Encampada por artistas como Targino Gondim, Chambinho do Acordeom,
Elba Ramalho e Alcymar Monteiro, a campanha “Devolva Meu São João” teria
um grande motivo para criar mais uma polêmica nos chamados “festejos
juninos” de Riachão do Jacuípe neste ano de 2017. Anunciada maciçamente
em carros de som, emissoras de rádio e pelos locutores do palco, a
programação ‘vende’ a ideia de 100 horas de forró durante os quatro dias
da festa, mas o que tem predominado são os ritmos da sofrência,
sertanejo e o pagode.
Algumas bandas até ensaiam tocar um repertório típico da festa criada por
Luiz Gonzaga, mas isso também fica só no cartão de apresentação, na
abertura dos ‘shows’. Daí em diante, o que se escuta são os ritmos do
carnaval, pagode, sertanejo e das festas de bailes funks. “Tem horas que
a gente só vê umas latas batendo. Deus me livre que aquilo não é São
João”, protestou uma mulher, indignada com o que ouviu na Praça Landulfo
Alves.
Pelas redes sociais, várias pessoas também se manifestaram
protestando contra o ‘mau gosto’ da grade de apresentação. “E o pior é
que, quando tem uma banda que tem um ritmo de forró, eles só colocam o
dia amanhecendo, quando o povo já foi embora”, reage outro morador.
Considerado
um dos melhores grupos da cidade, a banda de Olivan Monteiro foi das
poucas que se salvaram com um repertório tipicamente junino. “A melhor
atração foi Olivan Monteiro. Aí, sim, é forró. Mas tocou tão pouco… Sem contar que quem estava
perto do palco deu pra vê eles dando sinal e mandando Olivan sair… É
assim que dão valor as raízes”, disse outra internauta, polemizando a
discussão nos grupos do WhatsApp.
Mas, polêmicas à parte, se fosse para avaliar o nível das
apresentações, a campanha “Devolva Meu São João” teria muito o que
questionar no São João de Riachão do Jacuípe deste ano. Não só pela
qualidade das músicas tocadas, que tem contribuído para a
descaracterização da festa, mas também pelo nível das bandas, bem aquém
da grade dos anos anteriores.
Vendida
como banda ‘top’, a Limão com Mel há muito tempo não faz mais parte do
grupo que ocupa a primeira linha do chamado forró eletrônico do
Nordeste. Da mesma forma, a banda Saia Rodada, apresentada como
surpresa, é tão surpreendente quanto a sua rodagem de anos.
Enfim, o São João caminha para a última noite e não existe
perspectiva de melhora no que vai se apresentar no palco. Neste sábado
(24), penúltimo dia, um grupo até trouxe um repertório bem recheado de
músicas juninas, mas depois o já quase esquecido Sandro Becker se
encarregou de nos brindar com as suas velhas ‘putarias’ sem graça.
Ou seja, se alguém gritou “Devolva meu São João”, teve razões de sobra.
A Campanha
Foi do músico Nivaldo Expedito de Carvalho, mais conhecido como Chambinho do Acordeon, intérprete do Rei do Baião no filme Gonzaga: De pai pra filho,
a iniciativa da campanha “Devolva nosso São João”. A ideia surgiu no
ano passado, a partir de sua experiência no universo ficcional, enquanto
interpretava o personagem Targino dos 120 baixos na novela Velho Chico.
O músico da ficção, que saía do sertão para se apresentar em um
vilarejo, se deparava com uma situação muito parecida com a enfrentada
pelos sanfoneiros na realidade.
Na mesma época, foi se apresentar,
na véspera de São João, na cidade de Feira de Santana (BA) e se
emocionou com o depoimento de um sanfoneiro local, J. Sobrinho.
Conhecido na região, o sanfoneiro iria passar a primeira data junina sem
tocar em 30 anos. O depoimento emocionou Chambinho e o episódio
inspirou o diretor a denunciar a descaracterização dos festejos juninos
no enredo da novela. Com uma agenda de 25 shows para o mês de junho,
Chambinho diz que a maior preocupação é com a situação dos “pequenos”
músicos.
A convocatória nas redes sociais, explica, é o início de uma ação que
deve contar ainda com veiculação de um manifesto em vídeo e de projeto a
nas prefeituras dos principais polos juninos. Entre as frases
divulgadas pelos artistas na campanha, estão “Devolvam o nosso São
João”, “São João é do Nordeste” e “São João só é grande quando tem
forró”.
Do Interior Da Bahia
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