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trazer conteúdo em tempos de quarentena por conta do Covid-19, doença
causada pelo novo coronavírus, o Galáticos Online realizou mais uma
entrevista exclusiva. Trata-se do ex-jogador Nadson, revelado pelas
divisões de base do Vitória.
Criado em
Serrinha, interior do estado da Bahia, para alcançar o sucesso, Nadson
precisou trabalhar desde muito cedo. No Vitória desde os 13 anos, o
atacante vivenciou momentos de grande dificuldade. Por conta do baixo
porte físico, o atleta não ficou no clube de primeira e teve que
retornar para casa.
Com 17 anos, o
atacante retornou ao Leão para fazer história. Maior artilheiro da
divisão de base rubro-negra, Nadson se destacou na equipe profissional e
protagonizou partidas inesquecíveis, marcando três vezes em um clássico
Ba-VI e quatro numa partida de Copa do Brasil, quando o Vitória goleou o
Palmeiras pelo placar de 7 a 2, fora de casa, em 2003.
Começo da carreira
Mesmo com uma
carreira de sucesso, Nadson dedicou um tempo da entrevista para
agradecer uma pessoa que ajudou o atleta no início de tudo.
"Minha
carreira foi um pouco difícil. Nascido em zona rural, onde hoje eu moro,
graças a Deus, eu agradeço muito ao futebol à Carlinhos Capenga, quem
deu muita oportunidade a muitos profissionais na cidade de Serrinha
passaram por Carlinhos Capenga. Foi um pai para mim, meu segundo pai,
minha segunda família. Infelizmente, hoje ele está lá em cima, está em
um bom lugar, descansando em paz", disse.
"Hoje o
futebol está mais fácil. Hoje as peneiras vão até você, os clubes vão
até você, mas graças a Deus eu saí daqui de Serrinha com 13 anos de
idade. Fui para o Vitória e não fiquei. Não tinha vaga no alojamento, eu
era muito pequeno, treinei bem, mas mandaram eu retornar. Quando
retornei, Carlinhos ficou até chateado, ele sabia do meu potencial",
afirmou.
"Com 17 anos
eu voltei ao Vitória e graças a Deus fui bem. Mesmo assim tentaram me
colocar em questionamento. Foi onde Carlinhos se chateou. Na reunião,
decidiram que eu ficasse no Vitória. Professor Alexandre, na época e
também professor Ednilson, que está no clube, pediram para eu ficar pelo
menos no Campeonato Baiano, quando eu comecei a deslanchar, marcando 32
gols no Campeonato Baiano Juvenil. Foi só alegria. Me tornei o maior
artilheiro da divisão de base de todos os tempos com 285 gols", falou.
"Histórias de
Ba-Vis, eu fiquei um só sem marcar. Foi a minha estreia no juvenil,
passei em branco, mas do segundo em diante, todos os Ba-Vis eu marquei.
Entrei para a história do clássico", destacou.
"Eu passei
seis meses no profissional, foi quando eu fui vendido. A minha média é
uma das melhores do clube. Só não ganhei Bola de Prata por conta do
regulamento do Campeonato Brasileiro. Tive a média melhor do que a de
Luís Fabiano", disse Nadson.
"Eu fico
muito feliz de ter ajudado do Vitória, é o clube que eu torço. Sempre me
declarei, não fico em cima do muro. Respeito muito o Bahia, a nação
tricolor e repudio comportamento e atletas irresponsáveis, que fica
falando mal de outras entidades. Você não trabalha só em uma empresa",
contou o atacante.
Jogos históricos
No Campeonato
Baiano de 2003, o Vitória recebeu a equipe do Bahia no Barradão. O
Tricolor abriu a vantagem de 2 a 0, no entanto, o Vitória virou.
Faltando 15 minutos para o término da partida, Nadson saiu do banco para
marcar os três gols da equipe rubro-negra.
"Entrei
faltando 14 minutos e meio. Marinho colocou meu apelido de Nadgol.
Acabou acontecendo de entrar e ser abençoado por fazer três gols e
entrar na história do clássico Ba-VI, um dos maiores do Brasil. Agradeço
muito aos torcedores do Vitória, a nação rubro-negra, pelo apoio",
afirmou.
Eu vi na
arquibancada, todo mundo saindo e aconteceu um gol atrás do outro. No
último gol, lembro que Leandro Domingues, esse meia fantástico que está
no Japão, foi quem deu assistência e até hoje eu não descobri se estava
impedimento no lance, ainda bem que não tinha VAR", contou.
O Atacante também falou sobre a partida contra o Palmeiras, que o Vitória aplicou 7 a 2 pela Copa do Brasil.
