O ex-presidente da empreiteira Odebrecht, Marcelo Bahia
Odebrecht, narrou durante seu acordo de delação premiada como a prática
de caixa 2 foi “naturalizada” durante as campanhas eleitorais. Segundo o
executivo, não existiu nenhuma campanha nos últimos anos que não tenha
recebido valores não declarados, mesmo que os candidatos beneficiados
não soubessem disso.
Foto: Reprodução Youtube |
Odebrecht explicou que as verbas não oficiais eram
uma forma de garantir o apoio a um candidato com quem tivessem uma
relação mais forte sem que os concorrentes tivessem noção disso. "Não
tem como você dar um montante diferenciado sem ser de caixa 2. Porque o
limite que a gente definia internamente para um candidato a governador
era R$ 200 mil. Então todo lugar em que a gente tinha uma relação forte,
por mais que usasse o comitê estadual ou nacional, tinha um limite. Em
algum momento, se tinha uma relação diferenciada, tinha caixa 2",
garantiu.
Marcelo explicou que os postulantes sabiam que todos recebiam
valores não declarados, “mas não conseguiam precisar quem tinha recebido
mais dinheiro”. "Eu não conheço nenhum político no Brasil que tenha
conseguido fazer qualquer eleição sem caixa 2. Caixa 2 era três quartos
do que eles tinham. O cara pode até dizer que não sabia, mas o dinheiro
que recebia do partido era caixa 2. Era um círculo vicioso que se criou.
Tanto é que quando se começou a escrutinizar aumentou a verba
partidária, as campanhas de agora [2016] ficaram mais baratas. Não tem
como, não existe. O político que disser que não recebeu está mentindo.
Esse crime eleitoral todo mundo praticou", frisou.
Com a naturalização
da prática, o caixa 2 praticamente deixou de ser considerado como crime
pelos partidos. Odebrecht narra, por exemplo, como auxiliou o senador
Aécio Neves (PSDB-MG) durante a campanha de 2014 à Presidência da
República. Em vídeo com a delação premiada que foi disponibilizado nesta
quarta-feira (12) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ele conta que
sua relação com o tucano começou no início dos anos 2000, quando ele
ainda era deputado federal, e que durante sua tentativa de chegar ao
governo de Minas Gerais o partido recebeu “contribuições relevantes” da
empreiteira.
Ele não soube precisar quanto das contribuições foram para o
Aécio ou outros parlamentares, quanto foi caixa 2 e quanto foi doação
oficial. "Eu sei que foi um montante relevante. A gente está falando de
pelo menos na ordem de R$ 50 milhões. Eu sei que foi mais ou menos isso
porque a gente comentou [sobre isso] na época e eu até estimulei ele.
Porque eu disse: 'Veja bem, é o único ponto que a gente tem hoje de
relevância com o PSDB, Aécio é uma pessoa que eu acho que vai ser
importante. Eu acho que vale a pena você assumir essas contribuições'",
lembrou.
Foi nesse período que sua relação com Aécio cresceu, até que
houve um pedido do senador feito diretamente a Marcelo para ajuda em
2014. "A partir daí, Aécio se tornou candidato. Naquela nossa lógica
empresarial, campanha presidencial era comigo. Então a primeira conversa
que eu tive para definir questão de valores com Aécio foi ainda
pré-campanha, em que o PSDB e ele precisavam ter gastos e eu acertei com
ele um valor - que depois a gente tentou recuperar, mas não se lembra -
que aparentemente pode ter sido até por doação oficial ao PSDB ou por
caixa 2, mas foram gastos pré-campanha que a gente ficou por dez meses",
detalhou, ao citar que também foram destinados cerca de R$ 5 milhões
oficiais à campanha eleitoral e outros R$ 3 milhões ao comitê do PSDB:
“Aí teve, na véspera do primeiro turno, Aécio teve aquela subida, tava
naquela discussão se Dilma ganhava ou não no primeiro turno, mas ele
precisava de fôlego. E ele pediu um encontro comigo. 'Olha Marcelo, eu
sei que você já doou para a pré-campanha, sei que já doou os R$ 5
milhões, o valor pro comitê, só que eu preciso'. E eu disse pra Aécio
naquele momento, a gente já tinha aquela limitação de caixa 2, e eu
falei: 'Aécio, é complicado. Porque eu não posso aparecer na véspera pra
você mais do que pra Dilma'. E aí a gente combinou, porque ele também
assumiu o compromisso de apoiar determinadas pessoas, e coincidiu de
serem pessoas que a gente tinha relação. E a gente falou alguns nomes.
Eu lembro de Agripino. Era um candidato que não tinha nenhum problema.
Aí a gente apoia e diz que o dinheiro veio por recomendação sua". Mesmo
assim, Marcelo garantiu que Aécio nunca vinculou qualquer pedido de
dinheiro a ajuda no Congresso.
Fonte: Bahia Notícias
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