentando queda. “Todo mês, a gente percebia claramente que o
emprego doméstico apresentava queda”, comentou Azeredo. "Mas parou de
cair, embora também não tenha aumentado", acrescentou.
Há, entretanto, uma tendência de expansão do personagem do empregado
doméstico no mercado de trabalho, relatou o coordenador do IBGE, porque
muitas pessoas que estavam ocupadas saíram do mercado e o seu poder de
empreendedorismo é menor. Por isso, elas tendem a retornar.
“Esse retorno do emprego doméstico é em função de um mercado que está
dispensando e essa falta de empreendedorismo e até mesmo de escolaridade
um pouco mais avançada faz com que esse personagem tenda a voltar ao
serviço doméstico. Então, a tendência de queda no emprego doméstico
acabou”.
O empregado doméstico foi um dos grupamentos que mais ganhou rendimento
nos últimos anos porque, com a oferta pequena desse empregado no
mercado, cresceu o seu valor. A demanda por ele continuou, mas havia
menos empregados oferecendo mão de obra.
Agora, o ponto negativo é que, como a população está ganhando menos,
diminuiu também a procura por esse serviço. O empregado doméstico acaba
sendo visto como uma coisa supérflua e seu serviço passa a ser objeto de
negociação. Ou seja, como a tendência do mercado é ampliar a oferta
desse empregado doméstico, a renda dele tende a reduzir.
O empregado doméstico acaba permanecendo informalmente no mercado, como
diarista, contratado por menos de dois dias. Isso é fruto da situação
desfavorável do mercado de trabalho.
O que permanece é um acordo de rendimento mais baixo para garantir a
permanência desses empregados no mercado, uma vez que eles não estão
conseguindo se enquadrar em outros nichos de atividade, informou
Azeredo. O retrato é diferente do que ocorreu em 2014.
Mulheres e jovens
As mulheres e os jovens mostram taxas de desocupação maiores. O jovem,
pela característica de falta de experiência, de empreendedorismo e de
qualificação.
A taxa de desocupação dos jovens de 18 a 24 anos de idade atingiu 19,7%
entre julho e setembro deste ano. Há um processo natural de adequação do
jovem ao mercado.
Cimar Azeredo observou, entretanto, que em um mercado marcado por
dispensas, como o deste ano, o jovem enfrenta dificuldades de ingressar
porque entre um jovem sem experiência e uma pessoa que já vem treinada,
“claro que eu vou optar por uma pessoa que tem experiência”. A taxa alta
de desocupação do jovem se origina das barreiras que ele encontra.
No terceiro trimestre de 2015, as mulheres representavam 51,2% da
população desocupada. Em relação às mulheres, Azeredo disse que a taxa
de desocupação mais elevada está relacionada a um problema de ordem
cultural e, também, à segunda jornada de trabalho que ela tem de cumprir
em casa, com os filhos, conciliada com o ambiente de trabalho fora do
domicílio.
As mulheres enfrentam, ainda, a limitação de alguns empregadores em
contratar mão de obra feminina, porque sabem que mulheres podem
engravidar. Isso ocorre, sobretudo, em pequenos empreendimentos. “É uma
questão de bloqueio cultural”. Além disso, há o risco de a mulher ficar
na fila da desocupação.
Cimar Azeredo destacou que outro problema é que a maioria das pessoas
que são arrimo de família são homens. “E uma vez que eles perdem o
emprego, não têm a opção de ficar fora, na fila da desocupação. Partem
para a informalidade. Acabam indo para o subemprego por falta de opção”.
Vão ser camelôs ou vão vender sorvete na praia para gerar renda e
sustentar a família, por exemplo. “Para nós, essa pessoa está ocupada.
Ela pode estar subempregada, mas está ocupada”.
A pesquisa do IBGE evidencia esse problema por meio da perda de carteira
de trabalho. Esse profissional é computado como trabalhador por conta
própria e não entra na taxa de desocupação.
O que preocupa na taxa de desocupação, disse o coordenador de Trabalho e
Rendimento, é que embora ela seja mais alta entre mulheres e jovens,
aumentou também entre os adultos. “E um adulto na fila da desocupação
acaba levando mais pessoas com ele. Pode levar o filho junto”.
Regiões e setores
As regiões nordeste e o norte lideram a taxa de desemprego no Brasil.
Nelas, existe mais desigualdade e pobreza. “Sempre foi (assim)”, disse
Azeredo.
No terceiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego no Nordeste
alcançou 10,8%. As oportunidades de emprego são maiores nas regiões Sul e
Sudeste, que têm um mercado mais aquecido. No Sul brasileiro, a taxa
foi 6% no período pesquisado.
Por setores, os que mais dispensam, de acordo com a Pnad Contínua, são a
indústria, que “perdeu mais de meio milhão (de vagas) em um ano, e a
construção, que dispensou 300 mil pessoas”.
Esses trabalhadores foram para o comércio e a parte de serviços. “De
alguma forma, aumenta o serviço, aumenta o comércio, para absorver essa
carga que está saindo da indústria e da construção”.
O crescimento significativo observado ao longo dos últimos anos da
contratação de empregados com carteira assinada, que resultou na criação
de uma rede de proteção forte, acabou aliviando a mudança de
configuração no mercado de trabalho gerada pelas alterações no cenário
econômico do país.
“Elas estavam protegidas e se defenderam de alguma forma desse processo
de mudança na economia”. Mas isso tem um limite, porque essa rede de
proteção não dura para sempre, alertou.
Segundo Azeredo, se não houver uma reversão rápida nesse processo da
economia, se o mercado não voltar a contratar e se a economia não voltar
a se aquecer, a situação pode se agravar, porque a rede de proteção
pode romper.
A pesquisa do IBGE revela que a taxa de desocupação já é de dois dígitos
em várias regiões. Por estados, a Bahia teve a maior taxa de
desocupação no terceiro trimestre (12,8%).
Entre as capitais, Salvador registrou a maior taxa de desemprego
(16,1%). A taxa é aliviada no Brasil devido aos resultados observados no
Sul e Sudeste. Azeredo afirmou que a preocupação agora é verificar se
os trabalhadores temporários que foram contratados pelo comércio para
atender às vendas de fim de ano serão efetivados em janeiro. “Isso a
gente não tem como prever”, finalizou.
Agência Brasil
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