Inquérito civil busca conhecer a metodologia implementada mediante convênio entre a UPB e a PM/BA, que prevê, ainda, a contratação de militares da reserva sem concurso público para desempenharem funções escolares
A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) na Bahia
instaurou inquérito civil público, em 10 de setembro, para acompanhar a
aplicação da “metodologia e filosofia” de colégios militares em escolas
públicas, anunciada por representantes do governo do estado.
Segundo informações divulgadas no site da União dos Municípios da Bahia (UPB), no dia 10 de maio deste ano, estão sendo celebrados convênios entre municípios e a Polícia Militar, com a finalidade de “aplicar metodologia de ensino dos Colégios Militares nas escolas dos municípios em combate ao avanço da violência”, com a previsão de contratação de policiais militares da reserva para atuar no projeto. O fundamento para a medida é o resultado das avaliações dos colégios da PM/BA no Índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB), superiores aos demais colégios públicos.
Com o inquérito civil, pretende-se obter maiores informações sobre a
citada política pública e avaliar seu embasamento técnico, a forma de
implantação e suas possíveis consequências.
Para o procurador regional dos Direitos do Cidadão na Bahia, Gabriel
Pimenta Alves, o desempenho escolar dos alunos está relacionado a
diversos fatores, havendo estudos recentes do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) que indicam que o principal desses
fatores nas redes públicas brasileiras é o grau de instrução das mães
dos alunos.
Para o procurador, também deve ser considerada a influência do nível
socioeconômico dos alunos, pois dados divulgados pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) demonstram
que o Colégio Militar de Salvador, com a melhor avaliação entre as
escolas públicas, tem classificação de nível socioeconômico dos alunos
considerado “muito alto”, enquanto os colégios da PM/BA, com boas
avaliações entre as escolas públicas, possuem nível socioeconômico entre
“médio alto” e “médio”.
Foi destacado que a diferença do perfil socioeconômico pode ser
explicada pela reserva de 50% das vagas dos colégios da PM/BA do
interior e de 70% das vagas das unidades da capital para filhos de
militares estaduais e servidores públicos civis da corporação.
Segundo Gabriel Pimenta, apesar de todas essas variáveis e da
complexidade do assunto, não se tem conhecimento da existência de estudo
embasando a conclusão que a melhor avaliação no IDEB, em comparação aos
demais colégios públicos, decorreu da citada 'metodologia e filosofia'
dos colégios da PM/BA, e não da melhor estrutura, da forma peculiar de
seleção e do nível socioeconômico de seus alunos.
“A desejada melhora do ensino público deve ser buscada com apoio em
estudos e projetos pedagógicos, e com observância da Constituição
Federal, a qual, no artigo 206, estabelece que o ensino será ministrado
com base na liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber (Inciso II), no pluralismo de ideias e de
concepções pedagógicas (Inciso III) e na gestão democrática do ensino
público (Inciso VI)”, ressalta o procurador.
Gabriel Pimenta Alves também pretende esclarecer as condições da
contratação de militares da reserva para o desempenho de funções
escolares e sua compatibilidade com o artigo 206 da Constituição
Federal, que prevê o ingresso na carreira de profissionais da educação
das redes públicas exclusivamente por meio de concurso público de provas
e títulos.
Como providências iniciais, o PRDC oficiou o secretário de Educação da
Bahia, solicitando informações sobre a aplicação de metodologia dos
colégios militares em escolas públicas do Estado e sobre a participação
da Secretaria nesse projeto, bem como para encaminhar eventuais estudos
pedagógicos sobre o mérito dessa metodologia de ensino e sobre sua
compatibilidade com o art. 206 da Constituição. Também foram enviados
ofícios ao comandante da PM/BA, para que encaminhe cópia do convênio
firmado com a UPB e para informar em quais escolas essa metodologia já
foi aplicada; e ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da
Bahia, para prestar informações.
PRDC – a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão
(PRDC) é responsável pela atuação em prol da proteção e defesa dos
direitos fundamentais como a liberdade, igualdade, dignidade, saúde,
educação, assistência social, acessibilidade, segurança pública, o
direito à informação e à livre expressão, entre outros. Saiba mais sobre
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O que acontece agora?
O que acontece agora?
O inquérito civil público é o procedimento instaurado pelo MPF para a
investigação de danos ou ameaça de dano a bens de interesse difuso,
coletivo ou individuais homogêneos. Com a instauração do inquérito, são
definidas as diligências, que são providências a serem executadas para o
esclarecimento das questões tratadas. Após concluídas as investigações,
o MPF decidirá sua atuação, que poderá ser administrativa – como a
expedição de recomendações ou termos de ajustamento de conduta – ou
judicial, com o ajuizamento de ação civil pública. Caso a conclusão do
inquérito não aponte irregularidades na situação, ele pode ser
arquivado.
Do Acorda Cidade
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