Três mil pessoas, presentes no Ginásio Nilson
Nelson, testemunharam, em 12 de agosto de 1989, a última apresentação de Raul
Seixas. Naquela noite, ele dividiu o palco com Marcelo Nova, em show pela
segunda edição do Festival Latino-Americano de Arte e Cultura (Flaac),
promovido pela Universidade de Brasília (UnB). Com a saúde debilitada, o Maluco
Beleza estava feliz, mas tinha a voz trêmula e demonstrava dificuldade para se
movimentar no palco.
Nove dias depois, às 7h da manhã, o “pai do rock
brasileiro”, aos 44 anos, foi encontrado morto no quarto da casa onde morava em
São Paulo, fato que provocou grande comoção nacional. O cantor e compositor
nascido em Salvador, onde iniciou a carreira, à frente da banda Raulzito e Os Panteras,
deixou um rico legado para a música popular brasileira.
A obra de Raul está registrada em 17 álbuns de
estúdio e mais outros 15 discos, entre os gravados ao vivo e coletâneas. Marca
presença também nas trilhas sonoras do filme O início, o fim e o meio, de
Walter Carvalho, e do espetáculo teatral Merlin e Arthur – Um sonho de
liberdade, com direção de Guilherme Leme.
Hoje, antevéspera das três décadas sem Raul, a
memória desse ícone pop será celebrada em encontro intitulado 30 anos de
saudade, na Feira da Torre (Eixo Monumental). O evento começa às 16h e tem como
ponto alto a DJ Vivi Seixas, filha caçula do homenageado; Rick Ferreira,
guitarrista que participou da gravação de quase todos os discos do roqueiro; o
músico capixaba Sandrera; Tika Seixas; e as bandas brasilienses Dentadura
Postiça, Rickardo Kábula, Metamorfose SA e SOS Toca Raul.
Quem coordena o encontro – que tem como referência
a passeata em tributo a Raul Seixas, realizada no dia 21, em São Paulo — é o
coletivo formado por Rosana Sarkis Campos, Pedro Wolf de Oliveira, Tiago Bastos
João, Luciano Monteiro Bezerra, Ricardo Retz e Valério Guilherme. “Há cinco
anos promovemos os 30 anos de saudade, para manter viva a aura do nosso ídolo,
o eterno Raulzito. As quatro edições anteriores foram na Praça do Cebolão, no
Setor Comercial Sul. Agora vamos realizá-lo na área de eventos da Feira da
Torre, um local de acesso mais fácil”, ressalta Rosana.
Vivi Seixas, radicada em Brasília desde novembro de
2018, tem desenvolvido o projeto Love Beats, que foi levado por duas vezes ao
Mormai (Pontão do Lago Sul). “Trabalho há 14 anos e tinha vindo aqui algumas
vezes para apresentação em festas. Sempre gostei da cidade, onde fui bem
acolhida. O fato de ser filha de Raul abre portas”, diz Vivi. “Com certeza vou
me emocionar bastante ao participar desse tributo, promovido por músicos e fãs
brasilienses”, acrescenta.
Memória afetiva
A DJ conta que conviveu pouco com Raul – quando ele
morreu, ela ainda era criança. “Guardo na lembrança as brincadeiras da
infância, em que ele fazia o papel de Capitão Gancho. Para mim é motivo de
orgulho perceber que, passados 30 anos da morte dele, Raul se mantém vivo na
memória afetiva dos brasileiros, que o têm como um dos ícones da música popular
brasileira”.
Guitarrista que participou das gravações dos discos
de Raul Seixas, Rick Ferreira é outro convidado especial dos 30 anos de
saudade. O músico carioca foi apresentado ao cantor em 1972 por Sérgio
Carvalho, que era produtor da gravadora Phonogram (atual Universal Music),
depois se aproximou também de Paulo Coelho.
“Entre os mais de 150 artistas com quem trabalhei,
de Erasmo Carlos a Zé Ramalho, Raul foi o mais frequente. De Gita a A Panela do
diabo (LP com Marcelo Nova), participei de todos os discos dele”, lembra Rick.
“Tínhamos ótima relação pessoal e profissional. Ao elaborar ideias para
arranjos, ele costumava trocar ideia com os músicos”, complementa o
guitarrista. Dia 3 último, ele e sua banda tomaram parte do show 30 Anos sem
Raul, ao lado de Marcelo Nova e outros artistas, no Circo Voador (Rio de
Janeiro).
Outro que participou da homenagem a Raul no Circo
Voador foi o cantor e violonista capixaba Sandrera, que também vai marcar
presença no encontro de hoje na Feira da Torre. Com o show Raulzera, que
apresenta na companhia de Sylvio Passos (amigo e criador do primeiro fã-clube
de Raul Seixas), o instrumentista tem viajado pelo Brasil e exterior.
“Recentemente musiquei uma carta que Raul enviou para Kika Freitas, em 1989,
publicada no Facebook da filha Vivi Seixas”, aponta. “No encontro em Brasília,
finalmente vou conhecer a Vivi. Estou na maior expectativa”, complementa.
Mosca na sopa
Líder da banda SOS Toca Raul, Tiago Bastos João tem
demonstrado sua paixão pelo ídolo, que teve início na pré-adolescência, quando
chegou a casa e viu a mãe ouvindo o clássico Mosca na sopa. “A partir dali me
tornei fã incondicional. O que mais me chama a atenção na música desse mestre
do rock brasileiro é a forma como ele se expressa nas letras, sempre com um
viés político, que são atuais até hoje. No encontro deste sábado, volto com minha
banda a reverenciar o imortal Raul Seixas”, celebra antecipadamente.
A paixão de Humberto Martins Porto pela obra de
Raul Seixas é tanta que, na adolescência, adotou o pseudônimo de Tika Seixas.
Ele tomou conhecimento da música do ídolo em 1986, por meio de um irmão. “Eu ia
para a casa do meu irmão e ficava ouvindo aqueles vinis. Logo depois, passei a
dar canja em shows da Frisson, banda de um amigo, que tocava na noite. Em
seguida, formei a minha própria banda, à qual dei o nome de Dentadura Postiça.
Em 1998, indo a Salvador, conheci dona Maria Eugênia, a mãe de Raul, já
falecida”. Tika mantém a banda, que será uma das atrações do 30 Anos de
Saudade. Do acervo do fã constam vinis, compacto com a letra original do
clássico Ouro de tolo, fotos raras, réplica da capa que Raul usava em shows,
cartas psicografadas
Presidente do Fã Clube Novo Aeon, Valério
Guilherme, morador de Santa Maria, possui um vasto acervo de itens, que
remetem a Raul. Ele cita, entre outros 22 bolachões, 17 CDs, que cobrem toda a
discografia do cantor, além de incontáveis fotos, todas devidamente
digitalizadas. “No tributo ao Raul, vou projetar no telão algumas imagens raras
do nosso ídolo maior”, anuncia.
Do Correio Braziliense
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