O professor aposentado João Pedro Oliveira divulgou mais um poema de sua autoria na ultima segunda-feira, 18 de maio. Confira abaixo.
A saga dos matutos Zé e Toinho no Sul
Minhas senhoras e senhores
Em nosso livro da sorte
Passamos por dissabores
Do nascimento à morte
Nossa História é testemunha.
Quando o Euclides da Cunha
Diz:: "o sertanejo é um forte".
É simbolo de resistência
Ao enfrentar a seca tirana.
Mas há os que sua existência
Foje a força da alma humana
Abandonam o seu torrão
Vão buscar uma solução
Pra ter uma vida bacana.
Vejam só o que aconteceu
No sertão da Paraíba
Com a seca tudo morreu
E o Zé e Toinho de Naciba
Que eram primos na verdade
Esperaram a maioridade
Pra sair e mudar de vida.
Foram fazer os documentos
Do alistamento militar.
Chegaram ao departamento
Pra poderem se "alistar"
Os primos estavam nervosos
E esperavam ansiosos
Queriam muito viajar.
Os dois de roupa social
Foram buscar a reservista
Cantaram o Hino Nacional
Entoados como artistas
Mas pra terem o documento
Tinham que dar o Juramento
Provar que eram brasilistas
Então chegou um oficial
Chamou os dois para jurar
Mostrou a Bandeira Nacional
O Zé já estava no lugar
O oficial perguntou o que era
"Isso aqui verde e amarela
É a Bandeira Nacioná!"
O oficial se revoltou
Pegou o Zé e sacudiu.
"Isso é anarquia meu senhor
Uma coisa dessa, quem já viu?
Por favor, não se acanhe.
Diga, essa é a minha mãe
A pátria amada Brasil".
Nisso o Toinho se adiantou.
Levantou e ficou de pé.
Sem demora, disparou:
"Ói, eu sei quem ela é.
É a mulher do meu tio
A Pátria amada Brasil
Minha tia, a mãe de Zé "!
Com os documentos em mãos
Venderam tudo que tinham
Vinte ovelhas, dez leitões
E umas cabeças de galinha
Com umas poucas economias
Saíram ao raiar do dia
E deixaram sua terrinha.
Em São Paulo chegaram
Carregados de esperança
Assim que desembarcaram
Não lhes deram confiança.
Não acharam um emprego
Então lhes bateu o medo
De perder suas finanças.
Os dois por serem matutos
Só serviam de arrelia
Dormiam sob os viadutos
Pra fazerem economia
E nisso o tempo passava
E o dinheiro se acabava
Até pra o pão de cada dia.
Tentaram os dois sem sucesso
Na capital paulistana.
Pegaram o primeiro expresso
Foram pra Copacabana
Chegaram ao Rio de Janeiro
Com um pinguinho de dinheiro.
Que só dava pra uma semana.
No morro do Corcovado
Viram o Cristo Redentor
Ao virarem pra o outro lado
O Zé logo esbravejou.
"Eu vou ficar é Lelé da cuca
Mas esse Pão-de-Açúcar
Foi o diabo que amassou!"
Lá no Rio, sem trabalho
Perceberam o seu fracasso
Não acharam um quebra-galho
Pra saírem do embaraço.
Era o mês do Carnaval.
A maior festa nacional
Nos primeiros dias de março.
Então eles articularam.
Algo pra chamar a atenção.
Um suicidio planejaram
Pra um lugar de multidão.
Pensaram na Sapucaí.
Mas decidiram que ali
Não ia causar comoção.
No 0morro do Corcovado
Um local de uma boa vista.
Era o local adequado
Por haver muitos turistas
Tem gente do mundo inteiro
Que vai ao Rio de Janeiro.
De católicos a budistas.
Logo no início do dia
O povo viu e se assustou
Os dois já na escadaria
Da estátua do Redentor.
E sem esperar um momento
Do topo do monumento
O Toinho se atirou.
Quando o povo ouviu o barulho.
Do impacto pelo chão.
Pensou que era um bagulho.
Que tinham jogado de um avião.
Mas ao olharem para cima
O Zé era uma bailarina
Pulando e abrindo as mãos.
Embaixo o povo apelava:
"Tenha amor à sua vida!"
Lá em cima, o Zé berrava:
"Ela já está toda perdida!"
Veio o Corpo de Bombeiros
Articulou o dia inteiro
Pra achar uma saída.
E naquela confusão
O Ze perdeu uma passada.
Veio direto para o chao
E quis fazer uma palhaçada.
Deu umas quatro piruetas
Parecia uma borboleta.
Com uma das asas quebrada
Nisso o Cristo Redentor.
Resolveu entrar em ação.
Os dois braços ele estirou
E o aparou em suas mãos.
Pegou o Zé com cuidado
E botou ele deitado
Com as suas costas no chão.
E disse: "O daqui é meu.
É uma criatura divina
Na vida muito sofreu
Já cumpriu a sua sina.
Nao vai pra mundo das trevas
Esse, o Diabo não leva".
E botou os dois pés em cima.
Ichu, 18/05/ 2020
Por Hilario Cordel / pseudônimo usado pelo professor João Pedro Oliveira (autor do poema)
AUTOBIOGRAFIA DE HILARIO CORDEL
O meu nome é Hilario
Porque quando eu nasci
Eu vim tão pequenininho
Que na hora de eu sairy
Mamãe sentiu foi cócegas
E ela se acabou de rir
Fui miúdo e barrigudo
Mas traquino igual uma cutia
Minha mãe lavando roupa
Caí dentro duma bacia
Me pendurou com roupa e tudo
Pra eu não pegar pneumonia.
Foi quando passou um tropeiro
Que deteve o seu tropel
Cumprimentou a minha mãe
Acenando com o chapéu
- Dona, a senhora me vende
Esse livrinho de cordel?
- Meu senhor, que desrespeito?
Isso me causa até mágoa!
Furiosa, jogou no nele
Um balde cheio de agua
E ainda assustou o burro
Sacudindo suas anáguas.
Dai, o que aconteceu
Quem quiser que acredite.
O burro saiu assustado
Pulou uma cerca de pau a pique
E o tropeiro ficou caido
Numa moita de xique-xique
E eu, secando no varal
A tudo aquilo assistia
Me sentido um maioral,
Com aquilo me divertia
Enquanto o pobre tropeiro
Nos espinhos se contorcia
(...)
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