sábado, 30 de abril de 2022

Coité – Fato inédito marca o casamento de mãe-de-santo no civil com a presença da Justiça

Celebração em um Terreiro de Candomblé com a presença do cartório e de um juiz foi a primeira vez em Coité 
O Terreiro de Candomblé U’zo n’kisses dos Tombecy de Mam’etu Salékossi, em Conceição do Coité, no bairro Sonho Meu, viveu um momento inédito nesta sexta-feira 29. Por coincidência, sexta-feira é dia de Oxalá e minutos antes da cerimônia que o Calila Notícias acompanhou também pela primeira vez, caiu uma chuva inesperada, momento que um filho-de-santo disse que era “Oxalá derramando suas bençãos para purificar o ambiente e os espíritos dos presentes. Em seguida, Exu abriu os caminhos e fomos todos para o Barracão do Terreiro, que já estava decorado com muito verde, para a cerimônia de casamento de Mameto Sallekôssi, Mãe Rosane, que é a mãe de Santo do Terreiro, com o Ogan Judson” disse o filho-de-santo.
Foto: Robson Di Almeida
Momentos antes da noiva adentrar o barracão, os filhos e filhas de Santo entoavam cantos em homenagem aos Orixás, seguindo a batida forte e penetrante dos atabaques, quando entraram primeiro as crianças trazendo as alianças e, logo em seguida, a noiva sendo conduzida por uma anciã. Com dificuldades, a noiva foi entregue ao noivo e teve início a cerimônia.
 
A juíza de Paz do Cartório do Registro Civil das Pessoas Naturais de Conceição do Coité deu início à cerimônia fazendo a leitura de uma poesia e, logo em seguida, tomou a declaração de vontade dos nubentes com relação a livre vontade de se casarem.
Foto: Robson Di Almeida
Em seguida, o Juiz de Direito da Vara Criminal de Conceição do Coité, Dr. Gerivaldo Neiva, convidado dos noivos, fez uma breve prelação destacando o privilégio dos que estavam participando da solenidade. “Primeiro, por se tratar de uma sexta-feira e dia de Oxalá; segundo, por se tratar da celebração de um casamento realizado no Terreiro de Candomblé, respeitando a tradição, cultura e princípios de uma religião de matriz Africana; terceiro, por se tratar de um ato de amor em momento que o mundo vive em guerra e que o Brasil atravessa momentos de intolerância religiosa, de ódio, de banalização da vida, fome e desesperança”, disse o juiz.
 
O magistrado concluiu dizendo que, “enquanto o mundo está em guerra e as pessoas se odiando e se matando no Brasil, aqui neste Terreiro de Candomblé, em Conceição do Coité, duas pessoas estão se casando e declarando respeito mútuo e amor eterno”.
Foto: Robson Di Almeida
Ao Calila Notícias, o Juiz Gerivaldo Neiva, visivelmente emocionado, observou que não tem conhecimento da realização de um casamento civil em outro Terreiro de Candomblé e que, além de prestigiar o casamento de amigos, gostaria que sua presença servisse para acabar com a intolerância religiosa, para promover a paz nas periferias, por respeito a juventude negra, por respeito à vida e pelo fim do preconceito com as religiões de matriz Africana.
Foto: Robson Di Almeida
O ato matrimonial contou também com a presença do Oficial do Cartório do Registro Civil de Coité, Fernando Sales, acompanhado dos servidores, assim como filhos e filhas de Santo de outros terreiros e Pai Galego de Oxôssi, Babalorixá de Terreiro de Candomblé na Fazenda Correia, em Conceição do Coité.
 
Do Calila Notícias

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do ICHU NOTÍCIAS.

Neste espaço é proibido comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Administradores do ICHU NOTÍCIAS pode até retirar, sem prévia notificação, comentários ofensivos e com xingamentos e que não respeitem os critérios impostos neste aviso.