A primeira a chegar na vida do casal foi Alice durante uma história difícil no hospital.
A história dessa reportagem até parece enredo de novela, filme ou
narrativa de um livro. Mas, ela se passa em Feira de Santana e seus
personagens principais são reais: a assistente social Ana Cristina
Almeida, de 31 anos e o técnico em automação industrial Júlio Ramos, de
34 anos.
Eles estão juntos há 16 anos e tem 10 anos de casados. Sempre sonharam em ter uma família, mas jamais imaginariam que um dia teriam a família que tem hoje e nem que essa família aumentaria tão rápido, com a chegada em dois anos dos filhos: Alice, Aline e Pedro. Alice e Aline são as gêmeas de 2 anos e 10 meses que foram adotadas pelo casal e Pedro é o bebê que Ana Cristina teve há três meses, fruto de uma gestação espontânea.
A primeira a chegar na vida de Ana e Júlio foi Alice. Em seu trabalho
como assistente social no Hospital Estadual da Criança (HEC), ela
conheceu a garotinha com uma história difícil, com problemas de saúde e
que foi colocada para adoção. Por saber da condição da menina, que
nasceu com laringotraqueomalacia e ainda no primeiro mês de vida, foi
traqueostomizada, Ana não pensou duas vezes e se candidatou para ser sua
futura mamãe.
Conversou com o esposo, teve todo o apoio da família e assim iniciou o
processo de adoção. Antes de levá-la para casa, o casal passou alguns
dias com ela no HEC para aprender todos os cuidados que ela precisa no
dia a dia e de acordo com Ana, atualmente ela já evoluiu com muita
melhora, embora ainda precise da traqueostomia para respirar.
Quando Ana e Júlio adotaram Alice, sabiam que ela era gemelar e que o
interesse da justiça é manter os irmãos juntos. Mas, até então não havia
informações sobre Aline, a irmã gêmea de Alice.
“A família delas é nômade e até então Aline estava sumida. Ano passado
ela foi encontrada e nós fomos procurados. Não tínhamos como dizer não e
eu não saberia nunca olhar pra minha filha e dizer para ela que dei as
costa pra sua irmã. Eu não conseguiria olhar para Alice linda, alegre e
feliz e imaginar a irmã longe e talvez infeliz. O amor verdadeiro sempre
dá espaço pra mais alguém, então iniciamos o procedimento para a vinda
de Aline”, contou Ana ao Acorda Cidade.
Para Ana, pensar em aumentar a família de repente, era algo que lhe
soava angustiante, principalmente em relação a parte financeira e o medo
de não conseguir oferecer o melhor para as filhas. Paralelo a isso, ela
engravidou de Pedro e o marido, tinha acabado de sair do trabalho.
“O medo bateu mesmo. Mas, saber o que estava acontecendo com ela e tudo
que ela mesmo tão nova já tinha sofrido me dava a certeza de que se eu
não pudesse dar o “melhor” financeiramente falando, eu poderia dar o que
no momento ela mais precisava que era amor e família”, afirmou.
A chegada de Aline
Aline foi adotada por Ana e Júlio e chegou à casa do casal neste mês de
julho. O encontro das irmãs, segundo Ana, foi repleto de muito amor e
reconhecimento. O contato com o irmãozinho Pedro também foi marcado por
muito afeto e os laços de família se fortaleceram ainda mais.
“O encontro delas foi a cena mais linda. Aline estava um pouco
assustada, mas Alice é muito amora. Abraçou e acariciou a irmã. Tem
pouco tempo que eles estão juntos, mas, Aline e Alice são muito amorosas
com Pedro que elas chamam de neném. Eles estão se conhecendo e
assumindo o papel de irmãos”, frisou.
Rede de apoio e Campanha Solidária
Rede de apoio e Campanha Solidária
Para cuidar das gêmeas e do bebê, Ana conta com uma rede de apoio muito
forte tanto de membros da família dela, como da família de Júlio. Mesmo
em tempos de pandemia, onde não é possível se abraçar, os familiares
estão muito presentes nos cuidados e nas tarefas domésticas.
Atualmente Ana encontra-se de licença maternidade e com o marido
desemprego, as finanças do casal para dar conta das três crianças
começaram a apertar. Júlio está se virando com o trabalho informal, mas
devido às restrições vividas pelo comércio, não avançou muito e a
situação ficou difícil.
Foi então que amigos do hospital onde Ana trabalha resolveram realizar
uma campanha solidária e uma vaquinha virtual para ajudar a família.
As doações estão chegando, assim como muitas mensagens de carinho. A
história de Ana e Júlio, o reencontro das gêmeas, o encontro com o irmão
Pedro e todo o sentimento de valorizar a família, o amor e a fé em
Deus, emocionaram muitas pessoas e a corrente de solidariedade está
crescendo. Ana relatou que o seu coração está cheio de alegria e
gratidão.
“Costumo dizer que tudo que vier de doações para elas será muito
bem-vindo. Estamos organizando as coisas de Aline do zero. Ela tinha
poucas coisinhas no abrigo e deixamos lá porque poderia servir para
outra criança. Gostaria de agradecer aos amigos do hospital em que
trabalho que iniciaram a campanha na redes sociais e nos ajudaram muito.
A Layane Cedraz, (A mamãe 6 Estrelas) que montou a vaquinha on-line e
multiplicou a campanha nas redes. Através dela muitas pessoas nos
procuraram e nos abençoaram. Aos amigos da Bambino Pediatria que também
nos abraçaram e nos ajudaram com muito amor. As famílias do condomínio
onde moro, aos irmãos da igreja e toda sociedade que doou um pouco de
si. Não só doações em dinheiro ou material, mas todas as orações e
mensagens lindas que temos recebido”, agradeceu.
Amor de mãe
Embora a maternidade tenha lhe apresentado algumas dificuldades, Ana não
tem dúvidas de que se sente realizada como mãe de Alice, Aline e Pedro.
Ela destaca que está muito feliz e radiante em ver os filhos juntos e
família crescendo no amor, na fé e na união.
Rachel Pinto / Acorda Cidade
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