O
mundo está à beira de um abismo. Pela primeira vez, desde a Guerra
Fria, se considera como risco real o início de uma 3ª Guerra Mundial. A
instabilidade, econômica e política, se deve principalmente ao aumento
das tensões entre Estados Unidos e Coréia do Norte. Recentemente, o
chefe de estado da Coréia, Kim Jong-un, acusou os governos americano e
sul-coreano de conspirarem para assassiná-lo.
Samuel Sabino |
Antes
disso, a movimentação de um porta aviões americano para a Península
Coreana foi encarada como uma provocação de guerra, sendo motivo de
troca de ameaças entre as nações. Poderíamos escrever um livro com as
informações sobre cada provocação e manobra realizadas pelos dois lados.
Isso porque, as tensões podem ter se intensificado nos últimos meses,
mas datam de muitas décadas.
A
instabilidade se ampliou, em grande parte, por conta da subida de Kim
Jong-un ao poder nos últimos anos e sua constante atitude provocativa.
Para completar o quadro, as eleições norte americanas colocaram Donald
Trump na Casa Branca, e este vem adotando cada vez mais posturas de
incentivo ao conflito, já que ele prometeu “tornar a América grande
novamente” e sua principal indústria é a da guerra.
Basicamente, a cada semana há uma nova atitude de provocação, ou de um lado ou de outro, todas imprudentes e que aproximam o mundo de um ponto de ruptura. Não coincidentemente, o início dos atritos entre Coréia do Norte e os EUA se iniciaram durante a Guerra Fria.
Na
época, a Coréia se dividiu entre do Sul e do Norte, sendo uma parte
apoiada pelos EUA e outra pela extinta URSS. Com líderes extremamente
nacionalistas, ambos os lados começaram uma guerra para dominar sua
outra parte e unificar o país, conflito esse que nunca terminou
oficialmente, mesmo que hoje exista um cessar fogo motivado por receios
de conflito com os aliados de cada Coréia.
Graças
as mudanças geopolíticas, a Coréia do Norte se aliou à China, enquanto
que a Coréia do Sul continuou sob proteção norte americana. Com a
entrada dos programas nucleares da Coréia do Norte em cena, as tensões
começaram a se ampliar até que nos dias atuais ameaçam iniciar a guerra
nuclear que nunca se concretizou durante o último confronto entre os
dois países.
Apesar
desse conflito ter fatores históricos e muito antigos, a verdade é que
os atritos só chegaram a esse ponto devido a total falta de ética dos
atuais governantes de ambas as nações, algo que não era visto com
tamanha proporção, desde a 2ª Guerra Mundial.
Atualmente,
ele é considerado iminente justamente por causa da soberania de ambos
os estados. Como a lei segue após a ética, ela considera apenas uma
parte de uma postura digna. Quando a lei é criada pelo governo,
raramente o governo é provado como criminoso, e todas as ações,
inclusive provocativas para com outras nações, são consideradas legais e
dentro da significância da soberania nacional.
O
problema é que essas nações esquecem de levar em conta que a soberania
nacional do outro país também existe e, por isso, não se pode fazer o
que quiser. Na verdade, eles não se "esquecem", apenas apontam armas
nucleares uns para os outros e quem estiver no meio que seja dizimado por uma guerra pela qual não pediram.
Essa
postura, sancionada pela lei, só poderia realmente ser parada se
considerada a ética. A moral antecede a obrigação legal. A guerra nasce
do abandono da moral, pois na guerra não se presa pela dignidade humana.
É somente através da moral que se constrói a verdadeira humanidade e,
quando se abandona isso, a lei é tudo que resta, os poderosos manipulam a
lei a seu favor e o mais forte ganha sobre o mais fraco. Nos
condicionamos ao mesmo patamar dos animais.
Foi
em uma carta de Albert Einstein para Sigmund Freud, dois dos maiores
pensadores de todos os tempos, que houve uma das mais importantes
discussões sobre de onde vem a guerra e como impedi-la. A conclusão de
ambos está justamente na aplicação da ética ao comportamento humano, de
forma que ele se reflita no comportamento de uma nação.
É
preciso abrir mão da liberdade de guerrear, para que haja a liberdade
de viver. Ser humano é utilizar a capacidade de abstração, de evolução,
para se libertar do instinto animal que presa pelo conflito e pelo
controle do mais forte e fazer valer a igualdade advinda de um dos mais
importantes instintos humanos, o de amar.
A
ética é isso, aplicar racionalmente o amor à toda uma sociedade, pois
se não é possível amar a todos, já que isso é utópico nesse estágio
evolutivo do ser humano, aplicar o amor de forma racional, através do
respeito ao outro, é a prática da moral, é a ética real.
A
humanidade é algo que se constrói. Ela vem do esforço moral de conviver
com o próximo respeitando sua dignidade. É somente através disso que se
pode evitar a guerra. É uma atitude que começa e se encerra no
indivíduo e se espalha para a sociedade à medida que se constroem
humanos melhores.
Se
os conflitos concretizarem uma 3ª Guerra Mundial, o mundo pode
realmente regredir a épocas sombrias, onde a falta de ética pode levar a
total perda da humanidade. A responsabilidade é de cada indivíduo na
prática ética cotidiana.
Samuel Sabino é fundador da Éticas Consultoria, Filósofo, Mestre em Bioética, e professor na Escola de Gestão da Anhembi Morumbi.
Por Samuel Sabino
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