A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) enfrenta uma
crise política, orçamentária e científica sem precedentes em seus quase
45 anos de história, a serem completados em abril.
Maior instituição
pública de pesquisa do País e responsável pela tropicalização de
culturas como a soja, a Embrapa tem seu orçamento de R$ 3,5 bilhões
ameaçado por um corte estimado em mais de 20% em 2018. Cerca de 85% do
orçamento é consumido com pagamento de salários e benefícios dos 9,6 mil
funcionários. As despesas com pesquisa (R$ 66,8 milhões) representaram
2% dos gastos da estatal em 2017. O valor é o menor desde 2010 e está
31% abaixo dos R$ 96,9 milhões investidos na área em 2016.
Os
contingenciamentos promovidos pelo governo federal, segundo a Embrapa,
explicam a queda. Recentemente, a estatal passou a ser criticada
internamente por pesquisadores e até pelo ministro da Agricultura,
Blairo Maggi. Ele costuma dizer que a Embrapa "vive dos louros do
passado". A crise interna se tornou pública, no início do mês, no artigo
"Por favor, Embrapa: acorde!", do sociólogo rural Zander Navarro. O
texto, publicado no Estado, em 5 de janeiro, provocou a demissão de
Navarro, pesquisador da Embrapa.
A saída para a crise também é polêmica e
passa por uma reestruturação completa na empresa. Estão previstas desde
medidas simples, como a redução de linhas de ônibus destinadas ao
transporte de funcionários em sua sede, em Brasília, às mais radicais,
como o fim de unidades, redução de centros de pesquisas e um Programa de
Desligamento Incentivado (PDI) para reduzir em até 20% gastos com
pessoal.
Com o PDI, a Embrapa pretende reduzir a folha de pagamento, mas
manter o número de funcionários. A ideia é trocar empregados com altos
salários que aderirem ao programa por funcionários contratados por
concursos futuros e vencimentos mais baixos.
Algumas mudanças
estruturais já começaram. As 15 unidades centrais foram transformadas em
cinco secretarias. Os 46 centros de pesquisas espalhados pelo Brasil
foram reduzidos para 42. A unidade de algodão, em Campina Grande (PB),
está entre as que devem ser fechadas.
Paralelamente, um projeto de lei
para a criação da EmbrapaTec está na Câmara dos Deputados desde 2015. A
proposta prevê a criação de uma subsidiária privada da Embrapa para
operar no mercado de inovação, facilitar parcerias em pesquisas e até
sociedades com outras empresas. O projeto enfrentou resistência no
Legislativo e só começou a tramitação em comissões no final do ano
passado.
No cargo desde 2012, Maurício Antônio Lopes, o mais longevo
presidente da Embrapa, defende as mudanças idealizadas no seu mandato.
Ele garante que "a grande maioria dos pesquisadores foi consultada", em
comunidades virtuais da companhia e em videoconferências. "É uma falácia
dizer que Embrapa não é aberta ao diálogo", disse ele, rebatendo as
críticas a sua gestão. "São críticas da era da transparência radical e
das mídias sociais. É ótima essa transparência, desde que não coloque a
instituição no caos".
Para ele, o comprometimento acima de 80% do
orçamento com a folha de pagamento não pode ser tratado como um custo.
"Não podemos cair no discurso de que salário em instituição de ciência é
custo. O principal pilar da (Embrapa) é o cérebro do pesquisador e
temos de desmistificar isso".
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores de
Instituições de Pesquisa Agropecuária e Florestal (Sinpaf) rebate Lopes.
Edson Somensi, vice-presidente da entidade, diz que não há debate com
os servidores da estatal. O Estadão / Broadcast conversou na última
semana com pesquisadores da Embrapa sobre a crise interna da empresa.
O
clima é de medo com possíveis represálias. Sem se identificar, muitos
deles comparam a Embrapa a universidades públicas. "A Embrapa não
demanda pesquisadores; os pesquisadores têm suas próprias demandas. Isso
é para a universidade e não pode ocorrer em uma empresa que precisa dar
resultados", disse um dos pesquisadores, que participou da fundação da
Embrapa.
"A crise é brutal". A diretoria prega que a reforma na estatal
desenhará a Embrapa do futuro, com o foco em inovação e pesquisas em
áreas nas quais grandes companhias não atuam. "Não faz sentido que
Embrapa cumpra o papel do setor privado cumpre muito bem", diz o
presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Gustavo Porto, especial para O Estado | Estadão Conteúdo / Extraída do Bahia Notícias
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