Victor Maximiano Carneiro, seu Vitor da Queimada como é conhecido,
é um dos oito filhos do casal Roque Agnelo Carneiro (Roque da
Queimada) e a senhora Maria Conegundes Carneiro. Vitor Maximiano
Carneiro nasceu em 21 de fevereiro de 1925 na fazenda Queimada, zona
rural de Ichu. Quando criança dividia seu tempo entre a luta do campo e o
lazer com seus amigos e irmãos. Ele conta que gostava muito de brincar
de bola.
Em março de 1946 casou com a senhora Palmira Cordeiro
Santiago Carneiro e continuou a morar na fazenda Queimada, herança de
seus pais. Desta união nasceram 10 filhos. Na sua propriedade criava
animais, além de plantar milho batim, feijão mulatinho, feijão gordura,
feijão mineiro, manivas para a produção de farinha, tirava sisal no
farracho (tecnologia daquela época), e transportava o sisal para a
cidade de Serrinha no lombo de um jumento. Seu Vitor também trabalhava
na “arte”, (construção civil, como ele chama), sendo um bom pedreiro,
carpinteiro e também funileiro, de onde tirava o sustento da sua
família.
Em 1962 seu Vitor veio morar na sede do município de Ichu,
com o objetivo de facilitar e contribuir nos estudos de seus filhos. Na
cidade, entre 1964-65, adquiriu uma nova profissão passando a ser
comerciante. Na sua venda se encontrava de tudo daquela época, não podia
faltar gás e pavios para os candeeiros, rapadura, fumo de corda. Neste
mesmo período ele começou a fazer transporte alternativo para a cidade
de Riachão do Jacuípe aos sábados em sua caminhonete, transporte chamado
“Pau de Arara” popularmente. Dona Mira, com seu dom de costurar e
bordar, facilitou vários cursos de corte e costura na cidade.
Para a
sociedade ichuense Vitor da Queimada tem grande contribuição,
principalmente se tratando da religiosidade e cultura popular. Ele ficou
com a incumbência de dar continuidade a devoção de sua família, com a
reza ao glorioso São Roque, que recebeu de seu pai e que perpetua a
mais de cem anos. Ele não sabe dizer ao certo quando iniciou essa
devoção, apenas conta que veio de seu pai. A novena acontece todos os
anos, encerrando no último sábado do mês de agosto.
Mais tarde seu Vitor
começou a confeccionar e queimar um boneco simbolizando Judas, o
traidor, no encerramento da novena, atraindo muitas pessoas para
prestigiar a brincadeira que ao longo dos anos ganhou significado para o
povo ichuense e virou uma manifestação cultural. Segundo seu Vitor a
ideia do Judas surgiu depois que ele foi ajudar a montar um boneco de
Judas para um conhecido. “Na verdade nunca tinha feito um Judas, apenas
via o senhor Anatanael (im memoria) armar os artifícios dentro de um
boneco, como eu era curioso sempre ficava perto dele e ganhei um pouco
de experiência. Nisto armei para um amigo, não cobrei nada e ele mim
ofertou alguns estopins e os fogos de artificio, então fiz o meu Judas e
queimei aqui mesmo na rua, foi no fundo da igreja. A partir desse ano
comecei a queimar o Judas no final da novena”, conta seu Vitor. A
tradição do Queima de Judas da novena de São Roque já passa de 50 anos e
a cada ano é feito com mais capricho para que tudo ocorra dentro da
normalidade. O boneco do Judas é produzido por seu Vitor com auxílio de
alguns filhos e netos. Antes da queima do Judas é lido um testamento
onde são divididos seus bens para as pessoas que ali estão presentes,
causando muito riso e diversão.
Seu Vitor e dona Mira também
contribuíram com uma das maiores festas religiosas do nosso município.
Já foram casal presidente da Festa do Padroeiro Sagrado Coração de
Jesus, além de serem membros do Apostolado da Oração.Seu Vitor foi
grande colaborador na construção da capela de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro da comunidade de Umbuzeiro. Já dona Mira, foi por vários anos
ministra extraordinária da Sagrada Comunhão, na paróquia Sagrado Coração
de Jesus.
Em 1970 seu Vitor fez uma experiência na vida política
sendo candidato a vereador, ficando na cadeira de primeiro suplente.O
casal também foi um dos sócios fundadores da Associação Comunitária de
Calumbi.
Atualmente ainda mantém sua venda, não como uma fonte de
renda, mas como um ponto de encontro de amigos que se reúnem para
brincar dominó, fazerem perguntas (adivinhas e charadas), além de ser um
ponto de contos e causos.
Seu Vitor e dona Palmira já vivem 72
anos de união matrimonial, ao lado dos seus 10 filhos, 29 netos, 33
bisnetos e 1 tataraneto.
Não poderia deixar de registar neste texto,
que durante a nossa conversa, várias pessoas nos interrompia e pedia a
bênção a seu Vitor, e a cada bênção ele sorria e o abençoava.
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