Apesar de balanço do Ministério da Saúde apontar que
todas as vagas do Programa Mais Médicos na Bahia foram preenchidas na
primeira etapa de inscrições (veja aqui),
a realidade se mostra diferente, especialmente nos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas (DSEIs). Do total de 19 vagas abertas no edital, 10
já foram recusadas pelos profissionais.
De acordo com Itana Miranda, chefe da Divisão de Atenção à
Saúde Indígena do DSEI Bahia, além das desistências, há ainda um médico
com um pedido não previsto no edital, de iniciar sua atividade apenas em
janeiro de 2019. Dessa forma, apenas oito profissionais estão atuando
nas comunidades indígenas baianas.
“Nós tínhamos necessidade de 19 médicos. No total, tínhamos
20 médicos do programa, sendo uma brasileira. Quando foram abertas as
inscrições, tivemos adesão de 100%. Todos os 19 foram inscritos,
compareceram e, quando fizemos o processo de explicar como funciona a
saúde indígena e onde eles iriam ficar - não nos municípios, mas nas
aldeias -, muitos desistiram”, explicou, em entrevista ao Bahia
Notícias.
Na Bahia, vivem 23 etnias indígenas, distribuídas em nove
distritos sanitários: Euclides da Cunha, Ibotirama, Ilhéus, Itamaraju,
Juazeiro, Pau Brasil, Paulo Afonso, Porto Seguro e Ribeira do Pombal. Os
DSEIs com maior adesão no Mais Médicos foram aqueles localizados em
municípios mais desenvolvidos, como Ilhéus e Porto Seguro.
“A maioria já chega com pensamento de ir para uma cidade mais
centralizada, como Ilhéus e Porto Seguro, mas nós temos lugares como
Ibotirama, onde as aldeias ficam distantes e com difícil acesso”,
afirmou o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena da Bahia
(Condisi-BA), Sérgio Bute.
COMO FICA A SAÚDE?
No período em que os médicos cubanos atuaram, 80% das
demandas eram resolvidas dentro das próprias aldeias, de acordo com
Itana. Devido à desassistência, os indígenas precisam recorrer às sedes
atualmente. No entanto, a situação nos municípios não está muito
diferente.
Em Pau Brasil, por exemplo, foram abertas cinco vagas do
Programa Mais Médicos, três para o município e duas para o distrito
indígena. Até o momento, nenhum profissional se apresentou, de acordo
com o secretário da Saúde de Pau Brasil, Adenilson Sena. Por conta
disso, apenas um médico, com contrato municipal, é responsável pelo
atendimento no local.
Houve ainda, segundo Sena, uma tentativa de burlar as regras
do edital no município. “Entre esses cinco, uma entrou em contato e
queria que a gente deixasse ela trabalhar em ‘turnões’. Eu falei que,
para a gente, não era interessante”, contou. O programa prevê carga
horária de 40 horas semanais, sendo 32 horas de atuação nas unidades
básicas de saúde e 8 horas dedicadas a ações de educação.
“Essa questão de falta dos médicos é muito complicada, porque
estamos falando do atendimento básico, do primeiro atendimento antes da
média e alta complexidade”, lembrou Bute. “A gente tem pacientes
hipertensos, diabéticos, gestantes, crianças em condições crônicas e uma
série de especificidades. A gente está com a saúde fragilizada por
conta desse déficit de médicos”, acrescentou Itana.
SOLUÇÃO
Para o presidente do Condisi-BA, o governo federal deveria
oferecer condições diferenciadas para os médicos que, por ventura,
escolham trabalhar nos DSEIs. Ele argumentou que o salário de R$ 11,5
mil não é atrativo quando o trabalho é realizado em uma região de
difícil acesso, como alguns distritos indígenas.
“O médico aqui no Brasil se forma na certeza de que ele vai
enricar. Ele vê um trabalho de R$ 11 mil com compromisso de 40 horas e
não tem interesse. Se ele tivesse uma carga horária com facilidade de
ter outro vínculo, ele poderia juntar os dois. Esse salário não é
realmente o que eles estão querendo”, argumentou. “O salário de R$ 11
mil é bom, mas o médico brasileiro já cria o hábito de que tem como
ganhar mais”.
Bute lembrou que os médicos cubanos levavam “uma saúde
diferenciada” para os indígenas, com relação à dedicação e humanização
do trabalho. “Eles iam até montados em animais”, disse. Na opinião dele,
dificilmente profissionais brasileiros aceitarão algumas situações que
estão postas.
Na tentativa de ocupar as vagas já recusadas pelos inscritos,
o DSEI Bahia vai recorrer agora ao cadastro reserva. Itana afirmou que a
equipe entrará em contato com outros profissionais para apresentação
dos postos de trabalho vagos. “O importante é que venha e rápido, porque
saúde não espera”.
Por Renata Farias / Bahia Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ICHU NOTÍCIAS.
Neste espaço é proibido comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Administradores do ICHU NOTÍCIAS pode até retirar, sem prévia notificação, comentários ofensivos e com xingamentos e que não respeitem os critérios impostos neste aviso.