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segunda-feira, 13 de março de 2023

Famílias do MST ocupam fazenda e denunciam ameaças na Bahia

Integrantes do movimento afirmam que terra estava abandonada, mas herdeiros negam
Cerca de 170 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam uma fazenda, na madrugada deste domingo (12), localizada no município de Macajuba, na região da Chapada Diamantina. Segundo o movimento, a área de 1.400 hectares está abandonada há muitos anos e sem cumprir sua função social.

Na tarde desta segunda (13), um grupo de fazendeiros se mobilizou para remover os sem-terra da Fazenda Recreio. Integrantes relatam que os fazendeiros ameaçam invadir a área ocupada pelas famílias e atear fogo nos barracos, como tentativa de expulsá-las do local. Policias Militares estiveram no local acompanhando a ocorrência.  

“Há mais de 20 anos o dono desta fazenda morreu e onze herdeiros brigam na justiça para organizar a documentação desta fazenda, mas já são anos de abandono. Então, o MST ocupou esta fazenda. Um grupo de fazendeiros, que tem se mobilizado desde Jacobina, tentou desmoralizar o MST e hoje foram até o local para tentar retirar o movimento à força sem o mandado de reintegração de posse”, relatou Abraão Brito, dirigente do MST na Bahia.  

As famílias do movimento tomaram a decisão de não sair do local, conta Abraão, acrescentando que a Polícia Militar montou uma barreira para impedir os fazendeiros de entrar. “Vamos tentar um diálogo para organizar o nosso povo e não vamos permitir que os fazendeiros nos tirem de lá como fizeram em Jacobina.”  

Em áudios que circulam nas redes sociais, fazendeiros locais afirmam irão se “reunir para tirar eles (sem-terra) de lá”. Em outro áudio, um produtor fala que é preciso cobrar as autoridades para que elas se manifestem “em defesa da propriedade privada, em defesa do que é nosso. Nós não estamos lutando por nada de extraordinário, estamos lutando por aquilo que é de nosso direito, que foi uma conquista nossa, uma conquista de nossos pais e avôs. E a gente não pode, de maneira nenhuma, recuar neste momento”. A mobilização foi marcada para ter início às 15 horas desta segunda.  

Apesar de não haver relatos de mobilização armada entre os fazendeiros, o MST afirma que jagunços e homens armados estariam ameaçando as famílias do movimento. Procurada, a Polícia Militar informou que policiais do 11º BPM foram acionados via Cicom com a informação de que um grupo de pessoas teria invadido uma propriedade rural no município de Macajuba.  

“Policiais do 11º BPM, da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/Rondesp Chapada e da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Chapada reforçam o policiamento na região”, declarou a corporação.  

Para dirigente Estadual do MST na Regional Chapada Diamantina, Simone Souza, a ocupação faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Sem Terra. “Ainda estamos em um mês de luta e defendemos o direito à terra, a produção de alimentos saudáveis e comida na mesa do povo, pois a fome atinge 30% da população brasileira e 60% estão com insegurança alimentar. Continuaremos denunciando a violência contra a classe trabalhadora, contra indígenas, contra negros e negras e mulheres,” afirma Simone, acrescentando que no mês de Março terá muitas lutas das mulheres na Chapada Diamantina.  

Ocupações na Bahia 

No final de fevereiro, integrantes do MST ocuparam três fazendas de monocultivo de eucalipto, da empresa Suzano Papel e Celulose, radicadas nos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no Extremo Sul da Bahia. Também foi ocupada a Fazenda Limoeiro, situada no município de Jacobina, indicada como abandonada há 15 anos pelo MST, embora a declaração tenha sido negada pelo proprietário.  

As áreas ficaram ocupadas até a última semana, quando foram cumpridos os mandados de reintegração de posse expedidos pela Justiça da Bahia.  

Segundo os sem-terra, as áreas foram ocupadas como forma de cobrar um compromisso feito pela multinacional papeleira de dispor terras para assentar 650 famílias na região.  

O MST informou ainda que a reintegração de posse ocorreu de forma pacífica e foi acompanhada pela Assistência Social, muitos policiais militares (CAEMA) e pelos seguranças da empresa. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais que sofreram o despejo seguiram para acampamentos vizinhos.


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