"Esse jogo
foi especial demais. Acho que o melhor da minha carreira. Eu não comparo
com Ba-VI porque é a nossa raiz, nosso clássico. Mas esse jogo é
inesquecível. O torcedor vai estar sempre lembrando quando dá aquela
data de Copa do Brasil, quando tem Palmeiras e Vitória se enfrentando
pelo Campeonato Brasileiro, sempre passa. Eu fico feliz demais",
lembrou.
"O coreano já
estava me observando. Nessa semana foi uma maratona de três jogos. A
gente saiu para jogar contra o Flamengo, perdemos no Maracanã 2 a 1, de
virada, eu fiz o gol. Saímos para jogar contra o Grêmio, eu fiz gol
também e Juventude, também lá no Sul, fiz gol", disse.
"Se não me
engano, era o primeiro jogo do Palmeiras na temporada, diante da sua
torcida, Papai Joel sempre gritando, cobrando: 'vamos fechar casinha,
jogar fechado', e a teoria dele deu certo. A gente pegou um Palmeiras
afoito, empolgado com o torcedor, mas esqueceram que a gente tinha um
elenco bom. Esses três jogos que a gente saiu no Brasileiro a gente
jogou muito bem, perdemos por detalhes, uma hora a gente ia acertar",
contou Nadson.
"Foi nesse
jogo contra o Palmeiras que a gente acertou. Uma quarta-feira abençoada
com belíssimos gols, belíssimas jogadas de transição, jogadas
fulminantes e papai (Joel) cobrando, dizendo que já viu esse filme e ele
tinha razão. No jogo de volta, no Barradão, a gente tomou 3 a 1. Se a
gente não leva a sério depois dos três gols que a gente fez, estaríamos
fora da Copa do Brasil, não teríamos feito história", detalhou o
jogador.
Carreira internacional
Saindo do
Vitória, Nadson foi vendido para o Suwon Samsung Bluewings, da Coreia do
Sul, onde viveu um dos melhores momentos da carreira, conquistou
títulos e se tornou ídolo.
"Eu acho que
foi a melhor fase da minha vida. É um país de primeiro mundo, onde se
deve seguir a cultura do país, respeitar e eu tinha um propósito: voltar
só quando eu desse um conforto para a minha família e isso aconteceu.
Se eu não tivesse muitas lesões, estaria na Coreia jogando hoje, no
mesmo clube, povo apaixonado por mim até hoje", lembrou,
"Depois que
eu saí, o clube deu uma caída muito grande. Parou de conquistar títulos e
a nossa geração lá fez história. Eu pude ajudar o Vitória com a venda.
Encher os cofres do clube que você ama é bom demais", disse Nadson.
"Fui
artilheiro de todos os campeonatos que disputei, campeão em todas as
ligas que disputei. Disputei 17 troféus, ganhei 16, único estrangeiro a
ganhar como melhor da temporada no principal campeonato da Coreia, isso é
gratificante. Tem uma pilastra com minha foto no estádio", continuou.
"Nossa
cultura é terrível com ex-jogadores de futebol em termos de homenagem,
de agradecer pelo serviços prestados. Os clubes não fazem homenagem para
atletas que sempre merecem ser lembrados. A Cultura lá fora é
espetacular por causa disso", questionou o atacante.
De volta ao Brasil
Nadson chegou
a ser emprestado ao Corinthians, onde teve uma curta passagem e marcou
um gol, na vitória do Timão sobre o Botafogo pelo placar de 1 a 0.
"Retornei
para o Corinthians, time dos galáticos. Graças a Deus fui bem também,
não é fácil jogar no Corinthians, depois fui rodando pelo Brasil"
Retorno ao Vitória
Em 2009, o
atacante retornou ao Vitória. Com boa média de gols marcados dentro do
Campeonato Baiano, um desentendimento do o técnico Paulo César
Carpeggiani foi fundamental para tirar o atleta do Leão.
"Se eu tive
alguma decepção no Esporte Clube Vitória foi nessa passagem. Não é
porque eu sou torcedor do Vitória, eu amo o Vitória, que eu vou tapar o
sol com a peneira"
"Eu dei
preferência ao Vitória. Estava voltando de lesão gravíssima no tornozelo
e naquela época, mesmo com lesão, todos estavam ciente disso, ainda
consegui ser artilheiro do Campeonato Baiano, junto com Neto Baiano e
ser campeão ainda. Foi onde aconteceu a confusão", destacou Nadson.
"Eu respeito o
trabalho de Carpegiani (técnico do Vitória em 2009), mas eu não poderia
jogar de meia. Eu nunca fui meia. Saí do Vitória jogando de ponta
direita. Na Coreia joga com um homem só na frente, onde aprendi a jogar
como fixo, quando voltei já era fixo na frente. Fiz bastante gol, fiz
115 gols lá, maior artilheiro do clube de todos os tempos", lembrou.
