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sábado, 2 de janeiro de 2016

Seca na área do Rio São Francisco expõe conflito pela água no Nordeste

A seca prolongada compromete nível de água de Sobradinho
O Rio São Francisco está habituado a enfrentar períodos de secas, que de tempos em tempos se abatem no Nordeste. Nos últimos dois anos, estamos vivendo um desses ciclos de estiagem. 

Desde 2013 a chuva vem muito abaixo do normal e os reservatórios entraram em queda livre. Sobradinho, o maior reservatório do rio, tem atualmente apenas 2% de seu volume útil. Somados, os reservatórios do Nordeste não passam de 5% do volume útil.

O problema é que a seca, que já afeta cidades, agricultores e a geração de energia elétrica, tem tudo para piorar em 2016. A formação de El Niño faz com que o Nordeste brasileiro fique mais seco do que o habitual. Ou seja, a expectativa é que o período de chuvas, que começou neste mês, não traga tantas águas quanto o necessário. Isso deve trazer ainda mais pressão – e criar conflitos pela água na região.

Segundo Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, são conflitos gerados por interesses legítimos – afinal, todos têm direito a água. "A situação está crítica especialmente em Sobradinho, e resulta em uma crise complexa. Isso porque quem está antes do reservatório quer que acumule mais água, e quem está depois, quer que libere mais água. Essa é a raiz de muitos conflitos."

A água do Rio São Francisco tem múltiplos usos. Ela serve para abastecimento humano, irrigação e agricultura, transporte por hidrovias. Mas seu uso preponderante é para a geração hidrelétrica. A seca fez com a Agência Nacional das Águas (ANA) aprovasse sucessivas reduções na quantidade de água que os reservatórios como o de Sobradinho ou Três Marias liberam para o rio. Antes da seca, essa vazão era de 1.300 metros cúbicos por segundo. Atualmente, ela está em 800 metros cúbicos por segundo. Sem isso, o lago de Sobradinho poderá chegar ao volume morto. Ele não secará, mas não será possível gerar energia, exigindo a compra de eletricidade mais cara no Sistema Integrado Nacional. 

A redução de vazão é uma operação normal para evitar a queda dos reservatórios. Mas em uma situação de estiagem prolongada, pode gerar problemas. Um deles é comprometer a qualidade da água. Isso aconteceu no primeiro semestre de 2015, entre Sergipe e Alagoas. A região viu aparecer uma mancha de algas e bactérias que chegou a 35 quilômetros de extensão em maio. Essa mancha foi provocada porque, como tinha menos água no rio, ela não dissolveu esgoto que algumas cidades ainda despejam no rio. O esgoto não deveria ser despejado no São Francisco, evidentemente, e a seca agravou a situação.

Outro problema é que, com o nível do rio mais baixo, algumas companhias de abastecimento, como a de Alagoas, precisarão instalar bombas adicionais para captar água para atender a população, gerando prejuízos financeiros e risco de desabastecimento. Isso sem falar que agricultores não poderão retirar tanta água da bacia para irrigação e produção agrícola.

As autoridades esperam que o período de chuvas – que vai até março e abril – alivie um pouco a crise no São Francisco. Mas o problema precisa ser enfrentado de forma estrutural, já que secas como essa podem ficar mais frequentes por conta do aquecimento global. Miranda sugere uma mudança na matriz energética na região. Diminuir a dependência do Rio São Francisco para a geração de energia elétrica permitiria que as águas fossem utilizadas para outros fins, como o abastecimento humano. Para isso, entretanto, será necessário investimento forte em energia solar e eólica. Felizmente, o Nordeste tem ventos e sol de sobra.

Fonte: Revista Época

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