"Um mês, uma cor, uma luta", foi com essa mensagem que teve início mais uma atividade em alusão ao AGOSTO LILÁS, mês de proteção à mulher, no município de Ichu, cidade localizada na região sisaleira.
O evento foi promovido pelas Mulheres vereadoras, mulheres da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, mulheres do SINTRAFI, dentre outras heroínas que se uniram numa caminhada pelas ruas e avenidas de Ichu, nesta segunda-feira, 23 de agosto, onde pediram o fim de todo tipo de violência contra as mulheres.
Puxado pelas vereadoras Geovana, Lúcia, Celidalva e Rose, a caminhada saiu da sede do SINTRAFI, na avenida Adalberto Ferreira Santiago e percorreu pelas ruas e avenidas, com carro de som e cartazes que chamavam atenção sobre o tema. A caminhada parou no Barracão Municipal, no centro da cidade, onde aconteceram algumas falas e também depoimentos emocionantes de vítimas de violência que resolveram quebrar o silêncio.
Uma delas revelou ter sido violentada dos 10 aos 14 anos e que sofreu muito com isso. "Pra falar desse tema pra mim é sufocante porque eu já passei por várias violências, tanto psicológica quanto sexual. Naquela época agente não tinha o apoio moral, o apoio familiar como acontece hoje, é difícil agente quanto mulher passar por tanta violência, agente pergunta como que um homem que saiu de dentro de uma mulher, gerado por mulher, é capaz de cometer um ato tão violento que causa tanto sofrimento e tanta dor ?. Muitas pessoas julgam, mas é muito difícil pegar um microfone e vim aqui falar o que eu passei, é difícil agente chegar até Rose [vereadora], até o CRAS, chegar até uma delegacia e falar, EU ACABEI DE SOFRER UM ABUSO SEXUAL E EU PRECISO DA AJUDA DE VOCÊS, EU ACABEI DE SOFRER UM ABUSO MORAL E EU PRECISO DA AJUDA DE VOCÊS, porque tudo isso no papel é muito lindo, mas para agente que é vítima não é nada bonito. É constrangedor você sair de Ichu e ir fazer um CORPO DELITO porque lá você é questionada pela roupa que você usa, pela maneira que você expõe o seu corpo, pela maneira que você age, pela maneira que você é alegre no seu trabalho, e pela maneira de você lidar com seus amigos, isso é muito constrangedor. E eu digo a vocês, numa cidade de seis mil habitantes, não era para existir isso com tanta frequência, são muitas mulheres caladas, eu me calei por muito tempo, eu sofri dos dez aos quatorze anos, e não me envergonho de falar não, eu sofri, hoje eu não sofro mais, quem quiser me julgar que julguem, quem quiser falar da minha alegria, me chamar de doida que fale, as minhas marcas estão em mim e na minha alma, e com certeza, aqui no meio de nós, tem mulheres que sofrem, ou que sofreram abusos, mas que a vergonha está estampada no rosto e o medo de pegar um microfone e falar é cruel, porque quando agente procura ajuda, nós somos julgadas, essa é a verdade. Eu poderia falar milhões de coisas aqui, mas o que eu sinto, o que eu continuo sentindo não vai mudar não gente, fica marcado na alma, ninguém muda, por mais ajuda que se tenha, a nossa alma continua ferida, então é só isso que eu tenho a falar", conclui ela emocionada.
Motivada pelo depoimento dessa vítima, a qual o Ichu Notícias faz questão de não revelar a identidade, outra pessoa falou muito emocionada ao lembrar da violência que presenciou na sua família com a sua mãe, assim como das vítimas que existem na zona rural que muitas das vezes não tem a quem recorrer para pedir ajuda.
