Sem dizer o que quer, de onde veio e para onde vai, um casal de forasteiro se alojou desde o último dia 03 de outubro no centro da cidade de Riachão do Jacuípe, na região sisaleira do estado, e vem deixando a população apreensiva.
Alojados na Rua J. J. Seabra, uma das mais tradicionais da cidade, o casal vem chamando a atenção tanto pelo comportamento estranho e atípico quanto pelo período em que permanece no mesmo local, sem que as pessoas saibam qual a sua real situação.
A nova morada do casal fica a cerca de 70 metros da Prefeitura Municipal, a 40 da casa de uma promotora da cidade e a 200 para o Batalhão da Policia Militar.
Neste domingo, por volta do meio dia, a reportagem do Interior da Bahia se aproximou do casal. Jony Clayton Gochomoto Hauamani e Maria do Carmo Viana Vasco (mas tratada por Carmem) estavam deitados, mas, com a nossa chegada, Jony se levantou.
De inicio, tivemos de usar alguns truques de comunicação para justificar a nossa presença no “lar” alheio e não dar espaço para uma possível reação. Junto ao casal, uma pedra solta, no chão, anunciava uma arma para um eventual ataque inimigo.
“Boa tarde, tudo bem? Sou jornalista e gostaria de ter uma conversa rápida com vocês, seria possível? disse, meio temeroso com a resposta, mas bem próximo para encurtar o seu poder de movimento e demonstrar a minha boa intenção.
“Você é jornalista? Que bom, cara”, respondeu sarcasticamente, mas sem me dar muita guarida. Insisti. E aí, vocês tem sentido muito frio aqui? Perguntei, já tentando quebrar o gelo inicial e avançar na conversa. “Faz frio no mundo?”, indagou Jony, ironicamente.
Enfim, senti que já poderia avançar um pouco mais e tirar algo daquele casal estranho. Ao perguntar o que mesmo eu desejava, propus-lhe faze ao menos cinco perguntas, no que ele concordou, mas condicionando que lhe pagasse R$ 2,00, alegando que estava precisando.
“Mas jornalista não tem dinheiro”, argumentei. “Não, não. Se você der os R$ 2,00, tudo bem, senão, nada feito, cara”, reforçou. Ao seu lado, a sua companheira – descobri que o seu nome é Carmem – sorria constantemente, mas não descobri o motivo.
Perguntas
Como é que é o seu nome completo?, indaguei: “Jony Clayton Gochomoto Hauamani”, respondeu; De onde vocês vêm: “São Paulo”, disse;
Está indo para onde: “Estou indo para Juazeiro (do Norte) ou Quixadá, vai depender de uma resposta”, disse, pondo mais mistério. No Ceará? indaguei: “Isso”, respondeu.
E vocês estão fazendo o quê, aqui: “Estamos de férias”, colocou Jony.
Foi então que lhe fiz umas três perguntas em uma para tentar confundi-lo. Vocês estão com algum problema, as pessoas tem ajudado vocês, pretendem ir embora quando?
“Você quer que eu responda qual mesmo, cara? Já completaram as cinco perguntas. Agora só com mais R$ 2,00”, exigiu Jony. “Meu pai é peruano e minha origem, você é inteligente, já sabe”, disse, ignorando as outras perguntas.
E foi só o que eu consegui tirar no domingo. Jony demonstrou muita habilidade com as palavras e equilíbrio nas respostas. Durante a conversa, provocado por um morador de uma rua próxima que passava na hora, falou inglês fluentemente e ainda arranhou o japonês.
Tentei levar a conversa adiante, mas logo percebi ele de olho fixo na companheira, já deitado, sem sequer olhar para mim. E para mostrar que a minha presença estava incomodando, levantou-se e saiu, deixando Carmem sozinha.
Com isso, me toquei e apressei a minha saída. “Não, pode ficar, eu vou embora”, disse-lhe. Mas, ainda assim, ele saiu caminhando pela J. J. Seabra. Foi então que entrei no carro e o acompanhei, oferecendo carona. Queria uma foto de perto. Gritei o seu nome e ele olhou. Pronto.
Opiniões diferentes
Os vizinhos parecem divididos sobre a permanência e o que representa o casal na rua J. J. Seabra. Uma senhora que mora em frente à árvore onde eles estão alojados tem dado comida e até agasalhos, e outra lhes abre as portas para o banho. Outros, já olham com mais desconfiança.
No domingo, uma moradora da J. J. Seabra viu um carro verde, placa de São Paulo, parar e “ficar conversando” onde os dois estão alojados. “Sei não, achei muito estranho esse carro com placa de São Paulo parar logo ali”, disse a moradora, assustada. “Acho que eles têm fumado maconha ali”, reforçou outro morador da vizinhança.
Em outros bairros da cidade, ao tomar conhecimento, as pessoas também acham que tem algo estranho. “Com a história desse carro, ou eles tem envolvimento com droga, ou querem roubar uma criança ou podem estar tramando um assalto a banco”, disse uma pessoa de um bairro diferente.
“São sacizeiros (pessoas que se envolvem com drogas). Eles me pediram para eu ir buscar maconha debaixo da ponte nova, mas eu não fui. Vá você buscar sua desgraça, eu disse a ele”, revelou uma pessoa da cidade, no sábado à noite, que rondava o casal.
“Como é que pode uma coisa dessas no centro da cidade e ninguém toma providências?", disse outra moradora do bairro Asa Branca. “Ele pode ser um policial federal e estaria só se disfarçando”, disse outro, com uma versão totalmente diferente.
Por mais que as pessoas fiquem assustadas, Jony e Carmem pouco a pouco parecem superar o mistério que os cerca. Nesta segunda-feira (10), estavam mais acessíveis e nossa reportagem voltou para obter mais informações. Se é verdade ou não, descobrimos que Jony foi cabeleireiro durante 24 anos e tem a arte da pintura.
Enfim, a presença do casal Jony e Carmem em Riachão tem deixado a população apreensiva e curiosa. Os dois pode não representar nada do que a maioria das pessoas está pensando, mas uma coisa ninguém pode duvidar: eles são, no mínimo, enigmáticos. Ou melhor, misteriosos.
Por: Evandro Matos Fonte: Interior Da Bahia