Um grupo de trabalho coordenado pelo vice-presidente do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, propõe mudar
radicalmente a forma de eleger vereadores no ano que vem.
Foto: Arquivo |
Em documento
entregue no mês passado para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), o tribunal defende adotar, já em 2020, o sistema distrital
misto em cidades com mais de 200 mil habitantes. A ideia é separar os
município em distritos, que elegeriam seus representantes isoladamente
(veja detalhes da proposta ao fim do texto).
Ministro Luís Roberto Barroso | Foto: Divulgação |
O modelo distrital misto, inspirado no sistema adotado na Alemanha,
prevê a divisão dos Estados e municípios em distritos eleitorais – dessa
forma, os candidatos a vereador em um bairro da zona sul de São Paulo,
por exemplo, seriam diferentes daqueles dos eleitores de um bairro na
zona norte. A divisão de cada cidade em distritos seria feita pelo
próprio TSE, que convocaria audiência pública com representantes dos
partidos políticos para definir os critérios e os limites de cada um.
Questionado, o TSE não informou até a conclusão desta edição sobre
previsão para a audiência nem sobre estudos envolvendo a divisão das
cidades em distritos. Um dos receios é de que a definição dos limites
geográficos de cada região beneficie candidatos e leve a distorções no
resultado das eleições – nos Estados Unidos, a polêmica chegou à Suprema
Corte, que concluiu que não cabe ao tribunal decidir sobre a divisão
dos mapas.
No sistema proposto pelo grupo de trabalho do TSE, metade das
cadeiras na Câmara Municipal, assembleias legislativas e da Câmara dos
Deputados seria definida conforme o voto distrital – ou seja, o voto nos
candidatos de cada região. A outra metade seria eleita pelo chamado
voto em legenda, em lista fechada, em que os candidatos de cada partido
são informados em uma lista predeterminada, que já definiriam a ordem em
que as vagas serão preenchidas. Neste caso, o eleitor escolhe uma
lista, e não um candidato.
‘Não sei se tem voto para passar no Congresso’, afirma Rodrigo MaiaRodrigo Maia | Reprodução |
Rodrigo Maia, no entanto, disse ao Estado que vê a mudança no sistema
eleitoral como difícil de ser aprovada a tempo de valer para o ano que
vem. “É uma proposta muito boa. Não sei se tem voto (para passar no
Congresso), porque mudar o sistema eleitoral é difícil”, afirmou.
Para o presidente da Câmara, o sistema atual vem gerando uma
pulverização do quadro político, o que atrapalha a “governabilidade e a
relação do Executivo com o Legislativo” pelo número excessivo de
partidos.
As críticas ao atual sistema são endossadas por Barroso, que assumirá
o comando do tribunal em 2020. Para o ministro, o Brasil precisa de uma
reforma política capaz de baratear o custo das eleições e facilitar a
governabilidade. “Numa democracia, só a própria política pode se
autotransformar. Muitos, como eu, creem que o sistema distrital misto
oferece essa oportunidade. Esta será uma atuação patriótica do
Congresso, que irá reaproximar a representação política da sociedade.
Como quase tudo na vida, ninguém pode garantir de antemão que vá dar
certo. Mas o sistema atual não está sendo bom para o País”, disse
Barroso ao Estado.
A adoção do distrital misto encontra resistência entre parlamentares –
para entrar em vigor em 2020, seria necessário aprovar as mudanças até o
fim de setembro, um ano antes das próximas eleições. “Teríamos dois
meses apenas, é impossível chegar a um acordo”, afirmou o presidente do
Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP).
O debate ainda dividiria as atenções no Congresso com as articulações
em torno da reforma da Previdência. “A Câmara tem de conseguir discutir
diversas matérias ao mesmo tempo”, disse a deputada Carla Zambelli
(PSL-SP). “Não gosto do distrital misto porque tem a parte da lista, que
é completamente antidemocrática e dá muito poder para o dirigente
partidário”, afirmou Zambelli, que prefere o distrital “puro”.
Na opinião do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o distrital misto
pode criar problemas em algumas cidades, como o Rio. “As áreas de
milícia no Rio são enormes, você pode estar legitimando e viabilizando
que aqueles grupos que têm o controle territorial tenham o controle
também político.”
Veja qual é a proposta do TSE para as eleições
Modelo
Como é: A eleição de deputado federal, estadual, distrital e de vereador depende da votação do partido ou coligação – é o sistema eleitoral proporcional.
Como é: A eleição de deputado federal, estadual, distrital e de vereador depende da votação do partido ou coligação – é o sistema eleitoral proporcional.
Como ficaria: As cidades com mais de 200 mil habitantes adotariam o
sistema distrital misto. O modelo, inspirado na Alemanha, prevê a
divisão dos Estados e municípios em distritos eleitorais.
Candidatos
Como é: Os candidatos são os mesmos para os eleitores de regiões distantes, como Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, e Santana, na zona norte, por exemplo.
Como é: Os candidatos são os mesmos para os eleitores de regiões distantes, como Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, e Santana, na zona norte, por exemplo.
Como ficaria: Por esse modelo, os candidatos do Jardim Ângela, por
exemplo, seriam diferentes daqueles dos eleitores de Santana. A divisão
em distritos seria feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Votação
Como é: O eleitor pode escolher votar tanto no candidato de sua preferência, como no número de sua legenda preferida.
Como é: O eleitor pode escolher votar tanto no candidato de sua preferência, como no número de sua legenda preferida.
Como ficaria: Modelo combina voto proporcional e voto majoritário. O
eleitor tem dois votos: um para candidatos no distrito e outro para as
legendas (partidos).
Do Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário
AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ICHU NOTÍCIAS.
Neste espaço é proibido comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Administradores do ICHU NOTÍCIAS pode até retirar, sem prévia notificação, comentários ofensivos e com xingamentos e que não respeitem os critérios impostos neste aviso.