"Parabenizo a esta companheira por ela vim aqui fazer um depoimento desse, porque não é fácil né, acredito que muita gente ficou emocionada e que muita gente refletiu neste momento. Ela tem razão porque entre nós aqui, entre as mulheres, não só ela, como outras e outras mulheres também já foram violentadas, porque você vim fazer um depoimento e conseguir falar de tudo sem tua voz trancar um pouco é difícil. A alma dela está resgada pra sempre, mas as vezes alguém não entendem e pode estar pensando aqui A LOUCA PEGA O MCROFONE E VAI CONTAR O QUE ACONTECEU NA VIDA DELA, QUE VERGONHA. pode até ter gente falando isso, sabia?. Agente sabe das dificuldades das mulheres, principalmente as mulheres que moram na zona rural, quantas e quantas mulheres na zona rural não serve só pra ser mãe e cuidar dos filhos. A história da minha mãe é a história de várias e várias mulheres, agente as vezes quando passa por certos tipos de violência, você pensa que vai ajudar outras pessoas, você fala assim, eu já passei por isso e não quero que ninguém mais passe por isso, mas infelizmente agente não consegue. É difícil gente, muito difícil, eu lembro quando agente fez o Coletivo de Mulheres, eu me expirava muito nos sofrimentos das lavradoras rurais, por eu ser filha de trabalhadora rural e eu via minha mãe sofrer, então eu achava assim, agente podia tá fazendo reuniões, agente poderia tá levando uma palavra de apoio ou talvez, fazer um trabalho de conscientização para que aquelas mulheres vencessem, passassem por cima da violência, do sofrimento, a falta de renda, e agente ver que ainda agente não consegue nada. Vejo aqui representando o COLETIVO DE MULHERES, poucas mulheres, muito pouca, fiquei triste, mas tudo bem, quem veio tá aí de parabéns. Agente ainda percebe que as crianças são violentadas sexualmente na zona rural e ninguém ver, ninguém liga e as vezes ela vai falar para as mães e a mãe fala que é mentira, há fulano não tem capacidade para isso, ele é uma pessoa de respeito, sempre cuidou da gente. Mentira, quem tá ali do lado da gente é quem faz os atos, quem tá convivendo com a gente, avô, tio, parentes e vizinhos é quem tá fazendo o ato de violência", desabafou. "É triste agente ver isso e não poder fazer nada, os de mentes doentes, mentes podres que agente não pode conseguir nada pra ser feliz," continuou.
"Vamos trabalhar juntos, vamos ter essa liberdade, agente morando aqui na rua, estudando, trabalhando, agente tem autonomia, mas quem mora na zona rural,? sabemos que o sofrimento é muito grande, as oportunidades são poucas, as adolescentes da zona rural, tem muitas mães aí que já passaram por situações de violência sexual de criança até se casar, tenho certeza disso e agente pede pra que isso acabe, eu só queria deixar esse recado", finalizou.
A voz masculina de Antônio Carlos, orientador social do CRAS, também falou sobre o tema e chamou atenção sobre a importância da denuncia. "Essa luta do AGOSTO LILÁS é especial este ano em comemoração aos 15 anos da lei Maria da Penha, se fala da lei Maria da Penha, muitos associam a violência física, mas existe vários comportamentos que a lei caracteriza como crime, como a violência patrimonial, e a violência não é só entre homem e mulher, a proteção é contra a violência que a mulher sofre na família. Por exemplo: a mulher tem um pai controlador que proíbe de estudar por exemplo, o marido que proíbe a mulher de trabalhar, ela quer trabalhar, ela quer ter a sua renda e o marido proíbe, isso é um exemplo de violência patrimonial. Diante de tudo isso, o que mais se incentiva é o ato de denunciar, temos os canais de denúncias, onde você pode denunciar de forma anônima ligando para o nº 180, é um número que cai em Brasília onde você pode fazer a ligação até mesmo com o celular, sem custo e sem se identificar, que daí as autoridades vem e entra em contato com as autoridades locais e vão até o local e verifica se realmente existe alguma situação que é caracterizado como violência. Então gente, vamos incentivar a denúncia e vamos fazer com que acabe com essa história de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher," alertou.
Vale ressaltar que Sintia Naiala que é Assistente Social do CRAS, as Orientadoras Sociais Telma e Lays, assim com às vereadoras Geovana, Lúcia, Rose e Celidalva, também falaram chamando atenção para a importância de todos estarem unidos nesta causa. Pediram para que esta atenção não se restrinja apenas a este mês de agosto e sim em todos os dias do ano e que as vítimas não deixem de denunciar os atos de violência acometidas no cotidiano.
Redação Ichu Notícias
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