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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Justiça aceita denúncia contra Edílson e mais 15 por fraudes em loterias

Ex-jogador Edílson depõe na sede da PF em Goiânia, Goiás, sobre fraudes em loterias (Foto: Vanessa Martins/G1)
Ex-jogador Edílson é réu em processo contra fraudes
 em loterias (Foto: Vanessa Martins/G1)
A Justiça Federal acatou a denúncia contra suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em fraudar pagamentos de prêmios de loterias da Caixa Econômica Federal (CEF), desarticulada pela Operação Desventura. De acordo com a 11ª Vara Federal, em Goiânia, foram 16 denunciados pelo crime de organização criminosa, entre eles o ex-jogador da seleção brasileira Edílson da Silva Ferreira, o Edílson Capetinha.

Segundo o procurador da República Hélio Telho, responsável pelas denúncias do Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), os envolvidos se associaram para planejar e cometer as fraudes que renderam cifras milionárias. O ex-jogador Edílson é apontado com um dos responsáveis por aliciar gerentes de bancos para a quadrilha.

As investigações resultaram em três denúncias. Entre os crimes pelos quais os envolvidos respondem estão furto qualificado por fraude, estelionato, falsificação de documento público, tráfico de influência, corrupção ativa, crime contra a ordem tributária, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

A primeira denúncia foi aceita pelo juiz Leão Aparecido Alves, da 11ª Vara Federal, em 15 de outubro do ano passado, quando foram alvos cinco pessoas apontadas como integrantes da cúpula da quadrilha: Eduardo Pereira dos Santos, Arcanjo Jorge Peralta, Hernane de Araújo Lima, Leandro de Carvalho Oliveira e Sinomar José da Silva. Todos foram presos durante a operação e, segundo a Justiça Federal, quatro deles permaneciam detidos nesta terça-feira (2).

Em seguida, no dia 2 de dezembro do ano passado, o juiz Eduardo Pereira da Silva acatou a denúncia contra o grupo em que está o ex-jogador Edílson. Além dele, são alvos André Luiz Sandre Abraão, Eduardo Daniel Lucena dos Santos, Leonardo do Rêgo Santos, Paulo Roberto Castro Santana, Saulo Santos de Oliveira.

Logo depois, no dia 4 de dezembro do ano passado, o mesmo magistrado acatou a denúncia contra outras cinco pessoas: Claudemário da Paixão Copque Costa, Jairo Dias de Souza, José Sukadolnik Filho, Ronaldo Antônio de Faria e Sílvio Felipe Dionízio.

O G1 tentou contato com o advogado de Edílson, Thiago Phileto, desde a manhã desta terça-feira, mas as ligações não foram atendidas até a publicação desta reportagem. No entanto, em novembro do ano passado, logo após o oferecimento da denúncia, ele disse que o ex-jogador é inocente e vai provar esta condição ao longo da instrução do processo.

Para Phileto, os outros denunciados se aproveitaram da fama do atleta para se beneficiar no esquema. “A denúncia é equivocada. O Edílson não faz parte disso, não se beneficiou ou auferiu vantagem ou lucro. Ele é inocente. Não tenho dúvida que ficará muito claro que o Edilson não facilitou nada para ninguém. O fato é que por ele ser famoso e ser assediado pelos envolvidos, acabou sendo incluído nesse processo”, disse.

O G1 não conseguiu contato com a defesa dos outros envolvidos até a publicação dessa reportagem.

Escutas telefônicas
O MPF-GO informou que o ex-jogador Edílson tinha um “relacionamento próximo” com um dos chefes da quadrilha. Ele foi flagrado em escutas telefônicas conversando com integrantes do grupo.
 
Ex-jogador Edílson presta depoimento na sede da Polícia Federal, em Goiânia, Goiás (Foto: Vanessa Martins/G1)
MPF-GO diz que Edílson foi flagrado em escutas
telefônicas (Foto: Vanessa Martins/G1)
“As conversas mostram que ele tinha um relacionamento próximo com um dos líderes, inclusive, de negócios. Mas a função do ex-jogador era apenas a de usar da fama e as grandes movimentações financeiras que fazia para aliciar gerentes do banco para as fraudes. Por isso, consideramos que ele atuava no escalão inferior da organização”, afirmou o procurador Hélio Telho.

