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quinta-feira, 8 de setembro de 2022

INDEPENDÊNCIA OU MORTE! O grito que poucos ouviram.

Eis que o povo brasileiro, mais uma vez, comemora o 7 de setembro de 1822. Desta vez, de maneira bem efusiva, já que se trata do bicentenário da separação política /administrativa entre Portugal e Brasil.

Pedro I vinha de Santos. Ao seu encontro, despachos de Lisboa, solicitando seu retorno a Portugal. No mesmo pacote, recomendações de José Bonifácio e da princesa Leopoldina, pedindo que não obedecesse às ordens lusas. Era o contexto propício para ser proferido o brado simbólico da Independência, descrito, ilustrado e apresentado, muitos anos depois, através do famoso quadro de Pedro Américo: Independência ou Morte!  

Nos livros didáticos, principalmente os que seguem uma narrativa tradicional, positivista, há relatos que apresentam um Imperador enérgico, forte, destemido, capaz de matar ou morrer pela separação entre a metrópole (Portugal) e a Colônia (Brasil). Tudo ia sendo projetado para parecer real: nos discursos, nas pinturas, nas artes, na literatura. Assim, foi sendo construída e divulgada a simbologia daquele brado ocorrido próximo ao Ipiranga.  

Neste particular, vale lembrar Machado de Assis que, através do personagem Conselheiro Ayres, disse: as coisas só são previsíveis, quando já aconteceram.  

Apesar de repetido, reiteradamente, como um grito efusivo e heroico, não é mais aceitável adotar um discurso ingênuo. A separação política do jugo português ocorreu em um cenário bem diverso daquele retratado por pintores que trabalhavam atendendo ao gosto do freguês. D. João VI, apesar de ter deixado a antiga colônia com seu próprio filho, mais tarde coroado como Pedro I, exigiu uma caríssima recompensa em troca do reconhecimento da Independência.  

No interior do imenso território brasileiro, foram travadas diversas lutas, em algumas Províncias, como eram chamados os atuais Estados, com o intuito de consolidar a separação, visto que havia focos de resistências à ideia da Independência.

Um exemplo típico dessas insatisfações aparece nos versos criados para contestar a letra do Hino do Senhor D. Pedro I (atual Hino à Independência): “Cabra gente, brasileira / Do gentio de Guiné/ Que deixou as cinco chagas/ Pelos ramos de café”.  

Neste contexto, merece destaque outra data: 2 de Julho. Foi na Bahia, portanto, que se deu uma luta menos simbólica, pois envolvia armamentos, mortes, estratégias de guerra, diferente dos meros despachos contestados às margens do Ipiranga.  

No ensejo, passados duzentos anos do simbólico grito da Independência, restam muitas inquietações. Uma delas, pode ser assim anunciada: como ecoa, atualmente, aquele famoso grito do Ipiranga? Por certo, há várias respostas a este questionamento. Muitas delas, provavelmente, estão estribadas no saudosismo, outras na admiração pelos símbolos nacionais.  

Contudo, em tempos de discursos tão desconectados com os ideais de liberdade, vale registrar que, nestes 200 anos, após avanços e recuos, os brasileiros AINDA precisam refletir sobre um aspecto menos figurativo da Independência: a consolidação da Democracia.  

Qual o estágio da nossa Democracia? Assim como a Independência, a Democracia é construção diária, pessoal e, concomitantemente, coletiva. Uma Democracia estável, não pode preferir líderes que silenciam, ameaçam e agridem Instituições, inclusive a Imprensa. Afinal, o que garante o Estado Democrático de Direito é a Constituição. Nela e por ela, governantes e governados devem pautar suas decisões, suas crenças, suas escolhas e, coletivamente, podem e devem buscar os aperfeiçoamentos necessários.  

Que neste dia em que se celebra a separação administrativa de Portugal, também se faça ecoar a importância de uma nação democrática, cujo povo seja capaz de acolher todas as formas de manifestações, especialmente as divergentes, sejam de natureza política, religiosa, social, ética, epistêmica, social, afetiva ou moral.  

Democracia sempre!  

Carlos Carneiro de Almeida Historiador e Pedagogo.

Professor da Rede Estadual de Educação Ex Diretor do NTE 04 – Território do Sisal

Extraída do AL NOTÍCIAS

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