O
atacante Robinho foi condenado pela segunda vez, nesta quinta-feira
(10), no processo em que é acusado de ter participado de estupro
coletivo em 2013 em Milão, quando atuava pelo Milan. Ele nega que tenha
cometido o crime.
A
decisão, que também confirmou a condenação do amigo do jogador Ricardo
Falco, aconteceu no Tribunal de Apelação, a segunda instância da Justiça
italiana.
As
defesas podem recorrer ao Supremo Tribunal de Cassação, em Roma,
terceira e última instância. Somente depois de uma condenação definitiva
eles poderão ser considerados culpados e terão de cumprir a pena de
nove anos de prisão.
A
sentença do Tribunal de Apelação foi decidida na Primeira Seção Penal,
em uma sessão que durou duas horas. O colegiado era formado por três
juízas: Chiara Nobili, Paola Di Lorenzo e Francesca Vitale, presidente
da mesa.
No
recurso, os advogados de Robinho, Alexander Guttieres e Franco Moretti,
mantiveram a linha de que não há provas de que a relação não foi
consensual. Em 65 páginas, foram apresentados resultados de quatro
consultorias técnicas realizadas após a decisão de primeira instância.
Uma
se concentrou em fazer um levantamento toxicológico, com a intenção de
mostrar que não é possível provar que a vítima -uma mulher de origem
albanesa que hoje tem 30 anos- estava em condições de "inferioridade
física ou psíquica" na hora do crime, como sustentou o Ministério
Público na investigação.
Outra
questiona a exatidão das traduções das escutas telefônicas que foram
incluídas no processo. Realizadas com autorização da Justiça italiana,
elas mostram Robinho e amigos comentando sobre a noite em que o caso
aconteceu. Em um dos trechos do parecer, está escrito que, pelas
escutas, não é possível provar que houve relação sexual entre Robinho e a
vítima, mas "somente" sexo oral com consentimento.
Na
terceira consultoria, foi apresentado o conteúdo de um hard disk de
Robinho, com imagens que supostamente o mostram com amigos no horário em
que o crime teria ocorrido.
Por
fim, segundo a Folha apurou, a defesa exibiu uma espécie de dossiê
contra a vítima, com 42 imagens de suas próprias redes sociais, para
tentar mostrar que ela tinha o costume de ingerir bebidas alcoólicas.
Entre as fotos, cenas entre amigas, que não necessariamente mostram
consumo de álcool.
Apesar
de o julgamento ser público, a sessão aconteceu a portas fechadas, para
cumprir os protocolos de prevenção à Covid-19. Os jornalistas foram
impedidos de acompanhar a sessão dentro na sala, apesar de haver espaço
suficiente para que fosse mantido o distanciamento físico entre todos.
Os
primeiros a chegar ao Tribunal de Apelação foram os defensores de
Robinho -além dos italianos, a brasileira Marisa Alija viajou do Brasil à
Itália para acompanhar o caso. Em seguida, a vítima, com seu advogado,
entrou na sala.
O
procurador Cuno Tarfusser foi o primeiro a falar na audiência. Após
fazer uma exposição do caso, pediu a manutenção da decisão de primeiro
grau. Segundo ele, os fatos são "indiscutíveis", e a defesa, em vez de
olhar o quadro geral da situação ocorrida naquela noite, está tentando
desmerecer o processo.
Em seguida, o advogado da mulher fez uma breve participação e foi sucedido pelos defensores.
Os
advogados de defesa não quiseram dar declarações após o fim da
audiência. Presente na audiência, a vítima não precisou se manifestar e,
ao fim, não quis dar declarações.
A
condenação de Robinho na primeira instância da Justiça italiana,
ocorrida em 2017, voltou à tona em outubro, depois que o Santos fechou
contrato com o jogador até fevereiro de 2021. O acordo foi suspenso
depois da divulgação do conteúdo de escutas telefônicas autorizadas pela
Justiça italiana, incluídas como provas no processo.
Nas
conversas, reveladas pela Globo, Robinho e amigos fazem comentários
jocosos sobre a vítima e deixam evidente que sabiam que ela estava
inconsciente, em inferioridade "física ou psíquica", como diz o artigo
609 bis do código penal italiano, que determina prisão de 6 a 12 anos
para quem comete violência sexual.
Em
uma das falas mais explícitas, o atacante diz: "Estou rindo porque não
estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que
aconteceu".
Depois
de críticas de torcedores e pressão de empresas patrocinadoras, o clube
suspendeu o contrato seis dias depois do anúncio, para que o jogador
pudesse se concentrar em sua defesa.
Robinho
em treino no Santos; ele foi anunciado pelo clube em outubro, mas teve
seu contrato suspenso Ivan Storti - 14.out.20/Santos FC Robinho com
uniforme de treino do Santos **** Segundo investigação do Ministério
Público, o jogador, com o amigo Ricardo Falco e outros quatro homens,
participaram de violência sexual de grupo na noite de 22 de janeiro de
2013 em uma discoteca, em Milão. Por terem deixado a Itália durante a
investigação, os quatro não puderam ser notificados, e o caso deles foi
desmembrado do processo.
A
acusação foi baseada no depoimento da vítima e nas conversas
telefônicas interceptadas. O grupo teria embebedado a jovem, que ficou
inconsciente e foi levada para o camarim do estabelecimento, onde teria
sido violentada múltiplas vezes.
De
acordo com uma das transcrições, Robinho foi avisado da investigação
pelo músico Jairo Chagas, que tocou na boate naquela noite. "Olha, os
caras estão na merda... Ainda bem que existe Deus, porque eu nem toquei
aquela garota. Vi [nome de amigo] e os outros foderam ela, eles vão ter
problemas, não eu... Lembro que os caras que pegaram ela foram [nome de
amigo] e [nome de amigo] [...] Eram cinco em cima dela", completou
Robinho.
Numa
outra conversa com o músico, este pergunta a Robinho se ele não transou
com a mulher. O jogador nega, e Chagas diz: "Eu te vi quando colocava o
pênis dentro da boca dela". Robinho responde que "isso não significa
transar".
No
seu depoimento à Justiça, a mulher afirmou que não tinha condições de
falar ou de ficar em pé naquela noite e apontou Robinho como um dos
envolvidos na violência.
Do Portal Bahia Notícias/por Michele Oliveira | Folhapress
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