"Eu não
aceitei jogar de meia atacante e disse 'Se for para jogar assim, pode
jogar com o Neto, não tem problema nenhum. Quando tiver oportunidade a
gente entra e joga, não tem problema, mas eu não vou jogar de meia, eu
não sou meia atacante', foi aí que começou a briga. Me colocaram para
treinar 13h, pessoas no clube que me acompanharam desde a base aceitaram
isso, eu não achei legal"
"A diretoria
aceitou isso. Eu nem culpo ele (Carpegiani),eu culpo mais a diretoria
por ter aceitado isso. Eu tinha outros clubes querendo e optei por
ajudar. Foi onde eu fui dispensado no vestiário. Eu sendo artilheiro do
Campeonato Baiano, fui dispensado da final, último Ba-Vi da final do
Campeonato Baiano", disse.
"Muitos
acharam errado por eu ter falado que não ficava mais lá, mas eu era
artilheiro do Campeonato Baiano, estava correspondendo e fui dispensado
no vestiário, sabendo que em Ba-VI eu faço gol, Neto Baiano faz gol, é
complicado"
Passagem pelo Bahia
Pelo Bahia,
Nadson participou de uma situação delicada. Brigando contra o
rebaixamento na Série B de 2009, o Esquadrão conseguiu se livrar na
penúltima rodada, depois de um gol do centroavante, de pênalti, contra o
Guarani.
"No Esporte
Clube Bahia eu fui muito bem recebido. Para muitos torcedores não fui
acima da média, mas se você for colocar em porcentagem de gols e de
jogos, eu fui muito acima da média. Era um time limitado, com problemas
de salários atrasados e mesmo assim aquele time limitado conseguiu
salvar o Bahia de cair para a terceira divisão", destacou Nadson.
"Uma segunda
divisão muito difícil e a gente conseguiu salvar. Jael disputou a
temporada toda e fez, se eu não me engano, 13 gols. Eu cheguei a fazer
11 em meia temporada"
"Fui bem
recebido pelo Ananias, que descansa em paz, pelo Ávine, jogador
fantástico, tenho muitos amigos lá. Seu Miguel, Fábio que trabalha como
massagista, fiz muita amizade lá. Foi uma Série B terrível, o Bahia
estava com muita dificuldade financeira"
"Tinha
salário atrasado desde que cheguei, mas fui no intuito de jogar futebol,
tanto que joguei até o final. Esse elenco jogou até o final, um elenco
muito limitado, mas graças a Deus deu tudo certo, o torcedor ajudou
bastante, todos os jogos em Pituaçu tava lotado, eu e Jael fizemos uma
dupla espetacular, sempre marcando, quando a bola não chegava, a gente
ia buscar"
"Paulo
Isidoro ajudou bastante, foi uma passagem muito boa. No jogo contra o
Guarani, Pituaçu com 33 mil pessoas, peguei o pênalti, bati, fiz o gol,
escapamos de cair para a terceira divisão e no ano seguinte o Bahia
subiu"
"O Bahia hoje
é referência, fico feliz do Bahia estar bem, estar sendo muito bem
visto no mundo todo com uma boa gestão, está fazendo campanhas
maravilhosas e isso é bom não só para o clube, mas também para o
nordeste, porque tem muitos clubes bons desorganizados e o torcedor
sofre muito com isso"
Críticas à falta de jogadores da base nos elencos profissionais de Bahia e Vitória
"Foi estranho
(jogar no Bahia). Os torcedores de Bahia e Vitória mais antigos
acompanharam os melhores Ba-Vis. Hoje não existe Ba-Vi, é fantasia.
Existe o nome, o clássico acabou. Nós da base éramos criados para
disputar Ba-Vi, desde moleque, o pau quebrava dentro de campo. Aquele
clima gostoso que hoje não existe mais"
"A gente
perdeu a essência das divisões de base. Não tem jogador da base
disputando Ba-Vi. No máximo são dois ou três em cada time, se tiver. A
maioria é tudo de fora, jogadores que tomaram o mercado e estão vindo
contratados, por mérito, claro, mas a gente está falando de uma cultura
nossa"
"Em 2003 o
elenco do Vitória, que foi um ano espetacular, nós tínhamos, no mínimo,
65% da base. Nadson, Adailton, Zé Roberto, Allan Dellon, Paulo Musse,
Dudu Cearense, tudo jogando de titular, Quase 90% do time titular era da
divisão de base, hoje você não vê mais isso"
Autor(a): Paulo Victor Araújo /Foto: Claudionor Junior / Do Galáticos Online
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