Ser transgênero é lutar todos os dias com as adversidades
geradas pelos preconceitos. A luta para existir é diária e marcada por
diversas abdicações e pequenas conquistas.
Para quem é marginalizada
pela sociedade, ter a identidade reconhecida é uma vitória diária. É o
que conta Alana Adrielle, a primeira transexual da Bahia formada em
Jornalismo.
Alana interrompeu seus estudos aos 17 anos após sofrer
preconceito de um diretor de uma escola em Salvador. Dentre os
constrangimentos que ela passou, está a proibição de utilizar o banheiro
feminino. Apenas após seis anos do ocorrido ela voltou aos estudos,
tendo passado em uma universidade pública de Feira de Santana e se
formado ano passado em jornalismo pela Faculdade Anísio Teixeira (FAT),
19 anos após ter interrompido seus estudos.
A luta de Alana, no entanto,
começou muito antes deste episódio. Com 11 anos, ela descobriu ser
transexual, mas diz ter “deixado isso de lado” por medo da sociedade.
Aos 17, ela procurou apoio com profissionais e em sua própria família
para se assumir e iniciar a transição. Hoje, com quase 37 anos, e
residindo em Riachão de Jacuípe, Alana ainda sofre preconceitos por
conta de sua identidade.
Ela conta que as pessoas não a respeitam como
mulher e em diversas vezes fazem brincadeiras com seu nome de registro
civil. “Eu brinco que ele morreu e eu vim no lugar dele”, diz Alana,
rindo ao contar que ainda não usa seu nome social nos documentos e que
isso já a rendeu diversas situações engraçadas. “Eu era uma pessoa
obcecada por fazer a resignação social e para alterar meus documentos.
Quando eu entrei na faculdade, vi que lá as pessoas me respeitavam pelo
que eu mostrava e parei com essa obrigatoriedade. Mesmo assim, ainda
quero alterar meus documentos”, admite.
O sonho de Alana é ser
apresentadora de telejornal. “Imagina que incrível uma mulher trans
apresentando um telejornal no Brasil? Eu quero isso! Quero
representatividade para as mulheres trans”, atesta.
É a mesma
reivindicação de Viviane Vergueiro, mestre em Cultura e Sociedade,
ativista transfeminista e professora e pesquisadora em identidades de
gênero e diversidades corporais no Grupo de Pesquisa em Cultura e
Sexualidade da Universidade Federal da Bahia (CuS-UFBA). “Nossa luta é
para sobreviver e existir. É uma luta diária!”, afirmou Viviane, que
ressaltou a pauta de feminicídio. “O ativismo de mulheres trans e
travestis luta contra pessoas que nos matam, nos assassinam de forma
brutal por não aceitarem a nossa identidade”, disse.
Viviane também
ressaltou a importância das políticas públicas para transexuais, como o
direito ao nome social e cotas. “É muito além do que um mero capricho.
Tem a ver com o direito fundamental e humano da identidade. É a
possibilidade de ser reconhecida por aquilo que você se reconhece”.
Por Júlia Vigné Fonte: Bahia Notícias
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