O
ichuense Edcarlos Almeida que é Técnico Agrícola e atua no Movimento
de Organização Comunitária (MOC) seguiu na madrugada desta
segunda-feira, 06, juntamente com outros colegas para participar em
Aracaju (SE) do IV Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores
Experimentadores do Semiárido.
Cerca de 300 pessoas dos nove estados do
Nordeste e de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha e Norte), inseridos
no mapa do Semiárido brasileiro, uma região que representa 18,2% do
território nacional e abriga cerca de 12% da população estarão
participando deste evento.
O evento, organizado pela Articulação
Semiárido Brasileiro (ASA), vai debater questões relacionadas à vida do
povo do Semiárido que, nos últimos 12 anos, mudou intensamente a partir
da implementação de políticas públicas adequadas à realidade e
necessidades das famílias que viviam em situação de pobreza e miséria.
Resultado da participação ativa da
sociedade civil e compromisso dos governos de Dilma e Lula, tais
políticas começaram a garantir direitos fundamentais a uma população
invisibilizada como acesso à água, uma alimentação mais farta e
diversificada, aumento da renda familiar, acesso a crédito, assessoria
técnica agroecológica, entre outros. Com o governo provisório de Michel
Temer, inúmeras destas políticas estão ameaçadas de cortes ou
descontinuidade devido à medidas como a extinção do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA).
Estes brasileiros e brasileiras do
campo, que passaram a enfrentar os períodos naturais de estiagem com
água estocada para beber, produzir alimentos e manter as criações e que
deixaram de ter vergonha das suas sementes guardadas há gerações, vão
discutir nestes três dias os desafios que se desenham a sua frente para
viver com dignidade e proteger a biodiversidade.
“É uma satisfação muito grande receber
pessoas de todo o Semiárido para celebrar conquistas, denunciar as
mazelas e intercambiar as boas experiências. O momento que o país vive
requer muitas reflexões para que a sociedade brasileira possa entender a
gravidade da situação e os riscos que incorrem”, assegura o coordenador
executivo da ASA pelo estado de Sergipe, João Alexandre de Freitas
Neto.
Entre os temas presentes em todos os
dias do evento estão as ameaças às sementes crioulas e estratégias de
conservação; a assistência técnica agroecológica, que será debatida da
perspectiva dos agricultores e agricultoras e também dos técnicos das
organizações que formam a ASA; a produção das propriedades rurais; o
papel das mulheres e dos jovens no espaço rural; o modo de vida das
populações e povos tradicionais, entre outros temas.
O formato do encontro rompe com a estrutura de palestras, na qual o
palestrante é o portador do conhecimento e a plateia é a receptora. Em
todos os momentos, o saber tradicional e empírico dos agricultores e
agricultoras é valorizado e somado ao saber técnico e científico. Uma
das formas de promover a construção de conhecimento de agricultor para
agricultor é a visita a propriedades rurais de Sergipe, um momento
riquíssimo de trocas de conhecimentos, quando as famílias agricultoras
testemunham de perto realidades parecidas com as suas, mas com
especificidades naturais que surgem da influência do meio onde se
encontram.
As visitas são o ponto alto do evento e
vão dar o tom dos próximos momentos do encontro, uma vez que os
participantes dos intercâmbios vão aprofundar suas observações das
visitas de campo em oficinas temáticas, nas quais experiências de
famílias agricultoras de outros estados também serão apresentadas.
“A cada encontro, a gente cresce no
aprendizado, ganhamos força pra nossa caminhada e saímos com a missão de
repassar o conhecimento para quem não tem o hábito de viver o coletivo,
de preservar, de não deixar que as sementes transgênicas destruam as
nossas sementes. A hora é agora. Porque daqui a pouco muitas comunidades
não vão saber o que estão comendo e produzindo”, destaca seu Arnaldo.
As sementes têm um lugar especial neste
grande encontro de agricultores e agricultoras experimentadoras de todo o
Semiárido brasileiro. Uma feira, com produtos da agricultura familiar
de todos os estados, vai funcionar no período da tarde do primeiro e
terceiro dias e é aberta ao público em geral.
Na quarta-feira (8), nesta feira, haverá
um momento para que as centenas de famílias agricultoras do Piauí a
Minas Gerais troquem seus materiais genéticos. Assim, as sementes
cultivadas no Vale do Jequitinhonha vão ser experimentadas por quem vive
no território do Cariri paraibano. E as poucas sementes levadas para
casa terminam sendo multiplicadas e, aos poucos, um estoque daquela
semente vai sendo formado em outro lugar do Semiárido.
Essa ação de troca tem um valor
grandioso para a conservação das sementes porque, ao serem plantadas em
lugares diversos, passam por transformações naturais na sua genética que
a protegem do desaparecimento. Ampliando cada vez mais a riqueza
alimentar não só das comunidades de agricultores, mas de toda a
humanidade, que vive um momento de forte erosão genética dos alimentos.
Essa perda tem como um dos principais motivos o desenvolvimento de
sementes padronizadas e transgênicas que servem ao modelo do
agronegócio, pautado no monocultivo de latifúndios e uso intenso de
venenos que poluem todo o ecossistema – ar, água, solo – além de adoecer
e matar pessoas que vivem próximos aos lugares de plantios e trabalham
manejando-os.
O que é ser agricultor/a experimentador/a?
Seu Arnaldo, dona Antonieta e dona Cremilda vivem no Brasil rural experimentando formas de plantar, de render a água acumulada das chuvas, de tornar o solo mais fértil e a ração animal mais nutritiva, de multiplicar e guardar as sementes crioulas. São como cientistas empíricos que, a partir de sua observação da natureza, seguem testando formas de convívio com o clima Semiárido. Algumas destas experimentações foram sistematizadas e serviram de inspiração para a construção de políticas públicas para a convivência com o Semiárido.
Seu Arnaldo, dona Antonieta e dona Cremilda vivem no Brasil rural experimentando formas de plantar, de render a água acumulada das chuvas, de tornar o solo mais fértil e a ração animal mais nutritiva, de multiplicar e guardar as sementes crioulas. São como cientistas empíricos que, a partir de sua observação da natureza, seguem testando formas de convívio com o clima Semiárido. Algumas destas experimentações foram sistematizadas e serviram de inspiração para a construção de políticas públicas para a convivência com o Semiárido.
E, como agricultores e agricultoras, os
três se dedicam a uma das principais vocações da agricultura familiar:
cultivam alimentos que enchem 70% dos pratos dos brasileiros e
brasileiras. E mais, os alimentos produzidos pelos três não têm um pingo
de veneno. Como diz dona Antonieta: “Amo o que faço, a terra que vivo e
trabalho. Valorizo cada planta que cultivo sem o uso de agrotóxico. E o
que aprendo não gosto que fique só comigo. Acho legal repassar para
quem não teve oportunidades de participar dos encontros, dos cursos…”
Uma das missões especiais dos/as
agricultores/as experimentadores/as é a conservação e multiplicação das
diversas sementes crioulas. “Quem é da cidade, vai para feira e escolhe
o feijão pela qualidade e boniteza. Já a nossa ligação com o feijão é
pela família, pelo meu avô que guardava o feijão pra plantar. A nossa
relação com as sementes é para não perder a memória de nossos
antepassados, a nossa história. A gente se sente energizado a partir
deste contato, desta relação de respeito”, conta Arnaldo.
Redação do AL Notícias – Com informações extraídas do site http://www.caa.org.br/
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