OP+ lança reportagem especial nesta quarta-feira, 5 de outubro, data do final da guerra de Canudos, em 1897. Em três episódios, a reportagem segue os passos de Antônio Conselheiro de Quixeramobim, no interior do Ceará a Canudos, no sertão da Bahia.
Moradores de Canudos presos durante ataque das forças do Exército (foto: Wikipedia) |
As versões da história se dividem, no entanto, desde os primeiros momentos. O jornal carioca Gazeta de Notícias registrou, quatro dias depois, a vitória das forças oficiais em Canudos: “Ainda ontem, como era de justiça (…) o honrado chefe da Nação recebeu inúmeras felicitações pela terminação gloriosa da Campanha de Canudos”.
Euclides da Cunha, militar que cobriu o desenrolar da guerra para o jornal paulista O Estado de S. Paulo, teve outra visão do desfecho: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores.”
Passados 125 anos do final do confronto que destruiu o arraial Belo Monte, numa campanha militar que durou oito meses, O POVO+ retoma o fio dessa história. Desta vez, segue os caminhos do líder de Canudos, Antônio Conselheiro e vê surgir um Antônio ressignificado e múltiplo, tanto para a história como para a cidade de nascimento do personagem, Quixeramobim, a 184 km de Fortaleza.
A saga de Canudos em três episódios
A reportagem “Canudos, 125 anos: a saga de Antônio Conselheiro”, lançada nesta quarta-feira, 5 de outubro, no OP+, será dividida em três episódios. No primeiro, OP+ parte de Quixeramobim, terra de Conselheiro, visita a casa onde nasceu Antônio Vicente Mendes Maciel, em março de 1830, e viveu até pouco mais dos 20 anos.
Antonio Conselheiro morto (Foto: Flávio de Barros) |
De acordo com o historiador Danilo Patrício e o psicanalista Osvaldo Costa Martins, curadores da exposição, a ideia central dos trabalhos é resgatar como o legado de Antônio Conselheiro dialoga com a realidade brasileira hoje, além de revelar a atualidade do líder que, por quase um século, foi silenciado. Danilo e Osvaldo foram também criadores do Movimento Antônio Conselheiro, em 1997, iniciativa que hoje é vista como uma das responsáveis pela reaproximação entre Conselheiro e Quixeramobim.
No segundo episódio, que ficará disponível no OP+ a partir do dia 11 de outubro, a reportagem apresenta o percurso histórico de desconstrução e reinvenção dos discursos em torno de Antônio Conselheiro.
De “fanático, bronco e perigoso monarquista” surge, junto com a recuperação e edição dos seus manuscritos, no final da década de 1980, um Conselheiro culto, capaz de interpretar o Brasil em transição monárquica e que pratica uma religiosidade que o transforma num verdadeiro “heroico homem comum”, como afirma o psicanalista e pesquisador dos manuscritos, Otávio Martins.
O terceiro episódio, que será publicado dia 17 de outubro no OP+, narra o encontro que une Quixeramobim a Canudos, misturando passado e presente da história do arraial e seu líder. Uma romaria anual refaz os passos do andarilho desde que ele deixou o Ceará e fundou Belo Monte. No percurso, OP+ visita obras de Conselheiro, conversa com canudenses que têm como herança a história do homem que assustou a nova república nacional reunindo contra si a elite, a igreja, o Estado e a imprensa da época.
Documentário e guerra ilustrada por Carlus Campos
A reportagem traz ainda um vídeo produzido pela equipe de Audiovisual do O POVO e ilustrações do artista gráfico do O POVO, Carlos Campus, que concebeu a “Guerra de Canudos em nove atos”, baseando-se numa estética inspirada no expressionismo e na xilogravura.
No trabalho do artista chama a atenção o espanto no olhar do personagem representado por Carlus. “Esse espanto no olhar de Antônio Conselheiro, para mim, vai muito além da religiosidade. Ele é um personagem muito forte e muito rico”, afirma o artista, que já esteve várias vezes às voltas com o Conselheiro tanto para o jornalismo, como em trabalhos para exposições. “Eu gosto de fazer o Conselheiro, pela figura que ele significa e a cada vez que eu o faço, acrescento outras leituras pessoais ao personagem”, conta o artista.
Para a diretora e roteirista do documentário “Antônio Conselheiro, de Quixeramobim a Canudos”, Luana Sampaio, a experiência de mergulhar no mundo de Antônio Conselheiro “foi um presente”. Segundo ela, o vídeo mostra que “a cooperação entre as pessoas pode mudar realidades e nos aproximar de uma existência mais justa”, que se traduz na prática de Antônio em Belo Monte. “Apresentamos depoimentos fortes sobre a caminhada de Conselheiro e a presença da sua memória em Quixeramobim, bem como a resistência de suas ideias em forma de arte e inquietude”, conclui Luana Sampaio.
Fonte: O Povo
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