Áreas desertas, solos esturricados, campos de sisal dizimados, tanques,
cacimbas, riachos e açudes engolidos pelo sol escaldante que abate
sobre os municípios de Ichu e Euclides da Cunha na região de Identidade
do Território do Sisal, tem provocado a dizimação de animais, apagados o
verde dos pastos, da caatinga e o brilho nos olhos dos sertanejos.
A
longa estiagem deve se levar em conta também, o desmatamento progressivo
que vem sendo executado há muito tempo por proprietários de áreas
rurais com o objetivo de formação de pastagens visando a criação de
animais notadamente bovinos, caprinos, ovinos, bem como plantio de
produtos da agricultura familiar - milho, mandioca e feijão -. Sem
critério de preservação da natureza, o pouco que ainda existe da
vegetação natural continua sendo derrubado pela ação do homem que não se
preocupa com a reação do planeta.
Com uma população de pouco mais de 6 mil habitantes e uma área
territorial de 145 quilômetros quadrados, o município de Ichu, teve no
último dia 9, Estado de Emergência reconhecido pelo governo estadual. O
prefeito Carlos Santiago viaja nesta terça-feira a Brasília, para tentar
o reconhecimento junto ao governo federal, já que a comunidade
necessita de ações emergências por parte das duas esferas para que possa
socorrer a população. A situação só não é de penúria por conta de que
1.556 famílias, têm os programas sociais como principal fonte de renda
para sobrevivência, o que vem evitando que 4.652 pessoas passem fome por
falta de trabalho, já que a prefeitura não tem como atender todos
pedidos. Além de socorrer o interior do município que não tem água nem
para o consumo humano e nem animal, a prefeitura vem atendendo também,
inúmeras famílias carentes da sede que necessitam do liquido por conta
da Embasa não cumprir com suas obrigações.
Santiago reconhece que a situação é
desesperadora por conta da economia do município que vem da agricultura
familiar que é formada por mais de 90% da população. “Infelizmente essa
estiagem que já perdura há anos, tem afetado os agricultores e o
comércio local. A seca de agora vem sendo comparada pior do que há de
1993, quando o plantel de animais foi parcialmente dizimado. No momento
só estamos atendendo os moradores com a distribuição de água. Apenas 30%
das solicitações estão sendo atendidas por conta da prefeitura não
dispor de recursos. Espero que os governos estadual e federal possam nos
ajudar para podermos amenizar a situação dos agricultores e das
famílias de baixa renda que necessitam de nossa atenção”, relata.
A comunidade que nas décadas de 70 a 90, chegou a ostentar a condição
de uma das principais bacias leiteira desta parte da Bahia, com produção
de 15 mil litros de leite/dia, hoje esses números não passa de 2,5 mil.
Segundo o maior produtor de leite do município, o empresário José
Gonzaga Carneiro, proprietário do Laticínio Aleluia, dos 17 mil litros
de leite que a fabrica recebe no dia a dia, para a produção de 14 itens
de derivados do leite - manteiga, requeijão, iogurte, queijos, bala café
leite e doce tablete -, 85% do produto, vem de municípios da região, já
que a produção interna não passa de 15%. “Acredito que os agricultores
precisam de apoio técnico e é necessário que os prefeitos da região
olhem melhor para eles e as prefeituras venham contratar especialistas
em zootecnia, técnicos agrícolas e de agropecuária para auxiliar o homem
do campo, só assim os municípios vão passar a ter uma fomentação maior e
melhor”, o alerta é do produtor leiteiro e empresário Gonzaga.
Em Euclides da Cunha
Com expressiva vocação para a produção de milho, feijão, mandioca e criatório de animais bovinos de corte, ovinos e caprinos, com o agravamento da estiagem a situação do município de Euclides da Cunha está feia e não existe comida na roça e nem água nos reservatórios. Segundo o prefeito Luciano Pinheiro, a prefeitura já fez a limpeza de 32 aguadas e vem socorrendo os flagelados com a distribuição de água potável. Cerca de 400 mil litros do liquido são pegues diariamente na Embasa por 15 carros-pipa contratados pela prefeitura para atender a população rural. Um caminhão de água vem sendo vendido no município entre R$ 120,00 e R$ 300,00, a depender da distância a ser percorrida pelo veículo. Como as pastagens foram engolidas pelo sol escaldante que vem acabando com tudo, as margens da BA 220 que liga a sede de Euclides da Cunha a cidade de Monte Santo, numa extensão de 37 km, o local vem sendo transformado em um cemitério a céu aberto de carcaça de animais mortos, como forma de chamar a atenção das autoridades sobre a gravidade da seca na área.
“O homem que arranca um pé de mandacaru, de ouricuri, de umbuzeiro ou de umburana, ele é um assassino da natureza e o pecuarista que dê remédio a um animal caído no pasto de fraqueza por não ter o que comer, é o mesmo que está dando uma dose de veneno para mata-lo antes do dia, porque não existe doença pior do que a fome” comenta o fazendeiro e agropecuarista Otacílio Celestino Reis (popular Silas), pai de quatro filhos, proprietário de 1.500 tarefas de terra, com pouco mais de 400 beneficiadas. “Para mim essa é a maior seca dos últimos tempos. Ela pegou todo mundo. Está vendo essa área aqui, eram 200 tarefas de capineira e o que vemos hoje é a terra pura, não nasce nada. O gado comeu toda a comida que tinha na seca passada e não houve tempo de recuperação das pastagens. É gado caindo e morrendo”.
Sequenciando Silas informou que Já gastou cerca de R$ 200 mil em compras de rações e está sujeito a perder o resto de animais porque tem semana de cair de três a quatro cabeças. “Eu que já cheguei a ter 300 cabeças de gado de corte, agora são 180. Sem forças para andar essa novilha em está muito debilitada e deve morrer a qualquer hora, em meio a esse sol escaldante na caatinga por não ter o que comer e beber. Com essa perda, sobe para 20 o número de animais mortos este ano. Além dos prejuízos a que venho tendo com a perda de animais, amargo também, prejuízos da ordem da ordem de quase R$ 200 mil, por conta da perdas de safras de grãos nos últimos anos. Nos bons tempos já cheguei a colher cerca de 800 sacas de milho e feijão, 400 de cada e agora não existe nada. Agora é só administrar prejuízos a cada dia por causa da seca”, explica Otacílio Rios.
Apontado como um dos maiores produtores de grãos de milho e feijão do município, o agropecuarista José Raimundo de Souza, teve que desembocar nos últimos dias, a importância de R$ 3,5 mil na compra de uma carreta de bagaço de cana, produto usado na mistura do milho moído e farelo de trigo, para alimentar 140 cabeças de gado por um período de 25 a 30 dias. Para manter o pequeno rebanho vivo, o proprietário da Fazenda Pai Tomé, José Pereira de Oliveira, comentou que vem alimentando os animais com palma, farelo de trigo, milho e quinzenalmente é obrigado a comprar um carro de água por R$ 120,00 para os bichos não morrerem de sede.
Por: Pedro Oliveira da Redação Diário do Sisal - Leia também na Tribuna da Bahia
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