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segunda-feira, 13 de junho de 2016

Encerrada a centenária trezena de Santo Antônio da comunidade de Massapê

Ichu é uma cidade que fica localizada há 178 km da capital Salvador-Bahia, cidade essa com um número significante de cristãos católicos  que mantém viva a cultura e a tradição de um povo ordeiro e feliz.

E foi assim no último dia 13 de Junho, dia em que a Igreja católica comemora o dia de Santo Antônio, que a família de Seu Hildebrando e Dona Maria José encerrou mais um ano de trezena ao santo no qual vem seguindo uma devoção de mais de cem anos.

A devoção surgiu na Fazenda Recanto, localizada no Município de Ichu por volta de 1880 pelo senhor Antonio Verício. Após o seu falecimento seu filho Antônio Timóteo continuou a celebrá-la na mesma fazenda. Por volta da década de 60, a trezena passou para as mãos da sua filha a Senhora Francisca Domingas Carneiro, conhecida como Chiquinha do Recanto e seu esposo Manuel Nascimento conhecido como Manezinho do Recanto. Estes tiveram 4 filhos: Primitivo, Josefa, João e Joana. Esta família Continuou a louvar Santo Antônio que lhe trouxe bênçãos e alegrias.

As Noites das rezas eram muito animadas, onde reuniam todos da comunidade e da vizinhança para bendizer e glorificar Santo Antônio. Após a reza, as pessoas se animavam na fogueira e cantavam cantigas de roda. O último dia começava com fogos soltados pela manhã, ao meio dia e a noite. A família com vizinhos e amigos preparavam a noite festiva com entusiasmo. Os Homens amarravam os foguetes nas flechas, feito pelo senhor Anatanael e seu filho Odilon da Lagoa do Meio. As mulheres, Dona Nascimenta, tomava conta do café, Dona Libânia limpava os terreiros, preparava o carneiro para o almoço e bolos, mas não podia faltar o tradicional bolo de milho feito por Dona Romana Alegre, da fazenda Flor Roxa. Os Altares eram todos os anos arrumados com flores de papel, feito por Luzia Marcelina Carneiro, neta de Manezinho do Recanto, que segundo ela passava meses confeccionando-as para a arrumação do altar. As flores mais bonitas eram cuidadosamente guardadas para o ultimo dia da trezena. Manezinho, reservava um boi para as despesas das noites de reza. Para cada noite havia uma família responsável que eram chamada de mordomo. Na ultima noite havia leilão dos objetos e animais doados em benefício da trezena e após o leilão todos se reuniam para apreciar a tradicional queima de fogos chegando a ser queimado cerca de 60 dúzias de foguetes.

Em 1976, A senhora Chiquinha faleceu e seu esposo Manezinho passou a morar com seu filho Primitivo que já estava casado com Josefina Carneiro, filha de João Padre. Ficou para este casal a responsabilidade da devoção das trezenas, agora realizada na Fazenda Massapê onde morava com seus 07 filhos: Mariquita, João Napununceno, Pedro, Bernadete, Mêrces, Antonio (este falecido em 2008) e Maria José.

Toda a família reunida com laços de estima e união louvavam a Santo Antônio. As rezas eram celebradas todas as noites do dia 01 ao dia 13 de Junho, dia esse dedicado ao Santo Antônio. O local das rezas era ornamentado com dois altares: um que ficava em frente à entrada da sala que foi trazido da Fazenda recanto e o outro do lado esquerdo da casa feito pelo Senhor Primitivo, que já celebrava a trezena em intenção a seu filho que se chamava Antonio.

Assim a devoção permaneceu firme e forte na mesma fé não deixando morrer a tão bela tradição.

Em 1979, Manezinho do recanto faleceu. A família de Primitivo foi crescendo, seus filhos se casaram e passaram a morar perto da fazenda Massapê e outros na cidade de Ichu, porém durante os dias de reza todos se reuniam na fazenda juntamente com os amigos. Estes, antes e depois das rezas, cantavam brinquedos de roda, animando as noites. A devoção continuou perseverante e fiel à tradição antiga. Para as despesas da festa, as doações continuavam e foi acrescentado uma poupança para garantir os festejos. Na última noite não faltava o tradicional leilão, bolo, brincadeiras, fogueira e o café na panela para que todos fossem servidos fartamente.

Na década de 80, Primitivo veio morar em Ichu, mas sua filha Maria José continuou a devoção e na época da trezena Primitivo e Josefina se mudavam para o Massapê afim de continuar a tão querida devoção.

Em 1993, Josefina Carneiro faleceu, porém ficou a certeza de que a devoção não iria se acabar. Nesta atitude de respeito,  a tradição continuou e as trezenas passaram agora a ser responsabilidade de Primitivo e sua filha Maria José. Em 1993, sobre o desejo do Senhor Primitivo, foi construida uma capela na fazenda, passando a ser celebrada as rezas e as missas da comunidade.

No ano de 2004, Primitivo Faleceu, mas como o Papa João Paulo II Dizia: "A Família que reza unida, permanece unida" assim continuou a ser celebrada todos os anos a trezena por Maria José e seu esposo Hildebrando, estes pertencentes a 5ª geração.

Dona Maria José e Seu Hildebrando, pertencente a 5ª Geração
Hoje a família de Maria José mora na cidade de Ichu e o Recanto se transferiu para a sua residência não deixando se perder  o calor da devoção. A união familiar acontece todas as noites do dia 01 ao dia 13 de junho com a certeza de nunca se acabar.

Fé, louvores e preces ao Santo considerado Doutor da Igreja foi encontrado neste Santo, motivo maior além da devoção, do respeito e da tradição para venerá-lo, que é a união da família.

Continuar a devoção ao Santo Antonio é respeitar os valores familiares: O amor e dedicação que a família tem com a religião católica se encontram cravado nos corações de todos e há de ser passada para as novas gerações.

Mais de 100 anos  já se passaram e muitos outros irão passar, porém de uma coisa temos certeza: A devoção a Santo Antônio da fazenda Recanto, nunca irá se acabar. Nesta fé, esperança e amor, procurando imitar as virtudes de Santo Antônio, demo-nos as mãos e cantemos cheios de fé.

Redação Ichu Notícias com foto de Edcarlos Almeida e texto de familiares

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