Segundo estimativas das Nações Unidas, nesta semana (Possivelmente hoje 31) a população mundial atingirá 7 bilhões de pessoas. Como os censos são pouco frequentes e incompletos, ninguém sabe a data precisa – o Census Bureau coloca a data em março do próximo ano _, mas não há dúvidas de que a humanidade se aproxima de um marco.
O primeiro bilhão de pessoas se acumulou ao longo de um longo intervalo, das origens dos humanos, há centenas de milhares de anos, ao começo dos anos 1800. O segundo bilhão levou mais 120 anos. Então, nos últimos 50 anos, a humanidade mais que dobrou, passando de 3 bilhões em 1959, a 4 bilhões em 1974, 5 bilhões em 1987 e 6 bilhões em 1998. Este índice de aumento populacional não tem precedente histórico.
Será que a Terra pode suportar 7 bilhões agora e os 3 bilhões de pessoas que, como se espera, serão acrescentadas até o final deste século? Será que os grandes aumentos no número de lares, cidades, consumo de material e lixo são compatíveis com a dignidade, saúde, qualidade ambiental e saída da pobreza?
Para alguns no Ocidente, o maior desafio – porque é o menos visível – é descartar a visão de que muitas pessoas representam poder e prosperidade.
Essa visão foi fomentada ao longo dos milênios, pelo pró-natalismo da Bíblia hebraica, pelo Império Romano, pela Igreja Católica Romana e por pensadores árabes como Ibn Khaldun. Mercantilistas do século 16 ao século 18 consideravam uma população em crescimento como aumento da riqueza nacional: mais trabalhadores, mais consumidores, mais soldados. Aumentar a força de trabalho reduz os salários, aumentando o superávit econômico disponível para o rei: ''O número de pessoas faz a riqueza dos estados’', disse Frederico, o Grande.
No final do século 19 e começo do século 20, o pró-natalismo adquiriu uma ilusória aura científica a partir do darwinismo social e da eugenia. Até hoje, alguns economistas argumentam, equivocadamente, que o crescimento populacional é necessário para o crescimento econômico e que a África é pouco povoada. Essa visão fazia algum sentido para sociedades sujeitas a uma mortalidade catastrófica devido à fome, pragas e guerras. Mas a ideia não é mais válida agora que o consumo humano, e a poluição, nos espreita em todo o mundo.
Hoje, enquanto muitas pessoas rejeitam a equação de número de pessoas e poder, continua sendo algo desagradável, quando não suicida, que líderes políticos admitam que os Estados Unidos e a Europa não precisam crescer suas populações para prosperar e serem influentes, e que países ricos deveriam reduzir seus índices de gravidez indesejada e ajudar os países pobres a fazer o mesmo. Com a globalização do mercado de trabalho, os incentivos para os detentores de capital hoje para ignorar ou não lidar com o rápido crescimento no número de pobres continuam os mesmos da época dos reis: menores salários para trabalhadores de qualquer nível de capacitação oferecerem maior superávit econômico.
Porém, assim como o pró-natalismo é injustificado, também são as sombrias – e desacreditadas – profecias de Thomas Malthus e seus seguidores, que acreditavam que o aumento populacional levaria a uma inanição em massa.
Na verdade, o mundo é fisicamente capaz de alimentar, dar abrigo e enriquecer muito mais pessoas no curto prazo. Entre 1820, no inicio da era industrial, e 2008, quando a economia mundial entrou em recessão, a produção econômica por pessoa aumentou 11 vezes.
A expectativa de vida triplicou nos últimos milênios, atingindo uma media global de quase 70 anos. O número médio de filhos por mulher caiu no mundo todo para cerca de 2,5 hoje, contra 5 na década de 1950. A população mundial está crescendo a 1,1 por cento ao ano, metade do índice de pico da década de 1960. A desaceleração da taxa de crescimento permite que famílias e sociedades foquem no bem-estar de seus filhos, em vez da quantidade.
Quase dois terços das mulheres com menos de 50 anos que são casadas ou estão em algum tipo de união usam alguma forma de contraceptivo, que salva a vida de mães que em outras circunstâncias morreriam no parto, e evitam milhões de abortos a cada ano – uma conquista que tantos os defensores quanto as pessoas que condenam o aborto podem comemorar. Mas também há muitas más notícias. Quase metade do mundo vive com 2 dólares por dia, ou menos. Na China, o número é de 36 por cento da população; na Índia, 76 por cento. Mais de 800 milhões de pessoas moram em favelas. Um número similar de pessoas, a maioria mulheres, é de analfabetos.
De 850 milhões a 925 milhões de pessoas já passaram por insegurança alimentar ou má nutrição crônica. Em grande parte da África e do sul da Ásia, mais da metade das crianças têm peso abaixo do normal para sua idade como resultado da fome crônica. Embora o mundo tenha produzido 2,3 bilhões de toneladas de grãos entre 2009 e 2010 – calorias suficientes para sustentar de 9 a 11 bilhões de pessoas _, apenas 46 por cento dos grãos foram para as bocas de seres humanos. Animais domésticos receberam 34 por cento da produção e 19 por cento foram destinados a usos industriais, como biocombustíveis, amidos e plásticos.
Das 208 milhões de gestações em 2008, cerca de 86 milhões foram não intencionais e resultaram em 33 milhões de nascimentos indesejados. E os nascimentos não desejados não são todo o problema. Os contraceptivos são gratuitos no Níger desde 2002, onde a taxa de fertilidade total – mais de 7 filhos por mulher em meados de 2010 – é a mais alta do mundo. As mulheres do Níger se casam em média aos 15,5 anos de idade. Em 2006, as mulheres e os homens casados relataram desejar uma média de 8,8 e 12,6 filhos, respectivamente.
