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sábado, 11 de abril de 2020

Bolsonaro provoca novas aglomerações e é criticado por Mandetta e Caiado

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mais uma vez ignorou orientações das autoridades sanitárias no enfrentamento ao coronavírus e promoveu aglomerações neste sábado (11) ao visitar a recém-começada obra de um hospital de campanha em Águas Lindas de Goiás (GO), a 57 km de Brasília.
Após uma trégua na tensa relação com o presidente, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticou o gesto do chefe do Executivo.

Autoridades e convidados se amontoaram na chegada do presidente à unidade emergencial que começou a ser erguida na última terça-feira (7). Do lado de fora, dezenas de pessoas se amontoaram próximo ao terreno onde está sendo construído o hospital. O presidente fez o deslocamento de helicóptero.

Os apoiadores do lado de fora gritavam a favor de Bolsonaro e contra a imprensa e o governador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que rompeu politicamente com o presidente da República por discordar de sua postura no enfrentamento da crise.

Assim que desceu do helicóptero, Bolsonaro subiu em um barranco e foi até um grupo que se amontoava em um cordão de isolamento. Depois da visita, à qual a imprensa não teve acesso, Bolsonaro foi até outros focos de aglomeração para saudar as pessoas. Bolsonaro retirou a máscara enquanto cumprimentava a população.

Após a partida do presidente, Mandetta condenou a aglomeração de pessoas. "Posso recomendar, não posso viver a vida das pessoas. Pessoas que fazem uma atitude dessas hoje daqui a pouco vão ser as mesmas que vão estar lamentando", afirmou.

Questionado se a orientação valia também para o presidente da República, Mandetta afirmou que "vale para todos os brasileiros".

Mandetta não acompanhou Bolsonaro no momento em que ele foi até as pessoas. "Procuro seguir uma lógica de não aglomeração", disse o ministro.

Caiado também falou em tom crítico à atitude de Bolsonaro em Águas Lindas.

"Ele que deverá explicar esta situação. Esta posição não foi a minha. Ele é o presidente e eu sou o governador. A minha posição foi a que vocês acompanharam. Esta é a posição que manteremos até o dia 19", afirmou o governador de Goiás, mencionando a data em que o estado deve começar a flexibilizar o isolamento social em algumas regiões.

Caiado foi criticado por moradores do município por causa das regras de restrição de funcionamento do comércio.

"Eu sigo a parte da ciência e sigo também as regras do Ministério da Saúde. Então, esta é minha posição. As regras implantadas no estado de Goiás são as regras do Ministério da Saúde. Então, minha posição é contra a liberação neste momento", afirmou o governador.

Neste sábado, a Human Rights Watch, ONG que defende e pesquisa os direitos humanos, divulgou relatório que diz que o presidente está colocando os brasileiros em "grave perigo ao incitá-los a não seguir o distanciamento social" para conter a transmissão da Covid-19.

Desde 15 de março, Bolsonaro, 65, já participou de uma manifestação e fez passeios por Brasília, provocando aglomerações. No documento, a organização afirma ainda que Bolsonaro "age de forma irresponsável disseminando informações equivocadas sobre a pandemia".

Apesar de toda a estrutura montada para receber Bolsonaro, o evento em Goiás não entrou na agenda oficial do governo e sequer foi confirmado pela Secretaria de Comunicação.

Caiado foi convidado para acompanhar Bolsonaro na quinta-feira (9). Aliado de primeira hora, o governador de Goiás havia rompido com o presidente em 25 de março.

O rompimento se deu depois do pronunciamento feito em rede nacional na noite anterior. O goiano anunciou que não conversaria mais com Bolsonaro e que o estado não atenderia suas determinações sobre o combate ao coronavírus.

À época, Caiado, que é médico, criticou as declarações feitas por Bolsonaro sobre os impactos econômicos da crise e seus ataques aos governadores, qualificando-os como um "discurso totalmente irresponsável".

O hospital começou a ser construído pelo governo federal em um terreno de 10 mil metros quadrados cedido e terraplanado pela prefeitura. A previsão é que a estrutura fique pronta em mais duas semanas. De acordo com o Ministério da Infraestrutura, estão sendo investidos R$ 10 milhões.

O hospital terá 200 leitos adaptáveis para unidades de tratamento semi-intensivas, com tubulação e suporte para respiradores. A operação ficará a cargo do governo de Goiás, que contratará uma OS (organização social) para gerir a unidade.

Até o momento, apenas a carcaça do hospital está de pé. De acordo com vizinhos, o terreno só foi cercado com tapumes na quinta-feira. A escolha do local foi feita, de acordo com o governo federal, após pedido de apoio do governo de Goiás à União devido à necessidade de atenção especial à doença.

Águas Lindas de Goiás tem um hospital regional que começou a ser construído em 2004, mas foi apenas parcialmente inaugurado. As obras começaram naquela época a ser tocada pela prefeitura. Em 2013, o governo estadual assumiu o serviço.

Por Daniel Carvalho | Folhapress

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