Na imprensa, só se fala na tragédia numa escola no Rio de Janeiro, onde um atirador matou 12 alunos, feriu outros mais, e acabou morto. Divulgou-se trechos de sua carta de despedida, cheia de sinais de perturbação mental e fanatismo religioso; abriu-se os microfones para o depoimento de diversas crianças, que foram poupadas na tragédia. Psiquiatras, psicólogos, sociólogos, todos querem dar sua opinião.
Eu quero expressar meu olhar sob outro ângulo: quando o menino Wellington se transformou num frio assassino?
O menino da foto que estampa esse artigo é o Wellington. Um menino comum, como tantos outros meninos. Olhe bem para ele: bem poderia ser meu filho, seu filho, o filho do vizinho, o amiguinho dos nossos filhos. Antes de ser menino, foi um bebê lindo - pois todos os bebês são lindos, eu que o diga, que tenho um de dez meses. O bebê Wellington, adotado por uma família, com certeza tinha suas crises de choro, mas também esboçava sorrisos e enchia o ambiente de alegria enquanto tentava articular as primeiras palavras, ou dar os primeiros passos. O bebê Wellington pode ter gerado ciúmes nos irmãos mais velhos, como ocorre em qualquer família quando nasce um bebê, mas esses ciúmes não impediam seus irmãos de o acharem lindo e engraçadinho.
O bebê, com o passar do tempo, tornou-se um menininho como tantos outros, que ia à escola e era alvo de piadas de mau gosto, como é comum entre as crianças, mas que também tinha seus momentos lúdicos, de brincadeiras, de sonhos, de pequenas alegrias. Talvez sonhasse em se tornar bombeiro ou médico quando crescesse, e enquanto isso vestia esses personagens em suas brincadeiras com os amigos.
Enfim, quando o menino deu lugar ao assassino?
A Bíblia diz que o diabo vem para matar, roubar e destruir. Ele mata nossos sonhos de infância, rouba nossa inocência, destrói nosso futuro. Décadas atrás, com 12 anos se brincava de boneca e jogava bola na rua. Hoje, com 12 anos alguns já são até pais e mães, outros estão totalmente viciados em drogas e marginalizados. O diabo está agindo cada vez mais rápido.
E o que a Igreja tem feito em relação a isso?
Quase nada. Afinal, a prioridade de muitas denominações é aumentar as arrecadações de dízimos e ofertas para reformar o templo-sede e abrir novas filiais em locais onde já existem outras igrejas, aumentando a concorrência do mercado da fé e o salário de seus líderes. O cuidado com os órfãos e viúvas, com as crianças e os necessitados, é tido como um problema do Estado, não das igrejas.
E assim o diabo continua livre, leve e solto para transformar Wellingtons em assassinos. E isso tem sido fácil, tanto que as prisões estão super-lotadas.
Que Deus proteja nossas crianças, para que elas se tornem adultos saudáveis, já que essa tarefa a maioria das igrejas não quer tomar para si. Que nossas crianças, pelo cuidado e misericórdia do nosso Deus, se tornem adultos que ainda sejam como crianças, pois dessas é o Reino dos Céus.
***
Vera Siqueira é colunista no Púlpito Cristão