As demandas humanas sobre a Terra cresceram enormemente, embora a atmosfera, os oceanos e os continentes não sejam maiores hoje do que quando os humanos evoluíram. Mais de 1 bilhão de pessoas já vivem sem fornecimento adequado e renovável de água fresca.
Cerca de dois terços da agua são usados para a agricultura. No próximo meio século, com o crescimento da renda, as pessoas tentarão comprar mais produtos agrícolas, que exigem mais água. Cidades e indústrias irão demandar três vezes mais agua em países em desenvolvimento. Gerenciadores de bacias hidrográficas irão cada vez mais querer limitar o desvio de água de rios para manter áreas inundadas, fazendo com que os peixes migrem, reciclando matéria orgânica e mantendo a qualidade da água.
Projeta-se que a escassez de água será significativa no norte da África, Índia, China, partes da Europa, leste da Austrália, oeste dos Estados Unidos e em outros lugares. As mudanças climáticas aumentarão a agua disponível para a agricultura na América do Norte e na Ásia, mas reduzirão o recurso na África, América Latina e Caribe. Histórias similares podem ser contadas sobre a terra, pesca exagerada e emissões de carbono e nitrogênio na atmosfera. Aonde isso vai nos levar? O próximo meio século terá grandes mudanças no equilíbrio geopolítico dos números, maiores reduções no número de filhos por mulher, lares menores (mas mais numerosos), uma população cada vez mais idosa, e cidades crescentes e numerosas.
A Divisão de População da ONU antecipa 8 bilhões de pessoas até 2025, 9 bilhões até 2043 e 10 bilhões até 2083. A Índia terá mais pessoas do que a China logo depois de 2020 e a África subsaariana terá mais pessoas do que a Índia antes de 2040. Em 1950, havia quase três vezes mais europeus do que africanos subsaarianos. Em 2010, havia 16 por cento mais africanos subsaarianos do que europeus. Até 2100, de acordo com a Divisão de População, haverá quase 5 africanos subsaarianos para cada europeu.
De alguma maneira, o crescimento do número de pessoas importa menos do que o crescimento do número de lares. Se cada lar possui sua própria geladeira, ar condicionado, TV e carro, a demanda média de energia para determinado número de pessoas sobe à medida que o número médio de pessoas de um lar se reduz.
Espera-se que a população urbana em países em desenvolvimento cresça em 1 milhão de pessoas a cada cinco dias até pelo menos 2030, enquanto a população rural cai. Muitas cidades abocanharão terras primordialmente agrícolas a não ser que cresçam em densidade, não em extensão. E quase metade do crescimento populacional urbano até 2015 ocorrerá em cidades com menos de meio milhão de pessoas.
A revolução do envelhecimento que se aproxima está a caminho nos países mais desenvolvidos. Ela será global no próximo meio século. Em 1950, para cada pessoa com 65 anos ou mais, havia mais de 6 crianças com menos de 15 anos.
Em 2070, os idosos superarão as crianças com menos de 15 e haverá apenas 3 pessoas em idade economicamente ativa (de 15 a 64 anos) para cada duas pessoas com 15 anos ou menos ou 65 anos ou mais. As pressões para estender a 'idade economicamente ativa’ para além dos 65 ficarão mais intensas.
Será que o desenvolvimento econômico é o melhor contraceptivo? Ou a contracepção voluntária é a melhor forma de contracepção? O mundo precisa de um bolo maior (mais tecnologias produtivas) ou menos garfos (crescimento populacional mais lento via contracepção voluntária), ou bons modos (menos desigualdade, menos violência e corrupção, livre mercado e mobilidade, mais ordem da lei, menos consumo intenso de materiais)? Ou será que a educação de melhor qualidade e mais disponível é um ingrediente essencial para todas essas estratégias? Todas essas abordagens têm valor. No entanto, por mais que gostemos de uma, não existe panaceia, embora algumas prioridades estejam claras: contracepção voluntária e serviços de apoio, educação primária e secundária universal, e comida para mulheres grávidas e lactantes e crianças com menos de 5 anos.
Essas prioridades se reforçam entre si, e são acessíveis. Oferecer métodos de planejamento familiar modernos para todas as pessoas que passam algum tipo de necessidade custa cerca de US$ 6,7 bilhões por ano, um pouco menos que os US$ 6,9 bilhões que os americanos devem gastar no Halloween este ano.
De acordo com uma estimativa, alcançar a educação primária e secundária universal até 2015 custaria entre US$ 35 bilhões e US$ 70 bilhões em gastos adicionais por ano.
Se gastarmos nossa riqueza – nosso capital material, ambiental, humano e financeiro – com mais rapidez do que o aumentamos com poupança e investimento, deslocaremos os custos da prosperidade que alguns desfrutam hoje para as futuras gerações. O desencaixe entre incentivos de curto prazo que guiam nossas instituições políticas e econômicas, e até mesmo nossas famílias, por um lado, e nossas aspirações de longo prazo, por outro, é grave.
Devemos aumentar a probabilidade de que toda criança nascida seja desejada e cuidada, e tenha perspectivas decentes de ter uma boa vida. Devemos conservar, e usar com mais inteligência, a energia, água, terra, materiais e diversidade biológica que tivemos a bênção de ter.
Portanto, precisamos medir nosso crescimento em prosperidade: não pelo simples número de pessoas que habitam a Terra, e não por medidas falhas como PIB, mas pela forma como satisfazemos as necessidades humanas básicas; pela forma como fomentamos a dignidade, a criatividade, a comunidade e a cooperação; pela forma como cuidamos de nosso ambiente biológico e físico, que é nosso único lar. The New York Times News Service/Syndicate - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times. (MSN.COM)