A Guerra do Rio
Reagindo à política de pacificação das favelas, os traficantes retomaram os ataques a alvos civis na cidade
As cenas de ataques criminosos e da reação do estado que dominam o noticiário sobre o Rio nos últimos dias são apenas mais uma na longa lista de batalhas entre a polícia e o crime organizado no Rio. Desta vez, o que motivou os bandidos foi a onda de ocupação de favelas pelas Unidades de Polícia Pacificadora, as UPPs, carro-chefe da política de segurança pública do Estado.
O campo de batalha agora é no complexo do Alemão:
As imagens da fuga de traficantes da Vila Cruzeiro em direção ao Complexo do Alemão são ricas em informação para a polícia. Quem garante é o capitão reformado do Bope Paulo Storani, hoje consultor de segurança. Como avalia o policial, a romaria de bandidos pela mata mostra que estavam certas – e talvez até subestimadas – as suposições de quantidade de homens e armas em poder dos bandidos naquela área da cidade.
O que se viu na TV, graças às sofisticadas câmeras do helicóptero da TV Globo, dá uma ideia do cenário que aguarda a polícia no Alemão. “Historicamente, o Alemão, bem maior, sempre teve o dobro de traficantes da Vila Cruzeiro. Se hoje assistimos à fuga de cerca de 300 homens do Cruzeiro, podemos supor que há pelo menos 900 bandidos entrincheirados no momento no Alemão”, avalia Storani, que, como ‘caveira’ – denominação dos policiais do Bope – aprendeu a conhecer e respeitar a geografia e o poder de fogo das duas favelas.
“Uma das características do Alemão é a grande quantidade de vias de acesso. A polícia vai precisar de um efetivo muito grande para conseguir encurralar os criminosos naquele local”, alerta. A estratégia dos bandidos, que também enfrentam problemas com essa diversidade de opções de acesso, deve ser a de bloquear ruas, criar armadilhas para os veículos blindados e concentrar homens armados em poucos pontos estratégicos.
Fuzis – Storani usa a experiência que teve no Batalhão de Operações Policiais Especiais para estimar também o armamento em poder dos traficantes. “Pelas imagens da Globo, vimos que a proporção é de quase um fuzil por homem. Se temos quase mil homens concentrados na favela, e considerarmos que 80% a 90% deles têm fuzis, é um arsenal como a polícia nunca enfrentou”, acredita o policial, que prevê um confronto difícil para a polícia: “A população pode se preparar para assistir a um dos confrontos mais duros da história do Rio.”
A possibilidade de uma incursão entre a noite de hoje e a madrugada de sexta-feira é remota. Atuar em becos, em áreas repletas de casas, com pouca luminosidade, seria expor a um risco excessivo os policiais e, principalmente, os moradores.
Ocupação permanente – A polícia não anunciou oficialmente a criação de uma UPP na Penha, mas a ocupação da Vila Cruzeiro – anunciada pela Polícia Civil no início da noite de hoje – será permanente. “Recuar, neste momento, seria colocar todo um trabalho a perder e abrir possibilidade para um retorno daqueles traficantes”, explica Storani.
O Complexo do Alemão viveu, há quatro anos, uma das batalhas mais sangrentas da história do combate ao tráfico. No início do governo Sérgio Cabral, uma ação da Polícia Civil, com 300 homens, terminou com um saldo oficial de 19 mortos – com suspeita de mais óbitos, sem registro oficial. A favela é também uma das áreas mais pobres e abandonadas da cidade.
Com informação da veja.com