O contágio de oito pessoas pelo novo coronavírus em uma sauna na
província de Jiangsu, China, pode indicar que o Sars-CoV-2 é resistente à
alta umidade e ao calor.
Foto: Reprodução / Vinícius Queiroz Galvão / O Globo |
O estudo de caso, publicado na revista científica Jama, analisou dados
coletados de janeiro a fevereiro de 2020 em uma sauna pública para
homens na cidade de Huai'an, a 700 km a nordeste de Wuhan, epicentro da
pandemia.
O local é um complexo de mais de 270 m2 com chuveiros, piscinas e saunas. A temperatura nos diferentes ambientes varia de 25ºC até 41ºC, e a umidade do ar é de aproximadamente 60%.
De acordo com o estudo, o primeiro paciente -chamado de paciente nº 1-
esteve em Wuhan na primeira quinzena de janeiro. Ele viajou, então, para
Huai'an, onde frequentou o complexo no dia 18 de janeiro. No dia
seguinte, apresentou febre e, no dia 25 de janeiro, procurou assistência
médica, tendo o diagnóstico de Covid-19 confirmado.
Nesse meio tempo, o paciente nº 2 visitou o local de banho no dia 19 de
janeiro. Seis dias depois, apresentou sintomas relacionados à nova
doença -dor de cabeça, febre alta, tosse- e teve diagnóstico positivo no
dia 3 de fevereiro.
Os pacientes nº 3 e nº 4 também visitaram o complexo no dia 19 de
janeiro, mas os primeiros sintomas apareceram apenas nove dias depois,
no dia 28 de janeiro. O terceiro contaminado teve sintomas leves -dor de
cabeça-, e teve teste positivo para o Sars-CoV-2 no dia 4 de fevereiro,
mesmo dia em que a doença do paciente nº 4 foi confirmada, cujos
sintomas foram calafrios, febre e coriza.
Também no dia 4 de fevereiro, foi diagnosticado o quinto paciente, que visitou a sauna no dia 20 de janeiro. Ele apresentou tosse e febre alta no dia 29 de janeiro.
Também no dia 4 de fevereiro, foi diagnosticado o quinto paciente, que visitou a sauna no dia 20 de janeiro. Ele apresentou tosse e febre alta no dia 29 de janeiro.
Os pacientes nº 6 e nº 7 estiveram no local no dia 23 de janeiro, já
quase uma semana após o paciente nº1. Enquanto o sexto infectado
apresentou apenas febre no dia 30, o sétimo enfermo estava com quadro de
congestão pulmonar quando foi internado no hospital, no 1º de
fevereiro. Dois dias depois, seu teste deu positivo.
O paciente nº 8 frequentou a sauna no dia 24 de janeiro e seis dias
depois apresentou sintomas de Covid-19. O teste dele foi positivo para
Sars-CoV-2 no dia 3 de fevereiro.
Por fim, o paciente identificado como nº 9 não era frequentador, mas
trabalhava no local. Ele apresentou febre e calafrios no dia 30 de
janeiro -doze dias após o paciente nº1 estar presente no recinto- e foi
diagnosticado com Covid-19 no dia 4 de fevereiro.
A idade média dos pacientes é de 35 anos (24 a 50 anos), e a infecção de
todos foi confirmada por meio do teste de RT-PCR (reação em cadeia de
polimerase em tempo real) e exame de tomografia computadorizada, que
revelou pontos de opacidade nos pulmões. Nenhum deles, até o dia 10 de
fevereiro, necessitou de suporte respiratório.
Com isso, os cientistas apontam que os resultados contrastam com o senso
comum de que o vírus teria uma capacidade de transmissão limitada em
condições muito úmidas e quentes.
O estudo, entretanto, apresenta lacunas, segundo os próprios pesquisadores.
Primeiro, não foi possível saber qual foi o trajeto dos infectados na
sauna, com exceção do paciente nº 1, que, segundo Qilong Wang, um dos
autores do estudo, utilizou apenas o chuveiro no complexo.
As atividades realizadas no local pelos demais pacientes são
desconhecidas. Isso seria um fator determinante para saber, por exemplo,
como o paciente nº 9, que trabalhava no local, se contaminou.
Wang disse à reportagem apenas que não houve contato direto entre eles -nenhum dos frequentadores se conhecia.
O segundo, mais grave, é que, por se tratar de um estudo de caso, não se
pode aferir com segurança se esse comportamento se enquadraria em
outras situações.
Não é possível saber se foi um caso de transmissão local com contato
direto com superfícies contaminadas ou se há realmente a possibilidade
de contágio através do ar quente e úmido.
O caso é que a resistência do vírus por tantos dias e em uma temperatura
elevada pode ser um indicativo de que o novo coronavírus se comporta de
maneira particular.
Outros estudos, feitos com outros coronavírus, já haviam indicado que a
possibilidade desses vírus resistirem a condições climáticas muito
úmidas e quentes são baixas, mas não inexistentes.
Foi o caso da epidemia de Síndrome respiratória aguda grave (Sars) de
2003, onde os dados apontaram que, embora o vírus pudesse permanecer em
superfícies por até cinco dias, sua viabilidade só era possível em
temperaturas ambiente de 22ºC a 25ºC e umidade relativa de até 50%.
Contudo, em nenhum dos estudos realizados até agora, a transmissibilidade do vírus em altas temperaturas foi tão grande.
O principal dado do novo estudo é que os oito indivíduos que
frequentaram a sauna tiveram sintomas entre seis e nove dias após
estarem no local, sugerindo que o Sars-CoV-2 pode se disseminar e causar
infecções nesse meio.
"As rotas de transmissão podem ser as [já conhecidas] gotículas
respiratórias ou contato, mas os nossos resultados apontam que a fonte
de transmissão do novo coronavírus pode continuar infectante no ambiente
com altas temperaturas e umidade."
Por Folhapress / Do BN
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