Segundo ele, o ex-jogador foi flagrado em escutas, autorizadas pela Justiça Federal, no início do ano passado. “Nessas conversas ele recebe instruções de como deveria proceder para aliciar os gerentes”.

No entanto, em setembro do ano passado, Edílson lamentou ter o nome ligado a uma denúncia de fraude. “Não tenho participação nenhuma nesse esquema. Às vezes, a gente sofre por ser uma pessoa famosa. Muita gente liga oferecendo coisas. Isso tudo é prejudicial a mim e à minha carreira. Tenho serviços prestados ao Brasil. Estou com a consciência tranquila”, ressaltou.
Operação Desventura
 
A Operação Desventura foi deflagrada pela Polícia Federal no dia 10 de setembro do ano passado. No total, foram expedidos 54 mandados judiciais contra o grupo em Goiás, na Bahia, São Paulo, Sergipe, Paraná e no Distrito Federal.

Segundo assessoria de imprensa da PF, dos mandados, 13 eram para prisões preventivas e temporárias, sendo os seis em Goiás. No total, 10 pessoas foram detidas, incluindo as três no estado. Já das do total de 22 mandados de conduções coercitivas, 19 foram cumpridos. Os 19 de busca e apreensão foram todos realizados.

De acordo com a corporação, a investigação, iniciada em outubro de 2014, apontou que o esquema criminoso contava com a ajuda de correntistas da Caixa Econômica Federal, que eram escolhidos pela quadrilha por movimentar grandes volumes financeiros e que também seriam os responsáveis por recrutar gerentes do banco para a fraude.

Ainda segundo a PF, quando os criminosos estavam de posse de informações privilegiadas, entravam em contato com os gerentes para que eles viabilizassem o recebimento do prêmio por meio de suas senhas, validando, de forma irregular, os bilhetes falsos.

“A fraude não estava no sorteio, ela estava na validação fraudulenta dos bilhetes. Qualquer bilhete premiado tem o prazo de 90 dias para ser retirado. O sistema da Caixa emitia um alerta quando faltam oito dias para prescrever esse bilhete. Com base nessas informações privilegiadas, servidores da Caixa repassavam quais seriam esses bilhetes para membros da quadrilha”, explicou a delegada Marcela Rodrigues de Siqueira, logo após a deflagração da operação.

Na época da operação, a Caixa Econômica Federal informou que manteria “cooperação integral com as investigações”. A instituição destacou, ainda, que estava “tomando todas as providências de abertura de processos disciplinares, apuração de responsabilidades e afastamentos, nos casos de envolvimento de empregados do banco”.

PF apreendeu cartões bancários com suspeitos de fraudes na loteria (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
PF apreendeu cartões bancários com suspeitos de fraudes
na loteria (Foto: Divulgação/Polícia Federal)
Financiamentos 
Segundo a delegada, o grupo também alterava o sistema do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de vários estado e conseguia retirar financiamentos ainda não quitados do registro de veículos. “De posse de informações sigilosas, eles obtinham senhas de gerentes específicos, entravam em um sistema que migra para o do Detran e, com isso, conseguiam tirar gravames de veículos de diversas instituições financeiras”, explicou.

Além disso, a delegada explicou que a quadrilha usava cartões do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e do ConstruCard, que é o financimento da Caixa para a compra de materiais de construção, para cometer o crime.

“A fraude não era estrutural, ela era na comprovação da obtenção do dinheiro nos estabelecimentos. Eles [quadrilha] entravam em contato com os comerciantes e empresários para passar esses cartões e simular compras inexistentes”, relatou.

Em nota enviada ao G1 no dia da deflagração da operação, a assessoria de imprensa do BNDES informou que buscava mais informações sobre a operação para avaliar quais as medidas cabíveis.

Extraída do G1

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