No sétimo ano consecutivo de mandato, o parlamentar ressaltou que não tem o “jogo de cintura” exigido para integrar este cenário
No sétimo ano consecutivo de mandato, o deputado Francisco Everardo
Oliveira Silva, o Tiririca (PR-SP), está desiludido com a política e
propenso a encerrar a carreira parlamentar em 2018. Em entrevista, um
dia após votar pela abertura de investigação contra o presidente Michel
Temer (PMDB-SP) por corrupção passiva, ele criticou o Congresso
Nacional. E ressaltou que não tem o “jogo de cintura” exigido para ser
político. “Não vai mudar. O sistema é esse. É toma lá, dá cá”, lamentou o
parlamentar.
Um dos deputados mais assíduos da Câmara, mas que só usou o microfone
três vezes no Plenário, Tiririca vê a maioria dos parlamentares
trabalhando para atender interesses próprios, em detrimento do povo. Ele
avalia que há parlamentares bem intencionados, mas que não conseguem
trabalhar porque o “sistema” não deixa.
“A partir do exato momento que você entra, ou
entra no esquema ou não faz. É uma mão lava a outra. Tu me faz um
favor, que eu te faço um favor. Eu não trabalho dessa forma”, desabafou.
Tiririca conta que, certo dia, uma rapaz o procurou para oferecer um
“negócio” de aluguel de carro.“O cara disse, ‘bicho, vamos fazer assim,
tal, o valor tal’. Eu disse: acho que você está conversando com o cara
errado. Não uso carro da Câmara, o carro é meu. Ele disse: ‘não, é
porque a maioria faz isso’”, relatou o parlamentar, sem dar nomes e mais
detalhes sobre o fato. “Fiquei muito decepcionado com muita coisa que
vi lá”, acrescentou.
Após se eleger duas vezes deputado com mais de um milhão de votos em
cada uma das eleições, Tiririca acha que não tem como continuar na
política. “Do fundo do meu coração, estou em dúvida, e mais para não
disputar”, confessou.
Questionado se a aversão a políticos tradicionais não poderia
favorecê-lo, ele respondeu: “Pode ser que sim ou que não. Mas, para
fazer o que? Passar oito anos e aprovar um projeto”, desabafou o
deputado, que só conseguiu aprovar uma de suas propostas em sete anos de
mandato: a que inclui artes e atividades circenses na Lei Rouanet.
Tiririca admitiu que disputou o primeiro mandato, em 2010, apenas para tentar ganhar visibilidade como artista. Mudou de ideia quando foi eleito com 1,3 milhão de votos, o que o tornou o deputado mais votado do país. “Aí disse: opa, espera aí. Teve voto de protesto, teve. Mas teve voto de pessoas que acreditam em mim. Não posso brincar com isso”, afirmou. À época, o deputado foi eleito ao usar o slogan “Pior do que está não fica” durante sua campanha.
Em 2014, decidiu disputar reeleição “para provar que não estava de
brincadeira e que fiz a diferença na política”. E foi reeleito com 1,016
milhão de votos.
No segundo mandato, Tiririca votou tanto a favor do impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e pela abertura de investigação contra
Temer, mesmo com a pressão da direção partidária sobre ele. “Tem um
ditado que minha mãe fala sempre: errou, tem que pagar”, disse. Para
ele, os indícios apresentados contra o presidente “era coisa muito
forte”. “Acho que ele tinha que entregar os pontos e pedir para sair.
Foi muito feio, muito agressivo para o país essas denúncias.”
Quando perguntado se o Brasil tem jeito, lembrou uma música “das
antigas” de Bezerra da Silva, cujo refrão diz “para tirar meu Brasil
dessa baderna, só quando morcego doar sangue e saci cruzar as pernas”.
Com toda a desilusão e os planos de deixar a política, Tiririca
voltou a fazer shows como palhaço há cinco meses. O espetáculo conta a
história de vida dele e é exibido de sexta a domingo, cada fim de semana
em um estado. De segunda a quinta-feira fica em Brasília, onde mora com
a esposa e uma da filhas.
Fonte: Metropoles.com
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