Segundo artigo publicado em parceria com a Universidade do Texas, o vírus não afeta exclusivamente o sistema nervoso central, hipótese sustentada até agora.
Foto: Sayonara Moreno / Agência Brasil |
Pesquisadores e médicos baianos confirmaram que os danos causados pelo
vírus Zika nos bebês é maior do que se sabia e que as gestantes podem
não ter sintomas da doença. Segundo artigo publicado em parceria com a
Universidade do Texas, o vírus não afeta exclusivamente o sistema
nervoso central, hipótese sustentada até agora.
A descoberta ocorreu após pesquisas feitas em um feto, morto na 32ª
semana de gestação, depois que a mãe de 20 anos, sem identidade
revelada, e moradora do interior da Bahia, foi atendida no Hospital
Regional Roberto Santos, em Salvador.
O feto foi retirado em 20 de janeiro, cinco semanas depois de ter sido
diagnosticado com microcefalia e hidranencefalia (condição rara em que o
crânio é preenchido por um líquido).
Além das complicações no sistema nervoso, consideradas graves, outros
problemas afetaram o bebê. Ele apresentou quadro de artrogripose (doença
congênita que deforma os membros e as articulações) e hidropisia
(presença de líquido em cavidades do corpo, provocando inchaços no
bebê).
Um dos responsáveis pelo estudo publicado pela revista científica PLOS
Neglected Tropical Diseases e diretor do Hospital Regional Roberto
Santos, Antônio Raimundo de Almeida classificou a descoberta como “a
ponta do iceberg”.
“Descrevemos no dia 9 de fevereiro, as primeiras lesões causadas pelo
vírus da Zika no sistema ocular (nos olhos) e as alterações auditivas.
Além disso, alguns bebês com o vírus da Zika não têm microcefalia.
Então, chamamos isso de síndrome da Zika congênita e dizemos que é
'apenas a ponta do iceberg'”, relatou o médico.
Outro ponto que chamou a atenção dos pesquisadores foi a ausência de
sintomas do vírus Zika na mãe. O artigo científico explica que ela pode
ter sido exposta ao vírus, mas não desenvolveu nenhum sintoma, apesar de
o feto ter adquirido “complicações graves”, segundo os especialistas.
“Como isso não havia sido, ainda, descrito na literatura [médica], nós
achamos que seria interessante comunicar a comunidade científica
internacional sobre esse achado e estudamos detalhadamente, detectamos o
vírus, fizemos o sequenciamento com os colegas e detectamos que esse
vírus da Zika é uma variante asiática que circula aqui no Nordeste”,
completou o diretor do Hospital.
Necrópsia
A partir da necrópsia feita no bebê, os cientistas encontraram a
presença do Zika no líquido amniótico, no líquor (líquido que reveste o
cérebro) e na medula espinhal. Já em outras partes, como coração,
pulmão, fígado, placenta e no sangue, não encontraram o vírus.
Um dos médicos que acompanhou de perto o caso da mãe de 20 anos, Manoel
Sarno, é especialista em medicina fetal e classificou as lesões no bebê
morto como muito graves e a quantidade de líquido na cabeça além do
comum para a hidranencefalia.
“É importante a gente alertar que o vírus não causa apenas microcefalia,
mas causa danos também em outras partes. É o que chamamos de síndrome
da Zika congênita. Sugerimos essa terminologia para tirar o foco da
discussão da microcefalia: não é apenas a microcefalia, mas uma
potencial lesão para outros órgãos”, alerta o profissional.
O especialista ainda recomendou cuidados sobre o assunto, para não gerar
pânico. “É o primeiro caso relatado, no mundo, com essas
características. É importante frisarmos que é um quadro extremamente
grave, atípico, mas isso não pode ser extrapolado para toda a
população”.
Os especialistas explicaram, ainda, que a descoberta pode aumentar o
número de casos notificados dos efeitos do Zika nos bebês, já que era
registrada apenas a microcefalia. Segundo eles, bebês com Zika já
apresentaram complicações mais leves, que não foram associadas ao vírus.
Fonte: Acorda Cidade
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